quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Alto Minho: Passeio pelas Ecovias do Lima e do Vez

 Ecovia Rio Lima

https://www.alltrails.com/explore/map/riolimaveigas-1--2?u=m

Viana da Foz do Lima 

Museu do Traje
Com as férias de Verão à porta, aproveitando o interregno lectivo do António Pedro, antes da sua partida para Lovaina ao abrigo do programa Erasmus, lancei-lhe o repto de pedalarmos  em redor dos rios Lima e Vez, no Alto Minho, por um período de dois a três dias.

Não estando o jovem habituado a estas "andanças" haveria que seleccionar um percurso suave, daí a opção por pedalar ao longo das margens dos rios, e assim logo se começou a tratar da preparação da viagem: preparar alforges, comprar bilhetes para a viagem de comboio entre Coimbra e Viana da Foz do Lima e, também importante, reservar alojamento. 

Viana - Centro Histórico
Como só tinha uma bicicleta, a Trek, com as características adequadas para uma jornada do tipo que pretendia efectuar, apelei à boa vontade do amigo Sérgio que de imediato me disponibilizou uma bicicleta para o António Pedro me acompanhar, sem grande sofrimento. Na verdade a velhinha Órbita que habitualmente utiliza, já não está fadada para estas andanças.

E assim, no dia 4 de Julho, lá partimos nós de Coimbra B, mais conhecida por Estação Velha, nome que lhe assenta na perfeição, e envergonha sem dúvida a cidade, a região e o país, atendendo ao miserável estado de conservação e condições que apresenta para acolher os passageiros. Mas serviu para iniciarmos o nosso passeio. 



Veiga de São Simão - Zona de Lazer
No Porto, um mundo à parte no mesmo país, foi necessário trocar de composição, assim como em Nime, houve também a necessidade de trocar de comboio, para por fim chegar a Viana do Castelo, parece irreal, mas é verdade.

Assim que chegámos a Viana da Foz do Lima, o nosso primeiro destino foi o Natário, pois claro, ir a Viana sem uma visita ao Natário é quase como ir a Roma sem ver o Papa, para além das únicas e irresistíveis Bolas de Berlim, os salgados no Manuel Natário, a caminho do Museu do Traje, na Praça Central, são uma irresistível tentação. 

Veiga de São Simão
Já com as relações diplomáticas completamente restabelecidas com a barriguinha, bem aconchegada, dirigimo-nos no sentido da marginal do Lima, a fim de captar imagens do antigo navio-hospital Gil Eanes, aqui atracado e agora transformado em Pousada da Juventude, bem como admirar a obra com a assinatura do Arquitecto Siza Vieira. 

Prosseguindo por ícones da cidade e região, foi a vez de atravessar a ponte Eiffel. Mas, logo à saída, quando deveríamos prosseguir pela esquerda em direcção ao rio, um lapso determinou uma falsa saída em frente. Daqui não resultou problema maior, apenas voltar retomar a saída da ponte Eiffel , a partir da rotunda, enveredar na direcção do rio. 

Ecovia do Lima: Percurso das Veigas 

Caminho das Cachadas
Nas primeiras pedaladas junto à margem esquerda do Lima, é visível vasta actividade proveniente da azáfama dos atletas em treinos, proporcionada pelas equipas locais das várias disciplinas de canoagem, remo e vela. Ao chegar à nova ponte sobre o Lima houve necessidade de efectuar um desvio para contornar os seus enormes pilares, prosseguindo novamente, um pouco mais à frente, junto à margem do rio. 

Área de Lazer - Percurso das Veigas
Retomado o percurso ribeirinho junto ao Lima, este ganhou contudo uma nova particularidade, diferenciando-se um pouco, uma vez que que passou a ser acompanhado por uma zona de pequeno bosque. 

Se nos primeiros dois quilómetros fomos avistando alguns atletas em treino, agora a presença humana foi rareando e junto à margem apenas fomos encontrando alguns pescadores desportivos, e um ou outro passeante. 

Percurso das Veigas Cais
Sem dúvida, para nosso agrado, o leito do rio e as suas margens envolventes proporcionam excelentes imagens. A fim de usufruir na plenitude dos locais por onde passávamos fomos rolando a um ritmo moderado, com uma ou outra paragem a fim de desfrutar e contemplar a todo o ambiente em redor. 

Cumprindo a primeira metade do percurso junto ao rio, por caminhos de terra batida, chegámos à área de Lazer de Deão, onde está assinalado o início da Ecovia das Veigas, que atravessa o Lugar da Passagem, as Áreas de Lazer de Vitorino das Donas e da Correlhã, a Veiga da Correlhã, e entra na Vila pela Alameda dos Plátanos, um dos muitos ex-líbris de Ponte de Lima. 

Alameda dos Plátanos
Ao entrar na Vila, o Percurso das Veigas encontra a Ciclovia da Alameda dos Plátanos e coincide com o Caminho de Santiago, na etapa que termina em Ponte de Lima, para quem vem de Sul. 
Para nosso descontentamento, os quilómetros que faltava cumprir para chegar a Ponte de Lima, pareciam querer esgotar-se rapidamente. Se muitas vezes o desejo de chegar rapidamente é visto com agrado, no caso, os cerca de duas dezenas de quilómetros para vencer entre Viana e Ponte de Lima era para usufruir em pleno, desfrutando a proximidade do rio e a beleza e singularidade do caminho. 

Ponte de Lima - Vista da mg. direita
Por falar em caminho, o trilho que seguíamos junto ao rio, iria levar-nos ao inevitável encontro com o caminho para Santiago. Mesmo que de forma fugaz, como foi o caso, percorrer uma pequena parte do Caminho, transporta-nos de imediato para uma dimensão de fortes sensações de atracção por ambiente imbuído de uma mística muito especial, que nos seduz a percorrê-lo. E para quem tem a felicidade de o fazer, é, de facto, uma experiência inesquecível. 

Ponte Medieval
O percurso da Ecovia ia-se desenrolando pela várzea do rio Lima por onde se este os férteis terrenos agrícolas, com predominâncias para o cultivo de culturas milho, e algumas parreiras típicas do Minho. Como ainda faltava uma meia dúzia de quilómetros para Ponte de Lima, aproveitámos para efectuar uma paragem junto a uma pequeno bar/esplanada situado à beira rio, que nos oferecia a sombra derivada da copa das árvores, sem dúvida um excelente local para conversar e refrescarmos as gargantas sequiosas, apreciando um belo momento do dia. 


"Antiga Cadeia das Mulheres"
Assim que o apelo do caminho nos voltou a chamar, lá continuámos o nosso passeio pela várzea do rio, da qual destaco uma particularidade sui generis, protagonizada pelo António Pedro, que durante toda a viagem ocuparia uma boa parte do tempo na captação de imagens de objectos diversificados utilizados em edificações, com o fim de o poder utilizar numa disciplina relacionada com textura de materiais. 



A caminho do Solar de Bertiandos
Com reserva efectuada na Pousada de Juventude de Ponte de Lima, assim que chegámos, depois de uma pequena volta pela cidade, dirigimo-nos à pousada a fim de deixar os alforges e a carga mais pesada da mochila. 

Depois de instalados no quarto, saímos para um passeio na direcção do centro da vila. Assim que passámos a velha ponte medieval sobre o Lima, bebemos um café no albergue de peregrinos, onde acabei por estabelecer um pouco de conversa com um jovem que fazia a sua primeira peregrinação de bicicleta, do Porto a Santiago de Compostela. Logo de seguida prosseguimos o nosso passeio pela zona ribeirinha, na margem direita do rio, passando pelo Centro Náutico e seguindo pela designada Ecovia do Loureiro, desde a ponte medieval até às imediações do solar de Bertiandos, o qual acabaríamos por visitar, de forma fugaz. 

Os minutos continuavam a avançar no relógio e iam marcando as horas no estômago, determinando
Capela Anjo da Guarda
que não haveria disponibilidade para visitar a Lagoa de Bertiandos, e assim nos dirigimos novamente à Pousada para, depois de “lavadinhos e asseados” e a pé, visitarmos o Manuel Padeiro para uma bela posta de bacalhau. E lá nos vingámos de um dia com refeições ligeiras... 

Mas o dia não podia acabar sem a visita a um dos eventos mais importantes do ano em Ponte de Lima, a Feira do Cavalo, que decorria com repimpada animação. 

Ecovia do Lima: Percurso dos Açudes 

Zona de Lazer da Gemieira

A jornada prosseguiu no dia seguinte pelo troço dos Açudes, que estabelece a ligação entre a vila e o limite do concelho de Ponte de Lima com Ponte da Barca, em Santa Cruz do Lima. Saímos da Pousada e pedalámos pela Avenida dos Plátanos. Passámos junto à ponte romano-gótica que une as duas margens há mais de 2000 anos. 





Zona de Lazer da Gemieira
Seguimos em direcção ao espaço onde habitualmente decorre a Expolima e as Hortas Urbanas de Ponte de Lima. O troço afasta-se ligeiramente da margem do Lima para voltar a colar-se ao rio. Continuando o troço, uma breve paragem permitiu-nos contemplar algumas espécies de fauna, nomeadamente aves aquáticas. 


Moinhos da Gemieira
No percurso, todo ele verde e de uma frescura incrível, encontramos a zona dos moinhos da Gemieira, local onde o Município de Ponte de Lima procedeu à recuperação de um conjunto de moinhos, com informação sobre o seu modo de funcionamento.

Ao contrário dos troços que seguem para jusante de Ponte de Lima, assiste-se a um estreitamento das margens que diminuem o espaço disponível para a agricultura. São também notórias as diferenças ao nível do leito do rio. 


Ecovia dos Açudes 

A água aqui corre mais rapidamente, encontrando no seu curso alguns blocos graníticos cuja quantidade vai aumentando à medida que nos deslocamos para montante. São comuns as pesqueiras artificiais e os açudes que realçam o som da água e a desviam para os moinhos. 






Ecovia dos Açudes - Zona de Lazer
Chegados a Santa Cruz do Lima, não falta muito para que a ecovia siga por terras do concelho de Ponte da Barca, continuámos a pedalar pelos caminhos rurais da beira-rio, onde se nota que foram efectuados significativos melhoramentos e algumas zonas completamente novas, nomeadamente as pontes que atravessam os afluentes do Lima, o piso em saibro, o empedrado nas zonas de lazer e os passadiços de madeira. O Percurso entre Oleiros e o recinto da feira de Ponte da Barca é em betuminoso. 



Em todo o percurso existem protecções de madeira para balizamento, sinalização vertical específica, e pontos de informação acerca da Ecovia.

Ecovia - Ponte da Barca
O Rio Lima e os seus Açudes, que dão o nome ao percurso, constituem a principal envolvência da Ecovia, mas, também os campos agrícolas com as vinhas sob as quais, muitas vezes, passa a Ecovia. 

Em relação ao percurso da véspera, entre Viana e Ponte de Lima, este troço apresenta algum declive, embora com ligeiro "sobe e desce". Mas, de um modo geral, o percurso é praticamente plano, até porque se desenvolve, quase na sua totalidade, na margem do rio. 


Ecovia do Lima: Ponte da Barca 


Ponte da Barca
Já no concelho de Ponte da Barca, próximo da povoação, as características do piso da Ecovia deram lugar a um tapete sintético betuminoso,  e embora prefira o percurso em terra, mais natural, o certo é que o andamento melhorou um pouco. Na verdade após alguns quilómetros a rolar  em piso duro e adverso, encontrar piso mais suave  é sempre agradável, mesmo que seja apenas por breves quilómetros.


Ponte da Barca
Já na vila de Ponte da Barca, aproveitámos para almoçar num modesto restaurante próximo do rio Lima e da ponte sobre o mesmo. Após alguns minutos a descansar, aproveitando o tempo em que decorria a refeição, já se pensava na segunda parte do percurso. A saída para Arcos implicava a passagem sob a antiga ponte, naturalmente aproveitada para colher umas panorâmicas magníficas, que ilustram esta simpática e bonita povoação do Alto Minho. 

Ecovia do Vez 


Rio Vez
Da antiga ponte sobre o Lima, era necessário seguir em direcção à EM 202-1, e após passar pequeno o pontão sobre o Vez, envereda-se logo pela Ecovia que se inicia em Jolda São Paio e termina o seu primeiro sector em Arcos de Valdevez. Tem mais dois sectores: Arcos-Vilela e Vilela Sistelo. O nosso percurso apenas previa percorrer parte do primeiro sector, interligado com a Ecovia do rio Lima. 




Rio Vez
A Ecovia do Vez desenvolve-se pela margem direita do rio. Tem características diferentes da Ecovia do Lima, rio do qual é afluente. Os trilhos são bastantes mais estreitos e alguns sectores desenvolvem-se por passadiços em madeira. Rodeada de frondosa vegetação e com com a água a assinalar a sua presença constante,permanente, nalguns sectores com a presença de alguns rápidos. O percurso é fácil a moderado, apresenta características marcadamente mais técnicas que o anterior. 



Arcos de Valdevez

O ambiente cénico é admirável, com uma paisagem agradável, onde predomina o verde e o elemento da água é fundamental, com uma fauna e flora diversa e abundante. Inebriados com a paisagem quase nem nos apercebemos da chegada a Arcos de Valdevez. 



Rio Lima 
A vila, magnífica, pela sua frescura, talvez uma das vilas mais verdes do país, na confluência do Vale do Vez, a vila de Arcos, típica do Alto Minho, para além da tonalidade da paisagem e frescura que aparenta, o traço da arquitectura solarenga e, claro, o rio que espelha o colorido recebido de uma forma admirável convidou-nos a usufruir, nas suas margens, de uns bons momentos antes de iniciar o passeio de regresso a Ponte de Lima. 



A mítica tasca em Ponte de Lima
Embora estivesse concluído o trajecto o sector entre Ponte Lima e Arcos de Valdevez, o regresso a Ponte de Lima apresentou uma novidade! Na verdade o trajecto de regresso foi o mesmo, a novidade consiste precisamente em relatar um regresso que se processou de uma forma bastante agradável, num trajecto que oferece condições ímpares para pedalar, usufruindo do ambiente natural junto ao rio de forma plena e revigorante.

O António Pedro continuou a ocupar-se com a sua tarefa na captação de imagens para a de objectos diversificados para a disciplina relacionada com textura de materiais e ainda houve lugar para transformarmos as bicicletas em anfíbios, passando um sector na zona da Ecovia dos Açudes que estava submerso.



O Epílogo de uma bela aventura...

Muitos têm sido os caminhos, passeios ou aventuras que tenho trilhado, mas esta foi especial, a primeira de pai e filho, sem dúvida muito, muito especial, onde o principal objectivo foi realizado, percorrer de bicicleta, em autonomia, diversos locais de capazes de nos seduzir pela sua atracção natural e beleza associada. Foi uma experiência fantástica, e, pela forma como decorreu, muito provavelmente foi a primeira de muitas que espero se irão seguir... 

Afurada - Vista para o Cabedelo
O convívio repousante, quase sempre em ambiente natural e despreocupado, foi muito apreciado por ambos,  da minha parte ainda houve a tentação em submeter o António Pedro numa incursão pelos Passadiços Sistelo, contudo o acentuado declive e a exigência técnica em alguns sectores do percurso, dissuadiram-me de o colocar perante um eventual risco, face à sua pouca experiência.  Assim tinha a certeza de nada correr mal, apenas uma roda furada ao chegar a Ponte de Lima, e ganhava, pela certa, um companheiro nas aventuras.  

Senhor da Pedra - Miramar
No regresso não houve passagem pelo Natário, foi chegar a Viana comprar os bilhetes, esperar dez minutos, e entrar no comboio com destino ao Porto. Na Invicta, como tínhamos que fazer horas para o primeiro comboio, resolvemos pedalar para as bandas da Ribeira e esticando um pouco mais até ao Campo Alegre, onde almoçámos e o António Pedro  apanhou uma "senhora banhada" no pedido que fez, paciência...

Aproveitando o sol que estava excelente, não estávamos com paciência para esperar pelo comboio no Porto e assim resolvemos ir pedalando para sul, passámos a D. Luís da Ribeira para Gaia e continuámos pela Afurada, Cabedelo, Valadares, Miramar..., sempre que podíamos junto ao mar.


Ecovia da Costa Atlântica
Para uma primeira experiência já começava a esticar demasiado a corda, é que mesmo contando com capacidade de resistência do António, o certo é que a habituação ao  selim não é fácil e mesmo o calor já começava a apertar,  mas embora  o rapaz aparentasse mostras de alguma fadiga, não desistia e assim chegámos à mítica capela do Senhor da Pedra em Miramar, erigida nas rochas, junto ao mar. 

O leitor
Com um excelente dia para usufruir, resolvemos continuar a pedalar, sempre que possível próximos  do mar, como se estivéssemos a usufruir de um dia de praia, e foi assim que alcançámos a cidade de Espinho, onde de imediato nos acercámos da estação ferroviária, a fim de obter os correspondentes bilhetes para o intercidades que nos transportaria para Coimbra.

Finalmente com a jornada encerrada, aguardámos de forma descontraída e relaxada numa esplanada próxima, dando descanso aos músculos das pernas, mas exercitando os maxilares para dar que fazer ao estômago e restantes órgãos. Assim que se verifica uma paragem e sua duração se perspectiva superior a três ou cinco minutos, logo o António saca do seu livro... É impressionante, continua. E vai pensando na próxima... 

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