domingo, 8 de outubro de 2017

A Pedalar pela Secção 15 da Rota da Costa Atlântica, entre Figueira da Foz e Aveiro



Figueira da Foz, Torre do Relógio, início da Secção 15 do EuroVélo 1.

Poucos dias após ter sido publicado na última edição da Passear, o artigo “Grande Rota do Mondego, Via Clicável e Navegável”, eis que sai a notícia, amplamente difundida pela imprensa escrita, em todos os canais possíveis: internet, radio, televisões, do lançamento de uma ciclovia entre Santa Comba Dão e Penacova, com pretensões de efectuar uma futura ligação à Rota Atlântica, na Figueira da Foz. 

Mas o objectivo não se fica por aqui, e é pretensão das Câmaras Municipais da região de Coimbra e Viseu, através das CIM, constituir um triângulo entre Figueira da Foz, Viseu, Aveiro. O projecto é audaz, esperemos que não passe das intenções, porque na verdade tem enorme potencial para a Região Centro.


Figueira - passadiços sobre o areal

Não estando informado previamente destes projectos, parece todavia que andava a “chamar por eles”. Assim como no artigo atrás citado já enunciei muitos predicados, que bem podem cativar alguns cicloturista para o vale do Mondego, também agora, parece que me adiantei ao anúncio da CIM de Coimbra e dos Municípios de Figueira da Foz, Mira e Cantanhede, que em boa hora comunicaram a construção de cerca de oitenta e três quilómetros de ciclo vias pelo litoral, para coincidir com a Secção 15 do EuroVelo.



A subida à Serra da Boa Viagem
Destinei o meu último dia de férias de Agosto para um passeio de bicicleta e foi assim que na última sexta-feira do mês, dia 25, apanhei o comboio na velha estação de Coimbra-B, com destino à Figueira da Foz, já o relógio assinalava as 13 horas. Aproveitei a viagem para ir observando muito dos trilhos por onde é usual pedalar em incursões por terras do Mondego Litoral. No Mercado Municipal da Figueira da Foz aproveitei para comprar alguma fruta, que poderia acomodar no exíguo espaço disponível.



Farol do Cabo Mondego

Almocei uma sanduiche no renovado Restaurante “Papagaio”, da ave que lhe deu o nome só mesmo o desenho nas blusas da funcionária e proprietária. A pausa foi breve, ainda tempo para recordar o passado e as antigas piscinas de água salgada, em frente e que, tal como o papagaio, já só restam lembranças e imagens.

Panorâmica da orla costeira sobre a Praia de Quiaios e extensa orla costeira e zona de protecção dunar

Como iria começar a pedalar na hora de calor mais intenso, tive que ter o cuidado em não descurar o abastecimento de água antes de iniciar a minha incursão pela Secção 15 da Rota da Costa Atlântica, à qual  dei inicio, precisamente em frente ao Mercado Municipal.

Estrada Florestal Quiaios-Tocha
A Figueira da Foz sempre foi atractiva para quem gosta de se passear de bicicleta, no presente a acrescentar à larga marginal oceânica que já nos permitia pedalar com alguma segurança, o extenso areal foi bem aproveitado, nele tendo instalado a Câmara Municipal passadiços e zonas de lazer sobre a areia, por onde é possível correr e andar a pé ou de bicicleta.

Lagoa da Vela - Quiaios
Com a chegada das 15:00 horas, ainda sem ter iniciado a etapa, urgia que cumprisse os propósitos a que me tinha proposto. Assim, com o vento de frente, avancei em direcção a Buarcos e ao Cabo Mondego, sempre junto ao mar, aproveitando todo o esplendor da marginal figueirense e de Buarcos.


Praia da Tocha em Agosto

Ciclovia Praia da Tocha-Tocha
Assim que iniciei a bela subida da Serra da Boa Viagem afastando-me da imensa baía que o reflexo da luz solar tinge na água do oceano cores azuis e prateadas, tornando ainda mais deslumbrante a bela a paisagem vista do alto, no primeiro entroncamento, resisti à tentação de continuar a subir, seguindo pela bonita estrada da serra até Quiaios e  segui a rota do Eurovelo 1, na direcção do farol e antiga fábrica da cal, pela arriba junto ao mar, até à Murtinheira.

Barrinha da Praia de Mira
Se é agradável o percurso pela serra, com destino a Quiaios, seguir pela arriba é igualmente interessante. Como a temperatura apertava e ainda tinha muitos quilómetros para percorrer, segui directamente da Murtinheira para Quiaios, dispensando visita à praia.

Alguns metros antes de chegar a Quiaios passei por um peregrino a Santiago de Compostela, a quem desejei, naturalmente, “bom caminho”. Na vila procurei o acesso para a estrada florestal com destino à Tocha e Lagoa da Vela, por onde segui.  Os primeiros quilómetros, enquanto fui encontrando habitações tudo correu normalmente, não estava contudo à espera da surpresa que me aguardava.

Praia de Mira - Barrinha

Na bifurcação da via, segui pela estrada florestal, com destino à Tocha, a outra tinha como destino a Lagoa da Vela. E a surpresa foi precisamente esta, a estrada florestal, embora asfaltada, encontrava-se transitável apenas para automóveis de todo o terreno. Para bicicleta, só de BTT, mesmo assim os buracos eram tantos que o passeio foi bastante desgastante, uma vez que nunca consegui desenvolver uma velocidade constante, na imensa recta, com a agravante de contar com vento norte de frente.


Braço da Ria de Aveiro - Praia de Mira
A região é excelente e propícia a pedalar, lamenta-se apenas o mau estado do pavimento. Bastava que a manutenção da estrada tivesse sido feita ao longo dos anos, seguramente que tal não acontece há umas boas dezenas de anos, bem como a delimitação de zonas cicláveis, à semelhança da Cortegaça, simples, basta ria entendimento  entre Câmaras Municipais e Governo da República.



Braço da Ria de Aveiro- Praia de Mira

O tormento do caminho com mau piso acabou quando entronquei na estrada Tocha-Praia da Tocha, seguindo na ciclovia paralela até à praia para uma pequena pausa. Na aproximação à Tocha foi notória o bom cuidado com o arranjo dos caminhos, e existência de uma ciclovia de ligação da vila da Tocha à Praia da Tocha.



A paragem não foi prolongada, apenas o suficiente para reabastecimento alimentar com a fruta adquirida no Mercado da Figueira, após o que retomei o caminho florestal, com destino à Praia de Mira. Felizmente neste ponto do percurso, o piso estava em melhores condições, o caminho apresentava a mesma cambiante paisagística, com uma cobertura vegetal menos densa, favorecendo menos quem procura protecção do vento, como era o meu caso. Ora como este não amainava, já sentir os primeiros sinais de fadiga.

Próximo do Areão, um  "amigo" de quatro patas

Finalmente, depois de muito pedalar, a primeira indicação surgiu, a informar do acesso para a Praia do Palheirão, continuei pela florestal com destino a Mira, onde entrei pelo lado da barrinha, um local muito aprazível e que convida ao descanso.

Contudo a minha passagem agora foi breve, o adiantado da hora não permitia nenhuma paragem. Em 23 de Junho, fiz a ligação Aveiro – Coimbra no comboio regional, para fazer um passeio fantástico por altura dos Santos Populares. Assim, regressei a Coimbra de bicicleta, saindo da Aveiro pelas 16:00horas, já passavam alguns minutos, pela Costa via Costa Nova, Vagueira, Praia de Mira, Lagoa, Mira Cantanhede e Ançã, onde contava comprar o tradicional bolo, tendo apenas conseguido levar “ar” nos alforges.


Férteis terrenos agrícolas em espaço dunar, entre o mar e a ria

Restou a consolação de um excelente passeio, totalizando 94 quilómetros de Aveiro a Coimbra, tendo a jornada acabado da melhor maneira Na Alta Universitária a dançar as Fogueiras de São João. O troço entre Mira e Aveiro, com a particularidade de se fazer muito próximo da Ria de Aveiro, entre o espaço dunar e zonas agrícolas, é bastante interessante, e tem a singularidade atractiva da ria, entre a zona do Praia do Areão e a Costa Nova a opção foi seguir pelo percurso pedonal e ciclável, entre a Vagueira e Costa Nova, aproveitando os passadiços paralelos à ria de belo efeito e muita utilidade.

Ria de Aveiro, na Vagueira, início da ciclovia da Ria.


Já a 23 de Junho tinha efectuado este mesmo percurso, mas sentido contrário, parece-me mais ajustado, relativamente ao indicado na Secção 15, da Rota do EuroVélo 1, que prevê a passagem por Ílhavo, no lado oposto da ria.


Passadiços da via ciclável e pedonal Vagueira - Costa Nova
Costa Nova
Na jornada de 23 de Junho: Aveiro, Gafanha da Nazaré, Costa Nova, Vagueira, Praia de Mira, Lagoa, Mira, Cantanhede, Ançã e Coimbra, com partida de Aveiro pelas 16h00, percorri uma distância de 94 quilómetros, tendo chegado a Coimbra às 21:40horas, sem o tradicional bolo de Ançã.



A Ponte sobre a ria de Aveiro marca o fim das facilidades de circulação
Em 25 de Agosto, no percurso Figueira da Fox, Murtinheira, Quiaios, Praia da Tocha, Praia de Mira, Vagueira, Costa Nova, Gafanha da Nazaré, Aveiro, foi preciso vencer 96,13 quilómetros. Lamenta-se o mau estado a que se deixou chegar as estradas florestais, há muitos anos sem manutenção. O trajecto, sobretudo para quem gosta de pedalar próximo da orla costeira, é fantástico.

Pontos fortes do percurso: Localização junto à orla costeira com excelente enquadramento paisagístico, inserido em zona de protecção ambiental, com boas acessibilidades.


Pontos fracos: Deficiente sinalização para ciclistas e pedestrianistas, mau estado geral dos caminhos e via florestais. Ausência de indicação de pontos de apoio.
Aveiro, tradicionalmente uma cidade amiga dos ciclistas tem que ser mais amiga destes. Ainda existem muitos obstáculos à circulação de bicicletas de forma segura, do pouco que me foi dado a observar

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