Ecopista do Sabor
Na Rota da Terra Fria - 1.ª Jornada: Duas Igrejas-Miranda do Douro a Carviçais, 73.68 km
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Fig1: Antiga Estação Ferroviária de Duas Igrejas Edifício passageiros |
Trás-os-Montes e Alto Douro, mais especificamente a aldeia de Duas Igrejas, no concelho de Miranda do Douro, foi o destino da rota previamente traçada, na qual o grupo de protagonistas saídos da malta do costume, um elenco constituído pelo Manuel Cordeiro, João Neves, Gustavo Baeta, JP Simões e AJ Soares, que vos risca estas letras, foi pedalando e vivendo estórias divertidas, em duas jornadas perfeitas pelo planalto transmontano.
Já pertinho do final da tarde a totalidade do
grupo encontrou-se, finalmente, na Associação Cultural Pauliteiros de Miranda, local de encontro com o Sr. Carlos Pera, Presidente da Junta de Freguesia de
Duas Igrejas, que amavelmente nos autorizou a pernoitar no salão da Associação, e ao qual agradecemos a pronta disponibilidade. Um bem-haja Sr.
Carlos, um bom amigo que conhecemos em terras transmontanas, a quem o grupo
ficou indubitavelmente reconhecido.
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Fig.2: Ecopista do Sabor |
Com um frio de rachar, pernoitar no salão multiusos da
Associação de Pauliteiros veio mesmo a calhar. No entanto, com cinco roncadores a dormir no mesmo
espaço, imaginem, caros leitores, a sinfonia, que para ali reinava!!! De sono
fácil e tranquilo não serei talvez a pessoa indicada para descrever o fabuloso
concerto musical! Houve, no entanto,
quem, não logrando dormir, fosse forçado a apreciar por muito tempo a
harmoniosa melodia de “ressonares” diversos, firmemente desperto.
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Fig.3:Antiga Estação Ferroviária de Sendim Edifício passageiros |
Pelas 07.00h já o Manuel andava de volta da granola, do iogurte e das bananas, contudo teria ainda de aguardar pelas 09:00h, altura em que nos atirámos finalmente ao café e às torradas, preparadas na Associação dos Pauliteiros. Após os indispensáveis preparativos da viagem, demos início à dupla jornada a pedal pela antiga linha ferroviária do Sabor, com início na antiga estação de Duas Igrejas, assinalava o relógio as 09:35h.
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Fig.4:Antiga Estação Ferroviária de Urrós |
A antiga estação ferroviária de Miranda do Douro, situada em Duas Igrejas, topo e término da Linha do Sabor, foi inaugurada a 22 maio de 1938 e conheceu o seu dia mais triste, precisamente a 1 de agosto de 1988, data do seu encerramento. Esta data insere-se numa década que deu início ao encerramento sucessivo de várias estações e linhas regionais por todo o país, décadas de triste memória, marcadas pelo galopante declínio do serviço ferroviário no país, vítima de falta de investimento, por ausência de visão estrutural e políticas erráticas e a favorecer grupos e interesses para os quais era mais conveniente canalizar fundos estruturais, tendo como consequência inevitável o arrastar do país para um atraso civilizacional com danos irreparáveis e custos imprevisíveis.
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Fig.5:Antiga Estação Ferroviária de Mogadouro Edifício passageiros |
Na antiga estação destaca-se o edifício de passageiros, com fachadas de dois pisos, que evidencia na fachada principal os nove painéis de azulejos figurativos policromos, de Gilberto Renda, alusivos a monumentos e actividades agrícolas da região, que formam silhar. Na guarda da janela de sacada destaca-se um painel com escudo de Portugal onde se pode ver ainda a inscrição: "CAMINHOS DE FERRO DO ESTADO". A fachada lateral esquerda, virada a sudoeste, tem um painel toponímico azul, a lateral direita ostenta quatro painéis de azulejos figurativos policromos e um painel toponímico azul e a fachada posterior, virada a noroeste, tem seis painéis de azulejos figurativos policromos. O piso térreo destinava-se às funções ferroviárias e ao público e o segundo a residência do chefe da estação.
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Fig.6:A pedalar para Vilar de Rei |
A ligação ferroviária do Sabor era feita em via estreita, entre a estação do Pocinho, na Linha do Douro e a estação de Duas Igrejas em Miranda do Douro. Após a sua desactivação a linha foi abandonada tendo o seu património sido progressivamente pilhado e delapidado. O canal da linha que ainda resta deu lugar a uma magnífica Ecopista que agora experimentámos percorrer e, malgrado o frio que nesta manhã se fazia sentir, o pedalar, tudo faz esquecer.
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Fig.7: Em Quinta das Quebradas |
O gozo de pedalar no percurso em macadame pelo canal da antiga linha que atravessa a área protegida do Parque Natural do Douro Internacional, podendo desfrutar de uma envolvente cénica fantástica, circundados por enormes extensões de cultivo de cereais, olival tradicional e montados de sobro. Embora de mais difícil observação, para quem pedala, assinale-se também a existência na região de uma ímpar variedade biológica.
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Fig.8: Entre Quinta das Quebradas e Estevais |
Já a antiga estação ferroviária de Sendim, com o conjunto de edifícios também inaugurados em 1938, embora mais modestos, seguem o mesmo estilo arquitectónico, preservando o edifício de passageiros, o cais coberto fechado, o edifício das instalações sanitárias e um edifício de habitação em irrepreensível estado de conservação e ainda o depósito de água.
O edifício das instalações sanitárias, reabilitado como os demais, encontra-se ao serviço de quem usufrui da Ecopista, assim como dos utilizadores em geral e está situado a meia dúzia de metros a sul do edifício de passageiros, ostentando nas paredes exteriores silhar de azulejos de padrão policromo.
Depois de Sendim continuámos a pedalar pelo planalto transmontano, seguindo
em direcção a Mogadouro através da N221. Apenas em breves ocasiões retomámos o
canal da antiga linha, como aconteceu no momento da confluência no cruzamento
para Urrós e Bemposta, onde nos deparámos com o que resta do edifício do antigo
apeadeiro de Urrós, barbaramente vandalizado e delapidado. A velha e inocente
questão pode sempre colocar-se: como é possível os altos responsáveis,
decisores políticos, deixarem este estado de coisas acontecer?!
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Fig.9: Quintada Estrada |
Após a passagem na pequena povoação de Santiago continuámos a pedalar pela estrada N221 rumo a nova visita e a mais uma paragem numa estação sem vida. Na freguesia de Vila de Ala, junto ao enorme silo cerealífero da extinta EPAC, encerrado por força do declínio da produção cerealífera nesta região do país, ocorrida na última metade do século passado, que constituiu também uma das razões para o progressivo e definitivo encerramento da linha ferroviária do Sabor, situa-se a antiga estação ferroviária de Mogadouro.
Em estado de perfeito abandono, quase ruinoso, a estação de Mogadouro engloba o conjunto composto por edifício de passageiros, cais coberto, edifício das instalações eléctricas, depósito de água, oficina e habitações de pessoal. O edifício de passageiros, de linhas mais singelas que os anteriormente observados, segue, no entanto, o mesmo estilo arquitectónico. Trata-se de um edifício de planta poligonal, apresentando fachadas de dois pisos, percorridas por soco de cantaria.
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Fig.10: Carviçais |
O espaço exterior adjacente ao antigo edifício de passageiros foi o local
escolhido para acampar e dar o devido encaminhamento à “bucha”. O sossego do
momento, por certo em oposição com o bulício ali verificado no passado em razão
do vai e vem de viandantes, não era motivo de exultação.
Após o repasto prosseguimos pelo canal da antiga linha na direcção da
estação de Vilar de Rei, novamente na rota das estações sem vida, num
território tristemente abandonado e negligenciado, não se compreendendo a existência
de tão acentuadas assimetrias de desenvolvimento regional, num território que
no passado nos deu e continua a dar de comer e que é merecedor de olhares mais esclarecidos
e de melhores políticas, vindas de melhores políticos, quiçá das gerações vindouras.
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Fig.11: Edifício de passageiros e cais coberto |
A estadia e o convívio excederam as melhores expectativas permitindo
enfrentar a segunda jornada com vontade redobrada.
Na Rota da Terra Quente – 2.ª Jornada: Carviçais-Torre de Moncorvo-Pocinho, 36.79km
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Fig.12: Albufeira de Vale de Ferreiros |
Esta segunda jornada convidava a que se rolasse mais calmamente, atendendo às características do percurso, maioritariamente em rampa descendente e bem menos extenso que o da véspera. Mas nem a perspectiva de uma jornada mais suave acalmou o já conhecido frenesim do Manuel na hora de acordar. Se algum dia se lembrar de imitar um galo ou tocar alguma corneta, estaremos desgraçados! Depois de toda a malta pronta seguiu-se o gostoso repasto matutino, com o regresso à “linha” a efectuar-se na companhia de um sol radioso, o que deixava antever uma magnífica jornada.
Fig.13: Paisagem dominada pelas giestas floridas |
Começámos logo a pedalar na direcção da aldeia de Carviçais passando na antiga estação ferroviária, que ainda conserva o edifício de passageiros e o cais coberto fechado, adossados, com as coberturas rematadas em larga aba comprida sobre travejamento de madeira, o edifício das instalações sanitárias, o de habitação de pessoal, depósito de água e toma de água, que abastecia as locomotivas a vapor.
Fig.14: Edifícios da antiga estação do Carvalhal |
Fig15: Ecopista, entre Carvalhal e Larinho |
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Fig.16: Um olhar sobre o Vale |
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Fig.17:Ao "Sabor "da descida |
Mais adiante, a antiga estação ferroviária da aldeia de Larinho, objecto de requalificação, ainda mantém o edifício de passageiros e o cais coberto fechado, adossados, o primeiro ostentando maior preocupação decorativa, e o edifício das instalações sanitárias, em irrepreensível estado de preservação, em que resultou no proveitoso aproveitamento do edificado para a instalação de uma cafeteria.
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Fig.18: Foz do Sabor, na confluência com o rio Douro |
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Fig.119:Vale do Douro |
Iniciávamos em Moncorvo a última secção do nosso passeio, iniciando a descida para o Vale do Sabor, na confluência com o Rio Douro. E se a primeira fase do percurso tinha sido verdadeiramente encantadora, só poderíamos esperar algo grandioso para esta segunda metade, augurando desfrutar de panorâmicas incríveis, ao Sabor da descida até ao Douro.
Fig.20: Antiga ponte rodo-ferroviária sobre o rio Douro |
Fig.21: Estação do Pocinho |