quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

"Vieira"

Conchas em Albergueria 
Para o peregrino a Santiago a concha tinha grande alcance iconográfico, era a demonstração da grande e difícil viagem realizada. Após cumprida a sua peregrinação, o peregrino procuraria uma concha em Santiago a fim de a colocar no hábito. No regresso a casa deveria ostentá-la com agrado e conservá-la como uma espécie de relíquia, usando-a em caso de enfermidade.

No “Liber Sancti Jacobi” a vieira tem um valor alegórico e tipifica um modelo de comportamento para o peregrino, representando a mão que se abre para realizar obras piedosas. Assim o peregrino deve ser generoso e dar esmola, conservando-se sempre modesto, casto e sóbrio. A concha é uma recordação permanente da caridade, a qual nunca deve esquecer.

Mas a concha é também um símbolo da regeneração, estando a sua imagem relacionada com o sacramento do baptismo. Segundo Tiago de Vorágine, na Legenda Áurea, São João Baptista baptizou Jesus Cristo com a água de uma concha. Em Florença, na antiga sacristia da igreja de de São Lourenço, a pia baptismal de Bernardo Rossellino, de finais do século XV, está coroada por uma concha. Também em Espanha, existem muitas pias baptismais em forma de concha ou estriadas como uma concha.

A concha é símbolo da nova vida que espera o crente após a sua viajem de regeneração. É também associada à representação de Cristo na sua condição de peregrino.

No culto a Santiago, a concha é também una clara referencia à morte e à ressurreição, como na lenda do homem que, salvo de um naufrágio, desperta pela manhã coberto de conchas.

António José Soares