quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Caminho Português pela Costa, de Marinhas até Caminha








A descer para o Neiva

Terça Feira, 16 de Setembro de 2014

Embora a chuva ameaçasse, uma ligeira brisa e a temperatura amena favoreciam o andamento.
O ritual matutino acaba por ser idêntico, variando apenas de lugar para lugar. Preparar a bicicleta, montar os alforges, este ano um pouco mais pesados que o habitual, aprovisionar água quanto baste e demais utilidades necessárias à jornada.
A primeira boa surpresa do dia surgiu próximo do rio Neiva.  Um bonito percurso em terra, estreito e sinuoso, percorrido na companhia de um grupo de Braga, folgados no peso das bicicletas e nos quilómetros. Boa malta.












Em alguns pontos do percurso é mesmo necessário apearmos-nos das bicicletas, ou porque era impossível pedalar ou porque os alforges se soltavam, perante tantos embates, com paragem obrigatória para a sua fixação.

Nicho com o Apóstolo - Neiva
A passagem sobre o Neiva, pela ponte do Sebastião oferece um momento de indiscutível beleza. Após a passagem do rio, continuei nas fotos e agradeci o convite da malta de Braga para os acompanhar, mas este ano estava com outro sentido de Caminho, preferia rolar impondo o meu ritmo, parando quando me apetecesse, ou dar uma sapatada quando necessário. Curiosamente sentia-me em forma, nunca virei a cara a alguma subida mais difícil, também não se encontram muitas por este Caminho da Costa.


Igreja de Santiago - C. Neiva
Em Castelo do Neiva, antes de subir à igreja de Santiago, a mais antiga consagrada ao apóstolo, fora do território espanhol, aproveitei para me instalar num café e tomar o indispensável café com leite e o pão com manteiga, um telefonema, no final ainda houve tempo para estar à conversa com o amigo Álvaro Cardoso, que invejou não me poder acompanhar.

Na descida, uma pequena distracção impediu que tivesse passado no Mosteiro de São Romão. Retomei o Caminho em Chafé, onde coincide com a Estrada Real. Depois foi seguir as setas até Darque e Viana do Castelo, onde a passagem pela ponte Eiffel é sem dúvida um momento apreciado.


Seguir as setas em aglomerados urbanos de alguma dimensão, por vezes é tarefa difícil, especialmente quando a sinalização não é muito evidente. Em Viana, o Caminho está bem sinalizado, no entanto a reduzida dimensão da vieira e das setas pode levar ao engano os peregrinos mais distraídos.

Mas não podia passar em Viana sem uma ida ao Natário. Substituí o almoço por um lanche antecipado, não dispensando a famosa bola de berlim e um saboroso croissant com fiambre.


Saindo de Viana, o caminho envereda entre quintas e ambientes pitorescos, passando junto de antigos penedos gravados, por casas agrícolas, igrejas, capelas, e cruzeiros, abrigado pela frescura das árvores que abundam neste troço.

Saindo de Viana

Antes de chegar a Afife, trilha-se um caminho florestal até Cabanas, onde se cruza o ribeiro com o mesmo nome, que desce a Serra de Santa Luzia a caminho do mar. A beleza da paisagem e a frescura do ribeiro, abrigado sob castanheiros e carvalhos, foram motivos de sobra para forçar uma paragem e desfrutar do momento, comendo calmamente um cacho de uvas deliciosas.







O rio em Cabanas

Subida para Agrichouso
De Cabanas o Caminho sobe a Agrichouso, passando pelo lugar da Pedreira até encontrar o trilho, empedrado, que o conduz até ao cruzeiro do Vale para dali alcançar o lugar da Matança, junto à velha Cividade de Afife, castro ocupado aproximadamente entre 200 a.C. e 200 d.C.



Cruzeiro da Matança

Aqui se entra no concelho de Caminha, descendo sempre a direito por caminhos florestais encontramos casario, depois um fontanário, o Cruzeiro Novo e chegamos à Ponte da Torre, de finais do século XVII, com lajes baixas e que, antes da construção da nova estrada real em 1856, permitia a passagem de pessoas e de bens sobre o rio Âncora.




Ponte da Torre
Finalmente Vila Praia de Âncora, por entre campos de cultivos e por antigos troços lajeados, alcanço a rua Miguel Bombarda, eixo de ligação entre as comunidades agrícola, comercial e piscatória locais.







Festividades em Âncora


Na Praça da República, onde se pode admirar a artística capela da Sra. da Bonança, padroeira dos pescadores, decorrem com grande animação as festividades de Setembro com ponto alto na procissão naval com a solene bênção das embarcações. 







Na antiga via romana, podem encontrar-se na areia até à chegada da zona urbana de Moledo, alguns vestígios de instrumentos datáveis entre 15 000 e 10 000 a.C., salinas romanas e medievais, camboas para aprisionamento de peixe e flora dunar autóctone.

às portas de Caminha
Continuando a pedalar, entro em Caminha através do antigo Caminho de Viana, hoje rua dos Pescadores, de casario baixo e típico, saúdo duas peregrinas espanholas, com quem entabulei breves minutos de conversa.

No centro monumental de Caminha destacam-se a Torre do Relógio e o extraordinário chafariz de cantaria do século XVI, entre outras edificações.


Ultrapassada a Torre do Relógio, segui pela rua Direita ou dos "Meyos", eixo vertebral do amuralhado medieval, e, ao longo das ruas estreitas, forradas a lajes gastas pelo tempo,  alcanço o albergue de peregrinos, onde um simpático casal de hospitaleiros voluntários saúda a minha chegada. Informo que virão por certo mais duas peregrinas.


Cruzeiro
Decidi voltar atrás, a fim de poder indicar mais rapidamente o albergue às peregrinas com quem falei, mas o desencontro fez com que chegassem ao albergue sem necessitar da minha ajuda. Fui informado pelo casal de hospitaleiros que apenas eu, as peregrinas espanholas, uma jovem israelita e eles mesmos, seríamos os únicos ocupantes do albergue.

Combinei com as duas chicas fazer pasta com atum, e assim se cozinhou o jantar, acabando ainda por sobrar alguma comida.

Ainda houve tempo para tomar um café na Praça e degustar uma guloseima típica de Caminha. Depois foi caminhar apenas para apanhar o fresco da noite e esticar as pernas, para recuperar.

O Monte de Santa Tecla- A Guarda

Procurando fazer um balanço sucinto, apesar de poucos quilómetros percorridos, cerca de 63, a jornada foi sem dúvida gratificante, o enquadramento cénico do trajecto, paisagem tipicamente minhota, é formidável, a disponibilidade física encontrava níveis satisfatórios, apesar da dureza do Caminho, com muita pedra, ora tratando-se de paralelos ou lajeados ainda mais agressivos, face à suas formas irregulares.

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