Monte dos Olivais, Penedo da Saudade, Parque de Santa Cruz e o Jardim Botânico.
Penedo da Saudade |
Iniciei
este curto, mas rico percurso, com uma extensão aproximada de sete quilómetros,
junto ao antigo ermitério dos Olivais, hoje Igreja da Paróquia de Santo António
dos Olivais. Segui pela antiga cumeada que deu lugar à bem traçada Avenida Dr.
Dias da Silva, ladeada por moradias de belo efeito, até ao Penedo da Saudade, outrora um lugar
quase ermo, hoje um lugar rodeado por vivendas e algumas edificações de maior
volumetria. Do promontório rochoso que lhe deu nome, sobre paisagem de olivedos
e laranjais podemos hoje observar uma floresta de edificações diversas, por
onde foi crescendo a cidade.
O
Penedo da Saudade, tal como referido em livros antigos já não existe. No
entanto não perdeu a sua áurea e beleza, sendo bastante agradável deambular
pelas suas veredas, parar no Retiro dos Poetas e ler algumas lápides com
versos.
Penedo da Saudade - Retiro dos Poetas |
À
entrada do jardim, pelo lado mais baixo, ergue-se um busto ao poeta António
Nobre e outro ao escritor Eça de Queirós. Descendo do promontório, pelo
interior da mata é hoje possível aceder à parte baixa da cidade.
Conta-nos
a lenda que D. Pedro I para aqui vinha frequentemente desafogar a sua mágoa e
chorar a sua amada Inês, sendo na altura o local conhecido por Pedra dos
Ventos, apenas no século XVI viria a ser designado por Penedo da Saudade.
Penedo da Saudade - Panorâmica sobre a cidade |
Deixando para trás o Penedo, já com Saudade, segui na direcção do Parque de Santa Cruz, vulgarmente conhecido por Jardim da Sereia. A entrada principal é enobrecida por um aparatoso pórtico, ladeado por dois torreões, rematados por telhados pontiagudos de duplas águas, decorados a fresco no exterior e interior.
Parque de Santa Cruz - pórtico ladeado por torreões
|
O pórtico tem uma arcada tríplice, ornamentada com concreções calcárias, também utilizadas noutros arranjos do parque, encimada por três esculturas, de belo efeito, representando a Caridade, a Fé e a Esperança.
Transposto
o pórtico, segue-se o grande recinto do Jogo da Pela, ladeado por carvalhos e
loureiros e marginado por muretes, rematados em cantaria, cujas extremidades
são marcadas por pilares com urnas, que se repetem neste local de recreio, numa
cenografia marcadamente barroca.
Parque de Santa Cruz - Cenário em forma de cascata |
Integrado no conjunto, um
aparatoso escadório, entremeado de patamares e ladeado por bancos de pedra, decorados por azulejos com motivos alusivos à água, leva-nos à Fonte da
Nogueira.
Parque de Santa Cruz - Fonte da Nogueira |
A
fonte tem um nicho na parte superior, albergando uma imagem da Virgem, em baixo
um tritão abre a boca a um golfinho, donde corre a água para uma concha. Pela
designação do povo é a Sereia, que emprestou o nome pelo qual o parque é mais
conhecido.
Um
ponto bem atractivo no parque é o seu belo lago, com uma ilhota central onde
mora uma fonte, onde no tempo dos crúzios esteve plantada uma laranjeira.
Parque de Santa Cruz - Escadório entremeado de patamares |
Infelizmente
este belo e aprazível local tem sido alvo de miseráveis actos de vandalismo que
têm destruído total ou parcialmente esculturas, azulejos, pilaretes e outros
elementos decorativos.
Deixando
um dos locais mais frescos e aprazíveis da cidade, não foi preciso andar muito
para alcançar o majestoso Jardim Botânico, talvez o mais aprazível e deleitoso
local da urbe mondeguina, quer pelos seus inúmeros recantos quer pela paisagem
que daqui se desfruta.
Jardim Botânico |
Inserido
numa área de aproximadamente 13,5 hectares, o Jardim Botânico foi delineado no
prosseguimento da reforma pombalina dos estudos universitários. Em 1773 esteve
em Coimbra o arquitecto inglês Guilherme
Elsden e, em conjunto com os professores Vandelli e Dalla-Bella,
escolheram o terreno, o qual pertencia, quase todo, ao colégio de São Bento,
que o ofereceu gratuitamente.
Ilustração 13: Jardim Botânico – panorâmica do patamar inferior
Os
professores italianos e Elsden executaram um projecto que o Marquês de Pombal
rejeitou, por demasiado grandioso e dispendioso, no mesmo ano de 1773. Contudo
as obras começaram, embora de forma mais modesta, prolongando-se por todo o
século XIX e mesmo pelo Século XX.
Ilustração
14: Jardim Botânico -
vista para a mata e antigo Colégio de São Bento
O
jardim divide-se em duas partes: a que ocupa o alto e princípio do vale, que é
distribuída em terraços e ajardinada, e a mata que se lhe segue, até perto da
Rua do Brasil, onde há uma capelita, que
pertencia ao antigo colégio de São Bento.
Ilustração
15: Jardim Botânico -
patamar superior e estufas
A
primeira distribui-se por cinco terraços, em anfiteatro de lanços rectilíneos,
envolvendo o sexto, o mais inferior e quadrado.
Ilustração
16: Jardim Botânico –
recanto do patamar inferior
Em
volta deste último, formando balaustrada do imediato, dispõe-se o conjunto
arquitectónico que, não obstante a sobriedade dos seus motivos, lhe dá um lugar
de destaque na arquitectura citadina como exemplar do neoclássico.
Ilustração
17: Jardim Botânico -
Patamar inferior
O
terraço mais inferior é dividido da mata por um muro rasgado duma porta central
e de janelas, encimada, aquela e duas destas, de altos remates mas austeros.
O parapeito, que no terraço imediato o cerca,
divide-se alternadamente em partes vazadas e em plenos ocupados por alegretes,
com bancos intermédios.
Ilustração
18: Jardim Botânico -
Lago no patamar inferior
Ao
centro de cada uma das três faces ficam portões que dão serventia ao terraço
central por escadarias duplas. Os dois laterais são mais simples: dois pilares
isolados coroados cada um de seu vaso, acompanhados de breves aletas laterais
apoiando-se num muro baixo, à altura do soco daqueles, muro que completa o
conjunto e em cujo extremo se apoia novo vaso ornamental. Tem batentes de
ferro, simples e da mesma época. No terraço superior e em frente destes,
abrem-se dois novos portões, do mesmo género e mais simples e sem grades, a que
dá acesso uma escada de degraus curvos, construídos alguns anos depois dos
anteriores.
Ilustração
19: Jardim Botânico -
patamar inferior
A
vedação superior do jardim é notável, na parte principal, a da Avenida Júlio
Henriques, pelo efeito de monumentalidade que se obteve com elementos simples:
pilares com as faces externas em pilastra dórica de cantaria refundida,
coroados por uma urna esbelta; pilares que nos extremos se tornam mais robustos
e suportam altas pirâmides, e que se repetem duas vezes no lanço maior do
gradeamento, subdividindo-o e quebrando a monotonia..
Ilustração
20: Jardim Botânico -
Portão principal
O
portão principal, constituído por pilares compostos sem arco intermédio, não
fica ao centro mas bastante para o lado do aqueduto. Tem cada pilar duas fortes
colunas dóricas, postas ligeiramente em diagonal, com frontão interrompido e
remate de alta pirâmide, acompanhada de urnas.
São de ferro os batentes e de desenho simples.
Na bandeira, mais ornamentada, encontra-se a data de 1844. Assinou-os o
serralheiro M. Bernardes Galinha: "M Bdes GALHINHA / O FEZ EM /
Coimbra", daqui a adivinha: preto é, Galinha o fez.
Em
frente, no larguinho da entrada, a estátua do professor Félix de Avelar
Brotero, um dos primeiros orientadores do jardim, obra de Soares dos Reis, em
1887.
Ilustração
21: Jardim Botânico -
foto de arquivo
O
Jardim Botânico, para além da sua beleza, tem o lado científico, como centro de
estudos por excelência, pelas espécies que conserva, permitidas pelos
microclimas deste local, nomeadamente de espécies originárias do Himalaia e da
América do Sul, constituindo um verdadeiro Museu Vivo. O conjunto de estufas
tem passado por um processo de recuperação e manutenção, para poder continuar à
disposição da comunidade científica e a quem mais possa interessar.
Ilustração
22: Mata e acesso entre
Rua da Alegria e Porta da Traição
Numa
feliz iniciativa de dinamização do espaço, a Universidade de Coimbra e a Câmara
Municipal de Coimbra protocolaram um percurso pelo interior da mata, que é
possível fazer em miniautocarro panorâmico de tracção híbrida, ligando a rua da
Alegria ao Arco da Traição, na antiga muralhada. Contudo desde o seu anúncio
que essa possibilidade tarda em aparecer, esperemos um melhor desenvolvimento
de todo o processo, por forma a permitir a circulação das viaturas.
O
percurso 2 compreende pouco mais de quatro quilómetros de ligação entre os
parques, contudo para quem se pretenda exercitar, o Parque de Santa Cruz
permite estender essa distância em função da vontade de cada um. A beleza e
singularidade dos espaços visitados obrigou a que desfrutasse da sua grandeza.
Contaremos
na próxima edição encerrar o percurso 3, da Traição às Lágrimas de Inês e da
Lapa ao Choupal
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