domingo, 29 de setembro de 2013

Caminho Português - O Regresso

Vigo, 04 de Agosto de 2013.

Praia do Samil - Vigo
Magnífica jornada, a impossibilidade de transportar as bicicletas no comboio, a partir de Vigo, determinou que optássemos por dormir nesta cidade, onde chegámos por volta das 22:00 horas. O adiantado da hora remeteu-nos para uma pensão bem modesta onde desembolsámos a módica quantia de €15 pela  dormida! A hora tardia não impediu uma breve incursão pela noite de Vigo. Enquanto o Aguiar se  ficou pela pensão, servi de cicerone ao Joaquim Tavares, menos familiarizado com a cidade.

Pela manhã, bem cedo, iniciámos o percurso pela costa, que nos iria levar a Caminha. O Aguiar ora seguia na dianteira ora se atrasava, numa cadência ditada pela câmara fotográfica e pela roda de trás que estava sempre a exigir ar.

Baiona
Reagrupámos em Baiona para o pequeno almoço, onde a distracção da empregada da cafetaria ignorou o pedido do Aguiar que em legítimo acto de protesto resolveu arrancar. Apenas nos viríamos a encontrar em A Guarda.

O excelente dia de Agosto permitiu que usufruíssemos de um magnífico passeio, ao longo da costa, sempre em zonas cicláveis, e, a partir de Baiona, por ciclovia.

A incursão por Baiona foi premiada por uma pequena actuação de um grupo etnográfico local, de que aqui deixo um excerto da actuação.

Fortificação - Baiona
Continuando pela costa, ainda pensámos em dar um mergulho, mas a incerteza de encontrar transporte para o regresso fez-nos mudar de opinião.

Melhor que quaisquer palavras as imagens ilustram a jornada, que nos agradou bastante, quer pelo ar que respirámos, quer pela beleza da paisagem.

Em A Guarda reagrupámo-nos de novo e aproveitámos para a tradicional tapa e a correspondente cerveja. Esperámos cerca de uma hora pelo ferry que nos atravessou para Caminha.

De imediato nos dirigimos para o apeadeiro da CP, mas em vão, porque por duas vezes nos foi recusado o transporte das bicicletas no comboio.

Uma vergonha, em lugar de incentivarem os utentes a utilizar o comboio mais parece que pretendem o contrário. A CP, que proíbe o transporte de bicicletas nas linhas do Douro e Minho, quando, pela natureza das regiões, teriam que incrementar e incentivar o uso do comboio. Verdadeira estupidez e "tacanhesa" portuguesa, enfim, somos ricos...

A viagem para Coimbra foi de autocarro, para o efeito fomos obrigados a desmanchar e embalar as biclas. As pobres coitadas no fim de tanto tombo que levaram nos Caminhos, nem lhes foi permitido descansar convenientemente, as burrinhas, tão bem que se portaram, excepto a do Aguiar que é mais teimosa e obrigou o dono a periodicamente dar à bomba a partir do quinto dia, mereciam um tratamento mais cuidado, próprio de majestosas éguas.


  Clique para ver


Pontevedra a Santiago de Compostela, 75 km.

03 de Agosto de 2012, 5.º dia.


Albergue de Pontevedra
Primeiro Sábado de Agosto,  acordámos para a derradeira jornada do Caminho, após cumpridas as exigências indispensáveis deixámos o albergue de Pontevedra, procurando local para tomar o pequeno-almoço. 

Bem no centro da cidade, próximo da ria, encontrámos finalmente uma cafetaria onde os clientes eram maioritariamente peregrinos. Ao balcão, um "borracho" bebia uma cerveja, ao mesmo tempo que tirava do sério o proprietário do estabelecimento.


Pontevedra despertava timidamente, apenas nas proximidades do mercado municipal era visível alguma agitação matinal. Alguns "borrachos" ainda deambulavam pelas ruas. Mas o destaque ia, sem dúvida, para a quantidade de peregrinos, de todas as idades e nacionalidades, que faziam o Caminho Português.

Pontevedra - Início da 5.ª Jornada

Os primeiros quilómetros, após Pontevedra, sempre na companhia de muitos peregrinos, no Caminho ninguém está só, mesmo os que, por qualquer motivo, pretendam percorrê-lo nessa condição.


Junto à igreja de Santa María de Alba
Continuámos na companhia de muitos peregrinos, junto à igreja de Santa Maria de Alba estive à conversa com peregrinos provenientes de Cádis, ainda perguntei se conheciam Camilo, um amigo que fez comigo o Caminho Francês em 2007, embora as probabilidades fossem muito poucas.

Por  Caldas de ReisValga 

A beleza do percurso estampa-se nas imagens que apresento, mas é difícil descrever o sentimento que interiorizamos.
A aproximação a Santiago é um estado antagónico, por um lado queremos chegar depressa, por outro apetece continuar no Caminho.


A imagem que se repete todos os anos na Praça do Obradoiro, por muito idêntica que possa parecer, encontra sempre particularidades diferentes, o sentimento é sempre novo.

Praça do Obradoiro 


Finalmente a chegada a Santiago de Compostela, pelas 16:16, estava feito o meu Caminho Português,  a via mais percorrida, entre Coimbra a Santiago estava por fim concluída. Agora, sempre que passe em Tui não preciso de me lamentar de ainda não ter feito o Caminho Português, como acontecia anteriormente.
Após a conclusão do Caminho Português de Santiago, em 2012 pelo interior, e agora o Caminho Central, a vontade e a determinação de continuar a pedalar em direcção a Compostela mantém-se, quiçá ainda mais acesa. O sonho de repetir o Caminho Francês está latente, assim existam condições para o tornar uma realidade. Porém, enquanto tal não acontece, há que pensar em fazer outros Caminhos mais acessíveis...

Fotos do 5.º dia


sábado, 28 de setembro de 2013

Crónica do 4.º dia do Caminho Português, entre Rubiães e Pontevedra

Rubiães, 02 de Agosto de 2013.

 A noite foi atribulada, um peregrino de nacionalidade alemã passou mal, pelo que foi necessário chamar por socorro médico. Na altura não percebemos bem o que se estava a passar, pensei, inclusive, que seriam os primeiros peregrinos a sair do albergue. O Aguiar continuou sempre ferrado que nem uma pedra, não deu por nada. Finalmente uma noite sem que se tivesse dado  por ele. 
Primeiras horas do Caminho, após saída do albergue de Rubiães

Este dia iria ser diferente dos anteriores, saímos do albergue, pelas 07:56,  à medida que se progredia no Caminho, encontrávamos cada vez mais peregrinos. O pequeno almoço foi tomado em Rubiães, onde contámos com a simpatia  e boa disposição do proprietário.

Na véspera, apesar de termos chegado tarde ainda convivemos um pouco com alguns peregrinos espanhóis, fiquei também a saber pela Olívia, de Viana do Castelo, que as melhores Bolas de Berlim são as do Manel e não do Zé, estou a referir-me ao Natário, que tem as melhores Bolas de Berlim do Mundo.

Após o pequeno almoço aproveitei para trocar contactos com o Vítor Matos, de Coimbra, que fazia a peregrinação na companhia de um espanhol de Saragoça e de uma rapariga de Valência.

A jornada que marcou a entrada do Caminho Português por terras da Galiza,  foi caracterizada pelas frequentes paragens, ora para trocar dois dedos de prosa com os peregrinos, ora para as indispensáveis fotos, ou para reabastecimento.

Continuámos a cruzarmos-nos com os peregrinos que viajavam quer em grupos quer individualmente e a transmitir a habitual saudação de Bom Caminho. Pouco depois, já em São Bento da Porta Aberta, continuámos por terreno montanhoso, em direcção a Gontomil, altura em que parei para uma foto de conjunto com cerca de  40 a 50 peregrinos americanos, certamente ainda mais inspirados pelo filme The Way, com Martin Sheen no principal papel.

Depois do divertido encontro com o numeroso grupo de peregrinos americanos, com quem troquei a captação de imagens, foi a vez de reencontrar a Olívia de Viana do Castelo e as suas colegas de Valência, nova troca de contactos e depois de alguns dedos de conversa, lá voltámos a pedalar.
Valença e Tui
A entrada em Valença foi acompanhada por chuva ligeira, que entretanto desapareceu. Como os primeiros quilómetros foram lentos, tratámos de nos fornecer logo no primeiro supermercado, para uma refeição à base de sandes e fruta.

Subimos à Fortaleza, onde é sempre agradável a vista sobre o Minho bem como para o outro lado da fronteira. Depois de algumas fotos prosseguimos descendo da Fortaleza em direcção ao antigo posto fronteiriço.

Antiga ponte do rio Minho
Enquanto atravessava a velha ponte, não resisti a tirar algumas fotos. Estava entusiasmado, tantas foram as vezes que por ali andei, sempre com o mesmo pensamento, tenho que fazer um dia o Caminho Português. 

Em boa verdade, tinha planeado fazê-lo em 2008, mas ainda bem que decidi nesse ano acompanhar o Joaquim Tavares e o José Botelho, naquele que foi um belo fim de semana alargado, e que já dei conta na Página acima indicada, com o título Finisterra, foi igualmente uma magnífica aventura, se assim se pode chamar. 

A entrada em Tui pelo Caminho Português tinha que ser assinalada, precisamente junto ao primeiro marco que encontrámos em território galego, lá tirámos a foto de conjunto.

Prosseguimos pelo vale do rio Minho até encontrar a Ponte da Veiga, antes desta ponte medieval virámos à esquerda, seguindo num passeio agradável por frondosos  bosques.

Monumento ao peregrino, ao fundo a Ponte de Veiga

Continuámos a seguir as as setas e detivemos-nos na histórica Ponte das Febres ou de São Telmo, onde é visível uma placa com os seguintes dizeres Aquí enfermó de muerte São Telmo, en abril de 1246. Pídele que hable con Dios en favor tuyo. São Telmo, bispo patrono de Tuy e de Frómista, faleceu neste local quando se dirigia em peregrinação a Compostela.


Ponte das Febres ou de São Telmo

Seguimos pelos bosques até A Madalena, continuámos alcançando outra ponte medieval, a Puente de Orbenlle sobre o rio Louro. Atravessamos a ponte e iniciamos uma ligeira subida até chegar ao Polígono Industrial das Gándaras.

As sucessivas paragens que o Caminho impõe, traduzem-se numa velocidade média mais baixa, assim, nalgumas ocasiões temos que compensar o tempo gasto, para não desvirtuar o plano traçado.
Puente de Orbenlle
A travessia do Polígono Industrial do Porriño foi efectuada debaixo de um sol forte, e com a maior velocidade que as pernas permitiam, dado tratar-se de uma zona pouco agradável, muito exposta e movimentada, sem dúvida o ponto negro do Caminho Português, na Galiza, finalmente, depois de um esticão mais forte, para passar o quanto antes a zona industrial, chegámos a Porriño.
Porriño
Prosseguimos pela estrada que liga Porriño a Redondela, abandonando-a um pouco à frente, na direcção de Amieiro Longo.
Apesar de o dia ter começado cinzento e até com alguma chuva em Valença, a tarde estava com um sol forte. Assim, em Mos, parámos para beber uma bebida refrescante junto ao Palácio e à igreja barroca de Santa Eulalia.

Duas peregrinas a iniciar a subida da rua dos Cabaleiros

A acompanhar as bebidas, foram-nos gentilmente oferecidas umas porções de empanada Galega. Posso dizer que vieram mesmo a calhar, o corpo precisava de algum combustível para iniciar, desde Mos a subida de um dos lugares mais simbólicos do Caminho Português, a ingreme subida da Rúa dos Cabaleiros.

A subida da Rua dos Cabaleiros, Mos

Após a difícil subida até ao alto do Inxertado, aqui penso termos recebido a justa recompensa, pela dupla e agradável paisagem verde, dos bosques e dos terrenos sempre muito bem cultivados. 

A Galiza faz bem ao corpo e à alma, a agradável sensação de percorrer terras galegas é indescritível, mas seguramente absorvida por todos quantos trilham estes caminhos.  

Inicio da meseta de Chan de Pipas pela via Romana

O Caminho segue a Via Romana, assinalada pelo miliário de Vilar de Infesta, atravessando a meseta de Chan das Pipas.

Após a planura de Chan de Pipas, descemos pelo Caminho que envereda pela N550. e depressa chegámos a Redondela, numa altura em que começou a rarear o encontro com os demais peregrinos, a esta hora, muitos já se encontrariam instalados nos albergues. Mas não podíamos pensar ainda em encostar as bicicletas, para nós a jornada teria que terminar em Pontevedra.


Próximo de Redondela

Em Redondela efectuámos uma paragem junto ao albergue, situado num edifício histórico do século XVI, conhecido como Casa da Torre, que se destaca pela sua arquitectura e pelo seu uso prático e cultural. 

Albergue da Casa da Torre, Redondela

Ao sair de Redondela comecei a acusar alguma fadiga, um pouco motivada pelo ritmo inconstante e a necessidade de uma refeição, ainda que ligeira, do que pelo acumular de quilómetros  realizados. 

Passada a ponte do caminho de ferro, segundo informações concelhias, da autoria de Eiffel, o Caminho sobe, rodeado por uma zona arborizada, atingido o cume, iniciámos a descida,  interrompida para observar e fotografar a Ría de Vigo e a ilha de San Simón.
Ria de Vigo e a ilha de San Simón

Encontrámos de novo a N550, que percorremos, entrando em Arcade, capital das ostras na Galiza. Bem que nos apetecia forrar aqui o estômago, mas era importante chegar, ainda dia, a Pontevedra, assim decidimos que o melhor era mesmo tratar do assunto em Pontevedra, já com banho tomado.
Ponte medieval em Pontesampaio

Seguia o Aguiar na frente, secundado pelo Joaquim e ainda pensava na paella que ficou para trás, quando vejo um automóvel sair de uma curva que antecede a histórica Ponte Sampaio, a toda a velocidade e quase desgovernado. Não sei se foi Santiago, mas por pouco o enorme susto não tinha virado em tragédia.
Pontesampaio

Passada a histórica ponte sobre as águas do rio Verdugo, entrámos em Pontesampaio. Seguimos um dos troços mais bonitos do Caminho Português, na Galiza, a Vrea Vella da Canicoubar, subimos o antigo caminho empedrado até à encruzilhada para Nuestra Señora de Amil, frequentado desde as épocas mais remotas e onde são visíveis marcas das rodas dos carros, sulcadas nas velhas lousas.
Vrea Vella da Canicoubar

Continuámos em direcção a Pontevedra, descendo o Caminho, rodeados por pinheiros, até aos 
vales de Alcouce e Boullosa. A paisagem modifica-se à medida que progredimos, chegando finalmente ao albergue de Pontevedra.
Velha calçada romana
Seguiram-se os afazeres normais até ficarmos instalados, e, após o duche, arriscámos sair do albergue para jantar no centro da cidade.
A descer para Pontevedra
A partir daqui aconteceu um pouco de tudo, o jantar que coube melhor em sorte ao Joaquim e ao Aguiar, com um aperitivo de deliciosos mexilhões, chuva no regresso, albergue fechado, a termos que passar as bicicletas por cima do gradeamento, e, quando pensámos que o pior tinha passado, as portas do albergue estavam fechadas.

Foi uma sorte umas portuguesas de Braga terem ouvido a minha chamada,  sorte porque uma delas reconheceu a minha voz, de termos estado a tagarelar antes da saída para o jantar.

Mas não foi tudo, de tanta pressa que estava, tinha esquecido carteira com dinheiro, máquina fotográfica , tudo, no pátio do albergue. Não fora uma malta de Braga que também estava a fazer o caminho de bici e estava feito. 


Um bom jantar na Galiza , dá sempre para ficar alegre
Percorremos na jornada 76 km, chegámos a Pontevedra por volta das 20:00, um pouco exaustos e a necessitar de um bom duche, como de água para beber.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Crónica do 3.º dia do Caminho Português, entre São Pedro de Rates e Rubiães

Igreja Românica de São Pedro de Rates

Primeiro dia de Agosto e terceiro do nosso Caminho, fomos dos últimos peregrinos a acordar e a sair do albergue de Rates.

O plano traçado para a jornada impunha que fossemos dormir a Rubiães, o que equivale a dizer que forçosamente teríamos que passar a mítica e difícil Serra da Labruja. 

Os primeiros raios de sol começaram timidamente a querer surgir de um céu acinzentado. Após a preparação das bicicletas, dirigimo-nos ao único café aberto nas cercanias, muito próximo da velha e magnífica igreja românica.

Pequeno almoço em Rates
Pelas 08:30, após o o pequeno almoço, recreámo-nos a tirar fotografias à igreja românica de São Pedro de Rates, uma das jóias da arquitectura religiosa medieval portuguesa.

Os primeiros quilómetros foram de reencontro com os peregrinos que na véspera conhecêramos no albergue de Rates e muitos outros que pelo Caminho fomos encontrando.

Uma pequena história ressalta ainda do dia anterior, trata-se da jovem hospedeira que simpaticamente nos acolheu no albergue. Assim, contou-nos que ao fim de algum tempo a acolher e assistir peregrinos, ela mesmo iria iniciar o seu Caminho, a partir de Rates. A ansiedade quase não a deixou dormir e foi das primeiras a partir. Após alguns anos de trabalho voluntário, finalmente resolveu fazer o seu próprio Caminho, partilhar as suas vivências.

O lendário Galo de Barcelos
A aproximação de Barcelinhos e logo a seguir Barcelos, originou nova paragem. O Joaquim Tavares e o José Botelho demoraram um pouco com a fotografia. Depois de passar a ponte a pose ao lado do famoso Galo de Barcelos e a oportunidade para comer uma saborosa bola de Berlim e beber um café com leite.

O Minho em Agosto fervilha de gente, as ruas de Barcelos estavam plenas de turistas, emigrantes e peregrinos.

Dos inúmeros motivos de interesse da cidade de Barcelos, destaco o templo do Bom Jesus da Cruz, que assinala o aparecimento miraculoso de uma cruz de terra negra no chão barrento da feira, em 20 de Dezembro de 1504, templo que abriu ao culto em 1710. Trata-se de uma edificação de cúpula e planta centrada, com o espaço interior disposto grega, da autoria do Arquitecto João Antunes.
Barcelos e ao fundo a igreja do Bom Jesus da Cruz

Um pouco absorto com o templo do Bom Jesus da Cruz, que não canso de admirar, novo desencontro aconteceu, desta vez fiquei para trás. Pensando estar na frente fui rolando devagar, sem pressa, esperando o reagrupamento.

Peregrinos a Santiago

Como a demora era muita obtive a informação de um peregrino que regressava de Santiago, a caminho de Fátima, que me informou da diferença de uns bons 15 a 20 minutos para os meus amigos.

Foi hora para dar corda aos sapatos e imprimir um ritmo mais forte, o tipo de percurso também ajudava. Finalmente o reencontro, no rio Neiva, junto à Ponte das Tábuas, momento aproveitado para uns mergulhos na água límpida e cristalina do rio.

Aqui não poupámos tempo, bem pelo contrário, apetecia ficar para o resto do dia, não fosse o objectivo programado. Sem dúvida um bom momento.

Regabofe na Ponte das Tábuas

Serpenteando por terrenos de cultivo do milho ao passar o cruzamento da N201 com a N308, resolvi fazer um pequeno desvio, parei num café para comprar uma bebida e reabastecer de água, tentei comprar fruta, mas sem sucesso uma vez que o minimercado estava encerrado, salvou-me a jovem do café, dispensando-me algumas laranjas e um BTTista de Silves a fazer o Caminho em companhia de um grupo de espanhóis, oriundos de Murcia, que me ofereceu um plátano. 

Piquenique no pinhal
Com a dupla Joaquim/Aguiar uns 10 a 15 minutos à frente, entrei numa zona de bosque. A subida de algum relevo, era amenizada pela sombra. Mais à frente reagrupámos novamente para uma pequena refeição, em jeito de piquenique.
Chegada a Ponte de Lima

A aproximação a Ponte de Lima era desejada, aqui efectuámos uma paragem para refeição na Tasca das Fodinhas, onde o Cardápio da Márcia era bem sugestivo, como podeis ver na foto.
Ponte de Lima e o Cardápio da Márcia

Não podíamos relaxar muito, como diz o velho ditado, o rabo é o pior de esfolar, e ainda tinha-mos que esfolar a subida da Serra da Labruja!

O esforço da subida


Subida da Labruja

Descer a Labruja também não é fácil, há sobretudo que ser cuidadoso, para não hipotecar o resto do Caminho.

Chegámos a Rubiães às 20:30, debaixo de um céu cinzento e ligeiros chuviscos, tendo pedalado nesta jornada 77,70 km.

Com o albergue lotado, restou-nos dormir na sala de refeições. Do pouco tempo que dispúnhamos ainda ouve lugar para entabular alguma conversa com o Vítor Matos de Coimbra e com a Olívia de Viana do Castelo e com alguns peregrinos espanhóis.

No entanto o duro final de jornada não podia terminar sem um merecido jantarinho no restaurante mais próximo do albergue, na companhia simpático pessoal de cozinha, do dono e do empregado de mesa.

Fotos do 3.º dia

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Histórias do Caminho

O Caminho faz-se de pequenos acontecimentos, pequenas histórias, curiosidades que apraz registar. Esta é uma das histórias que o Samuel nos conta no seu sítio, através do relato do 2.º dia do seu Caminho, em 2002.
Vale a pena ler.


domingo, 8 de setembro de 2013

Caminho Português de Santiago - Alternativa ao polígono industrial de Porriño





SEMPRE NO CAMINHO

Os primeiros trabalhos de investigação e identificação do antigo Caminho Português a Santiago na Galíza, que realizámos durante os anos 1992-93, não nos permitiram salvar o itinerário entre Orbenlle e O Porriño; o indubitável traçado histórico fora ocupado pelo maior polígono industrial da Galíza e a estrada N-550, não tendo na altura infraestrutura nenhuma que facilitasse salvar esta verdadeira "penitencia". O decorrer do tempo e a construção de infraestruturas como o caminho habilitado junto ao rio Louro permite-nos agora apresentar-vos este novo itinerário que vem fazer justiça ao Caminho Português na sua primeira etapa na Galíza.

Desde logo, em todos os nossos trabalhos, ajustámos, sempre que possível, os itinerários históricos, contudo, o que fazer quando "a historia" passa por um polígono industrial, uma concentração de armazéns, uma autoestrada ou um pântano? O purismo histórico absoluto só pode ser reivindicado pelos que desconhecem absolutamente o território e/ou jamais dobraram as costas no trabalho de campo, no entanto é muito claro que já desde os tempos de Valiña cada época teve o seu Caminho, e que no século XXI os peregrinos têm direito, como os seus antepassados, a ter os seus próprios Caminhos de Peregrinação

Apresentámos-vos um itinerário humilde, profundamente galego, que percorre num espaço natural único incorporando, nalguns pontos, o antigo Caminho Real entre Tui e Vigo. Num espaço rodeado por naves industriais e infraestruturas de toda índole, autoestrada, via rápida, caminho de ferro, mais de quarenta por cento deste decorre por velhos caminhos de terra rodeados por uma natureza esplêndida e o seu traçado acrescenta apenas uns quinhentos metros mais que o itinerário pelo atual Polígono Industrial das Gándaras e a estrada N-550. Colocámos neste trabalho, realizado de forma completamente altruísta, por e para os que caminham, esforço, paixão, alma e sentimento; agora já não nos pertence, é vosso, dos peregrinos.

Queremos agradecer expressamente a colaboração dos vizinhos e dos técnicos de Património e o Xacobeo da Junta de Galíza, que em todo momento apoiaram e entenderam este projeto; a Luis Freixo, por incorporar no mesmo uma alternativa preparada exclusivamente para impossibilitados; e, expressar também a nossa lembrança especial a quem desde a sua humilde atalaia do Cebreiro soube mostrar-nos o Caminho: Elías Valiña. Dedicamos este trabalho em agradecimento a todo o que nos ensinou e semeou para o futuro; obrigado, Elías. 

Bom caminho a todos. Ultreia e sus eia!

Coordenação : José Antonio de la Riera 
Investigação, documentação e trabalho de campo: José Antonio de la Riera, Manuel Garrido y Luis Freixo.
Fotografias: Manuel G. Vicente

Tradução do artigo António José Matos


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terça-feira, 3 de setembro de 2013

Crónica do 2.º dia do Caminho Português, São João da Madeira - São Pedro de Rates, 90 km

Sapateiro - São João da Madeira

Após o pequeno almoço no bar do quartel, começámos a pedalar pelo fresco da manhã, Eram 7:55, quando partimos e logo com uma subida de 3 km em direcção ao centro de São João da Madeira. 

Continuámos a subir até ao alto da Arrifana e estava feito o aquecimento para enfrentar a segunda maior jornada do Caminho.



Igreja Matriz da Arrifana


Curiosamente, Arrifana e Coimbra têm a particularidade de ter a mesma padroeira, Isabel de Portugal, a Rainha Santa. A Rainha Santa Isabel, que viveu grande em Coimbra grande parte da sua vida, foi muito devota a Santiago. Desde  Coimbra peregrinou  até Compostela por duas vezes, confirmadas. Havendo quem defenda que o teria feito, de forma anónima, por mais duas ocasiões.

Pouco depois da Arrifana, passava das 09:45, cruzámos-nos com mais um peregrino, contudo somente a partir do Porto e principalmente de São Pedro de Rates é que se tornou mais constante o encontro com os demais peregrinos.


Peregrino a Santiago
Na Malaposta o Caminho derivou para a antiga calçada romana, depois Estrada Real, prosseguindo pelo lugar de Souto Redondo até Lourosa.

Infelizmente esta via histórica não se encontra devidamente preservada, é deprimente o estado em que se encontra a calçada, envolta por vegetação selvagem e depósito de lixos indesejáveis.

Prosseguindo, em Grijó ladeámos o Mosteiro e um frondoso bosque de carvalhos cercado por extensos muros antigos, feitos de pedra.

A necessidade de reabastecimento obrigou a nova paragem num café à entrada da vila, onde também estava um casal de peregrinos com duas crianças de tenra idade, que transportavam em carrinhos de bebé.

Ficou com algum desgosto que não visitámos o Mosteiro de Grijó, ficando a referida visita agendada para outra ocasião.

Depois de Perosinho subimos a difícil calçada da Serra de Negrelos, contudo a passagem pelo bosque foi reconfortante, o fresco da vegetação transformava mais leve o pedalar, parecendo aumentar a sua cadência.

De Grijó a Gaia, pela Serra de Negrelos
A chegada a Vila Nova de Gaia não foi demorada, contudo o acelerar do ritmo necessitava de uma recompensa alimentar. Assim nada melhor que uma pequena sondagem para obter indicação de onde comer bem, pelo mais baixo preço.

O local escolhido foi o Piri-Piri, onde o cheirinho a frango assado dissipou qualquer dúvida quanto à ementa a escolher.

Na Ribeira, dando orientações a duas jovens alemãs
Após o repasto, seguimos para a zona ribeirinha de Gaia, para o indispensável café. Gaia superabundava de turistas nesta altura do ano.

Ao subir da Ribeira para a Sé do Porto, o encontro com duas peregrinas alemãs que se preparavam para iniciar o Caminho, de bicicleta, a partir do Porto propiciou alguns momentos de conversa. As jovens não dispunham de qualquer informação sobre albergues e lugares do Caminho, assim, oferecemos-lhes um guia, que por certo muita utilidade lhes daria, face à completa ausência de informação que dispunham, a não as setas amarelas do Caminho.

Subindo à Sé do Porto para a aposição dos carimbos nas credenciais, apenas no detivemos o tempo necessário para o efeito.

Porto- Vilarinho

Urgia sair do Porto, uma vez que ainda faltavam uns bons cinquenta quilómetros até São Pedro de Rates.
Ao passar na Maia o primeiro contratempo na bicicleta do Aguiar, com problema na pedaleira, o que originou um desvio na procura de alguém que lhe pudesse valer, o que veio a acontecer.
Numa primeira fase ainda o seguimos, mas de pouco adiantava e assim enveredámos novamente pelo Caminho.


A passar a Ponte dos Arcos, rio Ave
A partir de Vilarinho, a paisagem muda radicalmente, o Caminho começa a penetrar por campos agrícolas verdejantes, e à medida que se avança para Nordeste, os vinhedos marcam a tradicional paisagem minhota.

Ponte dos Arcos
Na passagem do Ave, a ponte dos Arcos, as sombras  espelhadas no rio, a velha azenha, enfim toda a zona envolvente, são motivos que apraz registar e lembrar. 

Finalmente, e após 90 km a pedalar e de frequentes paragens para a captação de imagens, eis-nos em São Pedro de Rates. No momento em que seguia com o Joaquim Tavares em direcção ao albergue, eis que apareceu o Aguiar, em velocidade apressada, com bicicleta reparada e pronto para novo empeno!!!

Igreja românica de São Pedro de Rates
O edifício do albergue de paredes antigas e austeras encontra-se bem cuidado e conservado, o pátio interior, bem ajardinado, é muito agradável e convida ao repouso. Nele se insere um telheiro aproveitado como espaço de exposições sobre o Caminho.

Depois de um duche bem merecido, rumei ao pequeno mini mercado próximo do albergue, onde, com apenas sete euros e alguns cêntimos, comprei os ingredientes para fazer o jantar. 

O menu foi esparguete com atum em tomate e cebola, acompanhado por sumo de cereais e para finalizar fruta da época. Para sobremesa bolo de frutos secos, oferta da Sandra, numa palavra, perfeito.

O jantar no albergue

Mas o pior ainda estava para acontecer. A segunda noite foi  nova tormenta, repetiu,-se, desta vez com colunas de som, o concerto musical do primeiro dia. A novidade foi a musica tradicional galaico-portuguesa, onde intrusas concertinas ronqueiras deliciaram os ouvidos do pobre Joaquim. Nem mesmo usando a habitual mascarilha do Zorro conseguiu vencer as gralhas nocturnas. 

A resignação foi total, tanto mais que o maestro do grupo, nessa noite, usou uma camisola de meia manga, com seta amarela.O espírito do Caminho intensificava-se, à medida que se avança no Caminho. São Pedro de Rates, para além do simbolismo histórico que representa, vive de forma entusiástica e hospitaleira a senda do Caminho.

É justo uma palavra de agradecimento para os hospitaleiros do albergue, gente boa, bastante simpáticos e prestáveis. É nobre a sua atenção para com os peregrinos.

No 2.º dia do Caminho, às 07:55 saímos de São João da Madeira e percorremos 90 km, chegando a São Pedro de Rates pelas 20:15.

Fotos da 2.ª Jornada