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Écluse de Vic, em Castanet-Tolosan |
Texto de António José Soares. Fotografia António José Soares e António Pedro Carvalho
Parte II - Canal du Midi
No país dos Cátaros, de Toulouse a Carcassonne
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Toulouse |
Concluída em Toulouse a primeira fase do percurso, pelo Garonne, o nosso estado de espírito em relação à segunda metade era de alguma apreensão relativamente ao aparecimento de algumas dificuldades adicionais. A informação do abate de muitos plátanos ao longo do percurso, diminuindo as zonas de sombra no mesmo, assim como o tipo de piso, em muitos sectores um pouco irregular, implicando necessariamente uma diminuição na velocidade média diária.
A permanência no campismo de Toulouse foi excelente para retemperar forças. Depois de deixar o parque, nos primeiros quilómetros, até entrar no centro da cidade, fomos pedalando na companhia de uma ciclista que regressava a casa, após o seu Tour, com início nos Pirinéus. Fomos trocando alguns dedos de conversa até ao início do Canal du Midi, altura em seguimos destinos opostos.
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Ramonville-Saint-Agne |
Não houve igualmente oportunidade para degustar algumas das especialidades culinárias do Sudoeste. A única pausa foi efectuada numa caféterie / boulangerie, adjacente ao canal, onde a prioridade estava direccionada para o pequeno-almoço, que foi, aliás, sublime.
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Ayguesvives |
Fomos prosseguindo até às primeiras aldeias de Lauragais. Em Montesquieu as suas torres sineiras são perceptíveis à distância, conseguindo-se fazer assinalar bem na paisagem. Fomos pedalando por uma fértil planície agrícola rodeada de colinas, território que o canal valorizou bastante nos últimos séculos. Antes, porém, em Montgiscard, tratámos de aprovisionar os alforges com bom queijo e carnes frias, pão, fruta e a indispensável bebida, para um magnífico piquenique à beira do canal, na zona de Ayguesvives.
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Écluse de Gardouch |
A jornada começava a fazer mossa, não só nas pernas, como pelo corpo todo. Deste modo, aproveitando a passagem pela bela cidade de Castelnaudary, efectuámos uma pausa para recuperarmos energias. De forma fugaz ainda espreitámos um pouco a cidade e o seu pequeno porto, muito conhecida na gastronomia local pelos saborosos cassoulets, espécie de feijoada francesa, que não tivemos o ensejo de poder provar.
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Gardouch, aqueduto sobre o Hers |
Passámos em Bram a pedalar na máxima força, sem tempo para pausas, procurando imprimir o ritmo mais forte que as pernas permitiam. Seguíamos a bom ritmo, procurando evitar obstáculos, sobretudo raízes de árvores, quando inesperadamente fomos surpreendidos por um enorme ragondin, espécie de mamífero semi-aquático que prolifera nestes habitats, parecida com um castor, a atravessar-se na frente da bicicleta e a mergulhar no canal, episódio que se repetiu por três a quatro vezes no percurso, e cujos quilómetros finais concluímos guiados pelas luzes da bicicleta.
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Castelnaudary |
A passear pelo Aude
Assinalava o relógio dez para as sete, hora marcada para o pequeno-almoço, e já o TóPê deambulava entre as muralhas captando pormenores e perspetivas da cidadela e do monumental castelo, restaurados pelo conceituado Emannuel Viollet-le-Duc, famoso arquitecto revivalista francês do século XIX. Reunidos no terraço da pousada, à hora marcada para o pequeno-almoço, procurámos o melhor proveito da refeição, e usufruímos os poucos minutos de descanso no terraço, como um tónico para enfrentar a difícil jornada que se antevia.
Deixámos a pousada e o excelente acolhimento da pousada. Pedalando entre muralhas com uma última vista sobre o castelo. Descemos até à cidade nova e às margens do rio Aude, de onde emergem as impressionantes muralhas da cidade medieval. Após apanhar a rota do canal seguimos para Sul, convivendo com o animado movimento dos barcos. Nas margens, são notórios um alinhado conjunto de novas árvores replantadas, substituindo o que pensamos ter sido os plátanos anteriormente existentes.
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Trèbes |
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L'Epanchoir de l'Argent Double |
Prosseguimos alternadamente entre as vinhas e o canal, passando ao largo de Argens-Minervois, vila típica da região de Minervois, organizada em torno de um castelo do século XIV que domina o canal e o rio Aude. Mais à frente, Ventenac-en-Minervois, banhada pelo Aude, é construída em anfiteatro sob uma colina de onde se desfruta uma bela perspectiva sobre a planície de Canet, Raissac e Saint-Nazaire.
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Le Somail |
quilómetros, que foi para onde nos dirigimos, finalizando a curta, mas dura, jornada de 66 quilómetros.
À chegada ao Camping Marvilla Parks - Le Val de Cesse, estávamos ciosos de boas intenções, a apontar a um mergulho no rio Cesse, contudo, assim que largámos as bicicletas, a fadiga dominou-nos de tal forma que apenas houve lugar para os indispensáveis afazeres e a um breve jantar no restaurante do parque.
EPÍLOGO, de Le Somail a Béziers
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Pont-canal de La Cesse |
De regresso ao pedal após a passagem no vertedouro de Patiasses, no seu nome original Épanchoir des Patiasses cruzámos o Cesse na ponte canal com o mesmo nome, cuja construção, entre 1689 a 1690, decorreu sob orientação do engenheiro Jean Goudet, por iniciativa de Vauban, que trabalhou para melhorar o sistema de abastecimento de água do Canal e a sua operação. A estrutura tem sessenta e quatro metros de comprimento e catorze metros de altura. Após passarmos sobre o rio continuámos até Capestang e ao seu animado porto, cuja imponente torre sineira da colegiada gótica de Saint-Étienne, domina do alto dos seus 45 metros de altura.
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Capestang |
Após a passagem das Malpas, não demorámos muito a chegar a Colombiers, pequena cidade com séculos de história, cujo porto é abrigo para diversos tipos de embarcações de recreio, e ponto de partida para muitos turistas que fazem o seu cruzeiro no Canal du Midi. O sol abrasador que se sentia convidou-nos a uma pausa no porto para degustar uns mexilhões e uma lourinha bem gelada.
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Tunnel de Malpas |
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Écluses de Fonséranes |
A Pont-Canal de l'Orb
, é uma das maiores pontes-canal da França, a jusante das eclusas de Fonseranes. A imponência dos seus duzentos e quarenta metros de comprimento e vinte e oito metros de largura, para uma altura de doze metros, conferem-lhe um ar majestático. No entanto os seus sete arcos conferem-lhe uma elegância acentuada pela galeria que corre por baixo do canal, permitindo, assim, a manutenção da estrutura. Foi concluída no Século XIX, pelo engenheiro do Canal, Jean Magues, sendo considerada monumento histórico, desde 29 de agosto de 1962.
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Écluses de Fonséranes |
Com a nossa aventura a terminar. Seguimos do canal à gare da SNCF, onde tentámos comprar bilhetes para o regresso, mas sem êxito. Embora prevíssemos terminar em Sète, a confirmação da inexistência de lugares no comboio para a viagem de regresso, implicou uma alteração ao plano inicialmente estabelecido e decidimos antecipar o final da aventura para Béziers. Reservámos lugares no Camping Les Berges du Canal, em Villeneuve-lès-Béziers, sendo ainda necessário pedalar mais dez quilómetros, até podermos, finalmente, descansar da extenuante jornada.
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Pont-Canal de l'Orb |
Em Villeneuve-lès-Béziers, junto ao canal, aproveitámos para fazer o rescaldo da recente aventura, concluída com os derradeiros 50 quilómetros, desde Mirepeisset, com os patos a atazanarem-nos a paciência, grasnando num chinfrim ensurdecedor.
Finalmente a sorte pareceu querer sorrir-nos, através do bilhete de TGV Béziers-Bordeaux, enviado pelo JOPARESI, via internet. Agora, enquanto trataria do resgate da viatura para a viagem de regresso, o TóPê ficaria a gozar uma bela tarde de passeio por Béziers, parafraseando o saudoso Fernando Pessa, e esta hein?!
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