terça-feira, 15 de abril de 2025

Ao "Sabor" de Trás-os-Montes

 

Ecopista do Sabor

Na Rota da Terra Fria - 1.ª Jornada: Duas Igrejas-Miranda do Douro a Carviçais, 73.68 km


Fig1: Antiga Estação Ferroviária de Duas Igrejas
Edifício passageiros
  

Trás-os-Montes e Alto Douro, mais especificamente a aldeia de Duas Igrejas, no concelho de Miranda do Douro, foi o destino da rota previamente traçada, na qual o grupo de protagonistas saídos da malta do costume, um elenco constituído pelo Manuel Cordeiro, João Neves, Gustavo Baeta, JP Simões e AJ Soares, que vos risca estas letras, foi pedalando e vivendo estórias divertidas, em duas jornadas  perfeitas pelo planalto transmontano.

Já pertinho do final da tarde a totalidade do grupo encontrou-se, finalmente, na Associação Cultural Pauliteiros de Miranda,  local de encontro com o Sr. Carlos Pera, Presidente da Junta de Freguesia de Duas Igrejas, que amavelmente nos autorizou a pernoitar no salão da Associação, e ao qual agradecemos a pronta disponibilidade. Um bem-haja Sr. Carlos, um bom amigo que conhecemos em terras transmontanas, a quem o grupo ficou indubitavelmente reconhecido.


Fig.2: Ecopista do Sabor
Após tantas horas na estrada uma boa janta vinha a calhar e assim aconteceu, no restaurante da Associação de Pauliteiros, onde o Sr. André e esposa nos serviram uma agradável sopa de legumes quentinha, e uma excelente carne assada de vitela, refeição que foi rematada para os mais gulosos com um delicioso docinho. Não vou escrever que alguns tiveram direito a “Chiripiti” parecia mal… 

Com um frio de rachar, pernoitar no salão multiusos da Associação de Pauliteiros veio mesmo a calhar. No entanto, com cinco roncadores a dormir no mesmo espaço, imaginem, caros leitores, a sinfonia, que para ali reinava!!! De sono fácil e tranquilo não serei talvez a pessoa indicada para descrever o fabuloso concerto musical!  Houve, no entanto, quem, não logrando dormir, fosse forçado a apreciar por muito tempo a harmoniosa melodia de “ressonares” diversos, firmemente desperto.


Fig.3:Antiga Estação Ferroviária de Sendim
Edifício passageiros

Pelas 07.00h já o Manuel andava de volta da granola, do iogurte e das bananas, contudo teria ainda de aguardar pelas 09:00h, altura em que nos atirámos finalmente ao café e às torradas, preparadas na Associação dos Pauliteiros. Após os indispensáveis preparativos da viagem, demos início à dupla jornada a pedal pela antiga linha ferroviária do Sabor, com início na antiga estação de Duas Igrejas, assinalava o relógio as 09:35h.

 



Fig.4:Antiga Estação Ferroviária de Urrós

A antiga estação ferroviária de Miranda do Douro, situada em Duas Igrejas, topo e término da Linha do Sabor, foi inaugurada a 22 maio de 1938 e conheceu o seu dia mais triste, precisamente a 1 de agosto de 1988, data do seu encerramento. Esta data insere-se numa década que deu início ao encerramento sucessivo de várias estações e linhas regionais por todo o país, décadas de triste memória, marcadas pelo galopante declínio do serviço ferroviário no país, vítima de falta de investimento, por ausência de visão estrutural e políticas erráticas e a favorecer grupos e interesses para os quais era mais conveniente canalizar fundos estruturais, tendo como consequência inevitável o arrastar do país para um atraso civilizacional com danos  irreparáveis e custos imprevisíveis.


Apesar de em muito mau estado, a estação de Duas Igrejas ainda conserva o seu edifício de passageiros, o cais coberto fechado, o posto de manutenção com fosso, o depósito de água, dormitório e casas de habitação. É, no entanto, verdadeiramente confrangedor, que património arquitectónico tão significativo se encontre em manifesto estado de abandono.

Fig.5:Antiga Estação Ferroviária de Mogadouro
Edifício passageiros

Na antiga estação destaca-se o edifício de passageiros, com fachadas de dois pisos, que evidencia na fachada principal os nove painéis de azulejos figurativos policromos, de Gilberto Renda, alusivos a monumentos e actividades agrícolas da região, que formam silhar. Na guarda da janela de sacada destaca-se um painel com escudo de Portugal onde se pode ver ainda a inscrição: "CAMINHOS DE FERRO DO ESTADO". A fachada lateral esquerda, virada a sudoeste, tem um painel toponímico azul, a lateral direita ostenta quatro painéis de azulejos figurativos policromos e um painel toponímico azul e a fachada posterior, virada a noroeste, tem seis painéis de azulejos figurativos policromos. O piso térreo destinava-se às funções ferroviárias e ao público e o segundo a residência do chefe da estação.



Fig.6:A pedalar para Vilar de Rei

A ligação ferroviária do Sabor era feita em via estreita, entre a estação do Pocinho, na Linha do Douro e a estação de Duas Igrejas em Miranda do Douro. Após a sua desactivação a linha foi abandonada tendo o seu património sido progressivamente pilhado e delapidado. O canal da linha que ainda resta deu lugar a uma magnífica Ecopista que agora experimentámos percorrer e, malgrado o frio que nesta manhã se fazia sentir, o pedalar,  tudo faz esquecer.



Fig.7: Em Quinta das Quebradas

O gozo de pedalar no percurso em macadame pelo canal da antiga linha que atravessa a área protegida do Parque Natural do Douro Internacional, podendo desfrutar de uma envolvente cénica fantástica, circundados por enormes extensões de cultivo de cereais, olival tradicional e montados de sobro. Embora de mais difícil observação, para quem pedala, assinale-se também a existência na região de uma ímpar variedade biológica.


A contribuir para a qualidade do passeio só faltava mesmo um primeiro contratempo. Neste caso a sorte bafejou o Gustavo, com a ocorrência de um pequeno furo, situação pronta e solidariamente resolvida, um pouco antes de cumprida a primeira secção, de 12 km, pelo canal da antiga linha, na estação ferroviária de Sendim.  Tendo como objectivo o aprovisionamento para o caminho, efectuámos uma incursão à vila, acrescentando 2 km  ao percurso, retomando onde o deixáramos.

Fig.8: Entre Quinta das Quebradas e Estevais

Já a antiga estação ferroviária de Sendim, com o conjunto de edifícios também inaugurados em 1938, embora mais modestos, seguem o mesmo estilo arquitectónico, preservando o edifício de passageiros, o cais coberto fechado, o edifício das instalações sanitárias e um edifício de habitação em irrepreensível estado de conservação e ainda o depósito de água.

O edifício das instalações sanitárias, reabilitado como os demais, encontra-se ao serviço de quem usufrui da Ecopista, assim como dos utilizadores em geral e está situado a meia dúzia de metros a sul do edifício de passageiros, ostentando nas paredes exteriores silhar de azulejos de padrão policromo.

Depois de Sendim continuámos a pedalar pelo planalto transmontano, seguindo em direcção a Mogadouro através da N221. Apenas em breves ocasiões retomámos o canal da antiga linha, como aconteceu no momento da confluência no cruzamento para Urrós e Bemposta, onde nos deparámos com o que resta do edifício do antigo apeadeiro de Urrós, barbaramente vandalizado e delapidado. A velha e inocente questão pode sempre colocar-se: como é possível os altos responsáveis, decisores políticos, deixarem este estado de coisas acontecer?!

Fig.9: Quintada Estrada

Após a passagem na pequena povoação de Santiago continuámos a pedalar pela estrada N221 rumo a nova visita e a mais uma paragem numa estação sem vida. Na freguesia de Vila de Ala, junto ao enorme silo cerealífero da extinta EPAC, encerrado por força do declínio da produção cerealífera nesta região do país, ocorrida na última metade do século passado, que constituiu também uma das razões para o progressivo e definitivo encerramento da linha ferroviária do Sabor, situa-se a antiga estação ferroviária de Mogadouro.   

Em estado de perfeito abandono, quase ruinoso, a estação de Mogadouro engloba o conjunto composto por edifício de passageiros, cais coberto, edifício das instalações eléctricas, depósito de água, oficina e habitações de pessoal. O edifício de passageiros, de linhas mais singelas que os anteriormente observados, segue, no entanto, o mesmo estilo arquitectónico. Trata-se de um edifício de planta poligonal, apresentando fachadas de dois pisos, percorridas por soco de cantaria.


Fig.10: Carviçais
Na fachada virada à linha, ainda resistem azulejos policromos, formando silhar, rematadas em duplo friso e cornija de cantaria.Nas laterais sobram ainda painéis de azulejo toponímicos. Na fachada posterior à principal, virada a poente, e voltado para o canal da antiga linha, em plano central, um alpendre parcialmente abatido, apoia-se sobre colunas de cantaria.

O espaço exterior adjacente ao antigo edifício de passageiros foi o local escolhido para acampar e dar o devido encaminhamento à “bucha”. O sossego do momento, por certo em oposição com o bulício ali verificado no passado em razão do vai e vem de viandantes, não era motivo de exultação.

 Após o repasto prosseguimos pelo canal da antiga linha na direcção da estação de Vilar de Rei, novamente na rota das estações sem vida, num território tristemente abandonado e negligenciado, não se compreendendo a existência de tão acentuadas assimetrias de desenvolvimento regional, num território que no passado nos deu e continua a dar de comer e que é merecedor de olhares mais esclarecidos e de melhores políticas, vindas de melhores políticos, quiçá das gerações vindouras.


Fig.11: Edifício de passageiros e cais coberto
De Vilar de Rei pedalámos por uma via estreita asfaltada até Vale do Porco e daqui pela mesma estrada, com uma envolvente cénica incrível, continuámos a desfrutar logrando atingir uns quilómetros adiante a povoação de Castelo Branco. Aqui chegados, apesar de apenas percorridos 50 km, o cansaço já se começava a apoderar de alguns, em razão das frequentes paragens, sobretudo em razão dos instantâneos fotográficos que a paisagem desperta. Até lograrmos alcançar o lugar de Carviçais não perdemos muito tempo, uma vez que pedalámos a bom ritmo, com vontade de chegar ao conhecido “Artur da Posta”, onde, certamente, esperaria por nós uma boa posta mirandesa.  

A estadia e o convívio excederam as melhores expectativas permitindo enfrentar a segunda jornada com vontade redobrada.

Na Rota da Terra Quente – 2.ª Jornada: Carviçais-Torre de Moncorvo-Pocinho, 36.79km





Fig.12: Albufeira de Vale de Ferreiros

Esta segunda jornada convidava a que se rolasse mais calmamente, atendendo às características do percurso, maioritariamente em rampa descendente e bem menos extenso que o da véspera. Mas nem a perspectiva de uma jornada mais suave acalmou o já conhecido frenesim do Manuel na hora de acordar. Se algum dia se lembrar de imitar um galo ou tocar alguma corneta, estaremos desgraçados! Depois de toda a malta pronta seguiu-se o gostoso repasto matutino, com o regresso à “linha” a efectuar-se na companhia de um sol radioso, o que deixava antever uma magnífica jornada.

Fig.13: Paisagem dominada pelas giestas floridas

Começámos logo a pedalar na direcção da aldeia de Carviçais passando na antiga estação ferroviária, que ainda conserva o edifício de passageiros e o cais coberto fechado, adossados, com as coberturas rematadas em larga aba comprida sobre travejamento de madeira, o edifício das instalações sanitárias, o de habitação de pessoal, depósito de água e toma de água, que abastecia as locomotivas a vapor. 

Fig.14: Edifícios da antiga estação do Carvalhal
Após breve deambulação pelas ruas da aldeia prosseguimos pelo canal da antiga linha, transformada em Ecopista, que segue paralela à N220, o piso de macadame, ladeado de giestas e papoilas criavam um fantástico colorido, acompanhados por tons de azul-celeste que os raios de sol clarificavam. Continuando a pedalar pela Ecopista, ainda nas imediações de Carviçais, em Vale de Ferreiros, desfrutámos de uma vista incrível sobre a Albufeira, neste local e em plena Primavera, as inúmeras giestas do vale, em conjunto com o extenso lençol de água, formam uma deslumbrante tela multicolorida, para gaudio dos admiradores.


Fig15: Ecopista, entre Carvalhal e Larinho
Depois de pedalar em sentido descendente até à Albufeira de Vale de Ferreiros, subimos agora uma ligeira rampa até ao sopé do Cabeço da Mua, onde, no edifício em ruínas do velho apeadeiro de Souto da Velha, os silvedos disputam o lugar com as telhas sobrantes. Um pouco mais à frente, junto a uma enorme casa de que restam apenas as paredes, é possível obter uma excelente panorâmica sobre a encosta que abraça as aldeias de Felgar e Souto da Velha.


Fig.16: Um olhar sobre o Vale 
Uns metros mais à frente na Ecopista, do apeadeiro que servia a aldeia de Felgar, apenas sobram as quatro paredes do antigo edifício de passageiros. Continuámos a rolar com uma boa  cadencia de andamento até chegar à aldeia do Carvalhal, onde ainda é possível vislumbrar vestígios da antiga actividade mineira. Aqui era embarcado o ferro extraído nas minas da Serra do Reboredo. Um pequeno desvio possibilitaria avistar as antigas minas de ferro, no entanto acabámos por prosseguir na descida.

A antiga estação ferroviária do Carvalhal ainda conserva o edifício de passageiros, o edifício das instalações sanitárias, vulgo "retretes", as habitações do pessoal, o depósito de água e a toma de água que abastecia as locomotivas a vapor.

Fig.17:Ao "Sabor "da descida

Mais adiante, a antiga estação ferroviária da aldeia de Larinho, objecto de requalificação, ainda mantém o edifício de passageiros e o cais coberto fechado, adossados, o primeiro ostentando maior preocupação decorativa, e o edifício das instalações sanitárias, em irrepreensível estado de preservação, em que resultou no proveitoso aproveitamento do edificado para a instalação de uma cafeteria.


Fig.18: Foz do Sabor, na confluência com o rio Douro

Com a pendente a favorecer e envolvidos pela beleza do percurso o ritmo aligeirado depressa nos conduziu a Torre de Moncorvo. A antiga estação ferroviária mantém ainda o edifício de passageiros e o cais coberto fechado, adossados, o primeiro apresentando maior preocupação decorativa; o edifício das instalações sanitárias; depósito de água; a antiga casa de habitação e abrigo antes destinada a agulheiros. Deste local pode vislumbrar-se uma excelente panorâmica sobre Torre de Moncorvo.


Fig.119:Vale do Douro

Iniciávamos em Moncorvo a última secção do nosso passeio, iniciando a descida para o Vale do Sabor, na confluência com o Rio Douro. E se a primeira fase do percurso tinha sido verdadeiramente encantadora, só poderíamos esperar algo grandioso para esta segunda metade, augurando desfrutar de panorâmicas incríveis, ao Sabor da descida até ao Douro.


Fig.20: Antiga ponte rodo-ferroviária sobre o rio Douro

A descida do Vale do Sabor foi dos percursos mais gratificantes e que mais gozo me deu percorrer, o seu enquadramento paisagístico é verdadeiramente sublime, o percurso da antiga linha desceu-se suavemente, com “Sabor” acrescido, atendendo, sobretudo à envolvência, que se sobrepôs à facilidade com que se rolava, e permitiu um usufruto pleno da atmosfera envolvente.

Fig.21: Estação do Pocinho

Num quadro cénico tão distinto como o que se nos deparou, tendo pela frente o Vale do Sabor e a sua foz, no encontro com o Rio Douro, a partir de determinado ponto foi imperioso guardar o aparelho e desfrutar. Olhar apenas as imagens reais, sentir o vento no rosto e descer, pedalar, pedalar até ao Douro. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Ecovia Atlântica e Ecopista do Rio Minho

  

Rio Minho

O final de Agosto de 2021 foi aprimorado com umas magníficas  de mini-férias a pedal, em jornada dupla que decorreu pela orla Atlântica entre Viana do Castelo e Caminha, estendendo-se depois para montante do  rio Minho, através da Ecopista que acompanha a sua margem esquerda. O passeio foi iniciado na foz do rio Lima, junto à marina de Viana, onde se situa a Pousada de Juventude. Assim que aprontámos as bicicletas, rolámos em direcção ao centro histórico  na incontornável e icónica Pastelaria "Manuel Natário", situada na rua Manuel Espregueira, junto à Praça Central, onde lográmos ganhar lugar no mundo das imperdíveis e maravilhosas Bolas de Berlim.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Canal des Deux-Mers (II): Canal du Midi em bicicleta

 

Écluse de Vic, em Castanet-Tolosan 


Texto de António José Soares. Fotografia António José Soares e António Pedro Carvalho


Jornada a pedalar ao longo do canal, pelo  País Cátaro, entre Toulouse e Carcassonne.

Toulouse
A chegada a Toulouse encerrou a primeira fase da aventura pelo Canal des Deux-Mers, ao chegar ao fim o percurso pelo Canal Latéral de La Garonne. 
O estado de espírito em relação à segunda parte que se iria seguir era de alguma apreensão, mormente sobre o o eventual surgimento de  dificuldades adicionais relacionadas com as implicações geradas pelo abate dos muitos plátanos ao longo do canal, e a consequente diminuição de zonas de sombra que tal acção comportou. Também o surgimento do tipo de piso um bastante mais irregular em muitos troços, implicaria  forçosamente uma diminuição da velocidade média diária.
A estadia no parque de campismo de Toulouse foi aproveitada de forma exemplar para retemperar forças e recarregar energias para nova jornada. Assim que deixámos o parque, os primeiros quilómetros, até ao centro da cidade, foram efectuados na companhia de uma ciclista francesa que também pernoitou no mesmo parque, e que agora finalizava o seu Tour de VTT, com início nos Pirinéus. Aproveitámos os breves instantes e fomos trocando alguns dedos de conversa até ao início do Canal du Midi, altura em que nos despedimos, seguindo destinos opostos. 

Ramonville-Saint-Agne
Talvez um pouco receosos da propagação do “covid”, não aproveitámos, como seria desejável, a passagem por Toulouse a fim de  descobrir os muitos motivos de interesse da Cidade Rosa, assim apelidada em razão dos tons rosa-laranja dos  edifícios. Assim, ignorámos a famosa Place du Capitole, e outras obras-primas arquitetónicas como a basílica românica de Saint-Sernin, a Igreja dos Jacobinos ou o Hotel Renaissance em Assézat.
Não houve igualmente oportunidade para degustar algumas das especialidades culinárias do Sudoeste. A única pausa foi efectuada numa caféterie / boulangerie, adjacente ao canal, onde a prioridade estava direccionada para o pequeno-almoço, que foi, aliás, sublime. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Canal des Deux-Mers (I): Le Canal de Garonne em bicicleta



Dpois de duas primeiras tentativas planeadas, finalmente, a 25 de Julho de 2020, iniciei a viagem rumo a Bordeaux, a fim de concretizar o sonho antigo de percorrer em bicicleta o magnífico Canal des Deux Mers. Fantástica obra de engenharia civil e hidráulica, cuja primeira fase ocorreu no último quartel do século XVII, entre 1662 e 1681, com a construção da Canal du Midi e posteriormente, com a completa ligação fluvial entre o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, através da conclusão, em meados do Século XIX, mais concretamente em 1856, do Canal Lateral à la Garonne, tendo sido considerado pela UNESCO, desde 1996, Património da Humanidade.

Preparação da viagem


Bordeaux- marginal
O plano inicial, de realizar a aventura em companhia do amigo JOPARESI, saiu gorado, em consequência de uma arreliadora lesão nas costas de que este foi acometido, à última hora, obrigando-o a desistir.

Costuma dizer-se, quando para uns o azar bate à porta, para outros, a sorte sorri. Neste caso tive a felicidade de ser contemplado com a companhia do meu filho TóPê, que, em boa hora, aceitou o meu desafio. Assim, o que inicialmente estava para ser um tour de bicicleta protagonizado por dois amigos acabava de ser transformado numa aventura familiar de pai e filho. 

A logística estava pronta, apenas com a necessidade de alguns ajustes à preparação inicial, mantendo-se todo o restante. A viagem para França em automóvel e o plano de viajar em autonomia, a partir de Bordeaux, pernoitando em parques de campismos, com uma ou outra adaptação. Os alforges foram carregados com uma lista de utensílios básicos, considerados importantes.
Bordeaux - Le Miroir d'eau

Não foi esquecida a roupa de ciclismo, umas calças/calção leves de passeio, meias e roupa interior leve, toalhas, sem esquecer carregadores, power bank, saco-cama, almofada e colchão insuflável, tenda, lanterna para bicicleta, equipamento adicional da bicicleta, assim como algumas barras energéticas. O material deve ser o mais leve possível, por isso aconselha-se a ponderar, sempre, na altura da compra.

A travessia de Espanha decorreu tranquilamente, tendo sido já com a luz do dia a querer fugir que chegámos ao parque de campismo Village Bordeaux Lac, onde pernoitámos. O mesmo não foi difícil de encontrar, mercê da sua excelente localização. A nossa passagem foi fugaz, sem lugar a histórias para contar, procurando apenas usufruir do descanso que a estadia proporcionou a fim de enfrentar a primeira jornada da aventura que agora começava.

Bordeaux e as vinhas da Aquitânia

Bordeaux - Pont Pierre
Assinalava o relógio as 07:40 de Domingo, 26 de Julho, quando já despertos, tratámos de dar início à nossa nova rotina. Guardado o carro num espaço adjacente à recepção do parque, aí montámos as bicicletas e acondicionámos as bagagens nos alforges, para finalmente dar início à aventura.

Deixámos o parque e seguimos pela via ciclável Roger Lapébie, mas ainda não tínhamos pedalado quinhentos metros e logo a primeira contrariedade nos surgiu, com obras na via a obrigar a seguir por um desvio no percurso pelo qual pedalámos até ao centro de Bordeaux. Aqui chegados, junto ao skate parque, na margem esquerda do Garonne, e depois de captar umas imagens, continuámos a pedalar pela marginal até ao Le Miroir d'Eau, espelho de água refrescante e de belo efeito.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Alto Minho: Passeio pelas Ecovias do Lima e do Vez

 Ecovia Rio Lima

https://www.alltrails.com/explore/map/riolimaveigas-1--2?u=m

Viana da Foz do Lima 

Museu do Traje
Com as férias de Verão à porta, aproveitando o interregno lectivo do António Pedro, antes da sua partida para Lovaina ao abrigo do programa Erasmus, lancei-lhe o repto de pedalarmos  em redor dos rios Lima e Vez, no Alto Minho, por um período de dois a três dias.

Não estando o jovem habituado a estas "andanças" haveria que seleccionar um percurso suave, daí a opção por pedalar ao longo das margens dos rios, e assim logo se começou a tratar da preparação da viagem: preparar alforges, comprar bilhetes para a viagem de comboio entre Coimbra e Viana da Foz do Lima e, também importante, reservar alojamento. 

Viana - Centro Histórico
Como só tinha uma bicicleta, a Trek, com as características adequadas para uma jornada do tipo que pretendia efectuar, apelei à boa vontade do amigo Sérgio que de imediato me disponibilizou uma bicicleta para o António Pedro me acompanhar, sem grande sofrimento. Na verdade a velhinha Órbita que habitualmente utiliza, já não está fadada para estas andanças.

E assim, no dia 4 de Julho, lá partimos nós de Coimbra B, mais conhecida por Estação Velha, nome que lhe assenta na perfeição, e envergonha sem dúvida a cidade, a região e o país, atendendo ao miserável estado de conservação e condições que apresenta para acolher os passageiros. Mas serviu para iniciarmos o nosso passeio. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Serra da Estrela: Rota das Levadas

Do Covão do Forno aos Cornos do Diabo


Percurso linear, com início na Lagoa Comprida e a terminar na Quinta do Crestelo - Seia, extensão de 44,02 km. Piso misto de asfalto e terra. Pontos de passagem: Albufeira do Covão do Forno, Albufeira do Lagoacho, Vale do Rossim, Albufeira do Vale do Rossim, Sabugueiro, Senhora do Desterro e Lapa dos Dinheiros.












Lagoa Comprida
Um mês e quatro dias após o percurso das lagoas, que teve início no Vale Glaciar, nova jornada pela Serra da Estrela, desta vez com alteração no elenco dos protagonistas, desta vez com o Joparesi preencher o lugar do Katu.

Joparesi, geógrafo, que habitualmente costuma delinear os trajectos que habitualmente percorremos, ia-se corroendo a corrigir exames enquanto nos passeávamos pelos caminhos da serra por vales e lagoas. Ora, como o bichinho continuou a corroer, não tardou que que não fizéssemos nova incursão pela serra.






Assim na manhã do dia 15 de Junho de 2019, que por sinal se apresentava bem fresca, especialmente junto à albufeira da Lagoa Comprida, onde algumas cortinas de neblina se escapavam para a atmosfera, iniciámos um percurso procurando levadas e lagoas, agora com o Joparesi integrado no elenco dos protagonistas.

A primeira parte do percurso, da Lagoa Comprida ao Vale do Rossim, via levada do Covão do Forno e levada da Barragem do Lagoacho, foi uma reedição de um troço do percurso, percorrido em 11 de Maio, ficando o Joparesi com o encargo de traçar a rota a ligar Vale do Rossim e a Lapa dos Dinheiros.


Serra da Estrela: Rota do Vale Encantado

De Manteigas ao Vale do Rossim - Penhas Douradas



Percurso circular com início e fim em Manteigas, extensão de 66,48 km.Piso misto de asfalto e terra. Pontos de passagem: Viveiro das Trutas, Covão D’ametade, Lagoa Comprida, Albufeira do Covão do Forno, Albufeira do Lagoacho, Vale do Rossim.






A resposta ao desafio do amigo Rui Salgado para ir até à Serra da Estrela, partindo de Manteigas pedalando pelo Vale Glaciar, foi aceite de bom grado e os preparativos começaram de imediato a ser desenvolvidos.

Ao chegar à vila serrana já tinha a aguardar-me os “judeus” Rui Salgado e Katu, que apontavam de forma reprovadora para os relógios, pelo rigoroso cumprimento do quarto de hora académico, relativamente ao horário previamente acordado para o encontro, na verdade foi meia hora académica, embora ainda tivéssemos uma serra do tamanho do mundo pela frente, também as horas ainda eram muitas!

Passagem sobre o Zêzere

Após as saudações da praxe, coloquei as rodas no quadro e lá fomos os três na direcção do vale, optámos por subir pela vertente da encosta oposta à estrada nacional 338, por um estradão de terra que nos leva também paralelo ao rio Zêzere, o qual iríamos atravessar num local verdadeiramente, para tomar a estrada da vertente oposta, para sul, no sentido das Penhas da Saúde. 




Enquanto prosseguimos a subida íamos encontrando concorrentes do “Trail de Manteigas” em sentido oposto, a descer o vale. Íamos forçando paragens a fim de permitir a passagem de concorrentes em locais mais estreitos, dedicando estes breves momentos de pausa à admiração da vertente cénica envolvente, que para além da bela e magnificente paisagem, também nos propiciava respirar o maravilhoso ar puro da montanha.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Coimbra,percursos por espaços e jardins com história


Monte dos Olivais, Penedo da Saudade, Parque de Santa Cruz e o Jardim Botânico.

Penedo da Saudade

Iniciei este curto, mas rico percurso, com uma extensão aproximada de sete quilómetros, junto ao antigo ermitério dos Olivais, hoje Igreja da Paróquia de Santo António dos Olivais. Segui pela antiga cumeada que deu lugar à bem traçada Avenida Dr. Dias da Silva, ladeada por moradias de belo efeito,  até ao Penedo da Saudade, outrora um lugar quase ermo, hoje um lugar rodeado por vivendas e algumas edificações de maior volumetria. Do promontório rochoso que lhe deu nome, sobre paisagem de olivedos e laranjais podemos hoje observar uma floresta de edificações diversas, por onde foi crescendo a cidade.

O Penedo da Saudade, tal como referido em livros antigos já não existe. No entanto não perdeu a sua áurea e beleza, sendo bastante agradável deambular pelas suas veredas, parar no Retiro dos Poetas e ler algumas lápides com versos.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Rota dos Cromeleques

A jornada começou com a subida ao ponto mais alto, o castelo.
Ainda o galo não cantava e de Coimbra já viajava a caminho das planícies alentejanas, na companhia do amigo JP, que ao volante da sua viatura nos conduziu à cidade de Montemor-o-Novo a fim de cumprirmos mais uma épica jornada de bicicleta por terras de montado, na véspera de mais uma passagem pelo dia da revolução dos cravos.

Com saída planeada de Montemor, em frente à Praça de Touros e retorno ao mesmo local, este passeio foi destinado a conhecer a região alentejana, entre Évora e Montemor-o-Novo, e os cromeleques dispersos, com enfase para o magnífico sítio arqueológico do Cromeleque dos Almendres, entre outras paragens magníficas que se estendem por este imenso território.

Ao regabofe que já é tradicional, sempre que o grupo se reúne, seguiu-se o alinhar da partida em direcção ao altaneiro castelo medieval de Montemor-o-Novo. A panorâmica que se disfruta do alto é sublime e mais aguçou a vontade de empreendermos, o quanto antes, pedalar por um percurso que se antevia dinâmico e pleno de interesse quer pela morfologia do território, mas, sobretudo, pela qualidade dos seus intervenientes.

domingo, 8 de outubro de 2017

A Pedalar pela Secção 15 da Rota da Costa Atlântica, entre Figueira da Foz e Aveiro



Figueira da Foz, Torre do Relógio, início da Secção 15 do EuroVélo 1.

Poucos dias após ter sido publicado na última edição da Passear, o artigo “Grande Rota do Mondego, Via Clicável e Navegável”, eis que sai a notícia, amplamente difundida pela imprensa escrita, em todos os canais possíveis: internet, radio, televisões, do lançamento de uma ciclovia entre Santa Comba Dão e Penacova, com pretensões de efectuar uma futura ligação à Rota Atlântica, na Figueira da Foz. 

Mas o objectivo não se fica por aqui, e é pretensão das Câmaras Municipais da região de Coimbra e Viseu, através das CIM, constituir um triângulo entre Figueira da Foz, Viseu, Aveiro. O projecto é audaz, esperemos que não passe das intenções, porque na verdade tem enorme potencial para a Região Centro.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

"Vieira"

Conchas em Albergueria 
Para o peregrino a Santiago a concha tinha grande alcance iconográfico, era a demonstração da grande e difícil viagem realizada. Após cumprida a sua peregrinação, o peregrino procuraria uma concha em Santiago a fim de a colocar no hábito. No regresso a casa deveria ostentá-la com agrado e conservá-la como uma espécie de relíquia, usando-a em caso de enfermidade.

No “Liber Sancti Jacobi” a vieira tem um valor alegórico e tipifica um modelo de comportamento para o peregrino, representando a mão que se abre para realizar obras piedosas. Assim o peregrino deve ser generoso e dar esmola, conservando-se sempre modesto, casto e sóbrio. A concha é uma recordação permanente da caridade, a qual nunca deve esquecer.

Mas a concha é também um símbolo da regeneração, estando a sua imagem relacionada com o sacramento do baptismo. Segundo Tiago de Vorágine, na Legenda Áurea, São João Baptista baptizou Jesus Cristo com a água de uma concha. Em Florença, na antiga sacristia da igreja de de São Lourenço, a pia baptismal de Bernardo Rossellino, de finais do século XV, está coroada por uma concha. Também em Espanha, existem muitas pias baptismais em forma de concha ou estriadas como uma concha.

A concha é símbolo da nova vida que espera o crente após a sua viajem de regeneração. É também associada à representação de Cristo na sua condição de peregrino.

No culto a Santiago, a concha é também una clara referencia à morte e à ressurreição, como na lenda do homem que, salvo de um naufrágio, desperta pela manhã coberto de conchas.

António José Soares