quarta-feira, 18 de novembro de 2015

5.º dia, de Cea a Santiago de Compostela.

 A caminho de Castro Dozón 
Quinta Feira, 30 de Julho de 2015


A chuva resolveu aparecer no derradeiro dia e como em Cea não encontrámos local onde comer, pedalámos em direcção a Castro Dozón, para o pequeno almoço no Café Ojea, em Arenteiro - Piñor, por sinal bastante acolhedor e onde reencontrámos entre outros a Maria Jose Cerezo e a Berta Simarro, de Valência, que também pernoitaram no albergue de Cea, e faziam o que ainda faltava do Caminho na companhia de mais dois peregrinos, um dos quais português.






No Alto de Santo Domingo, a 700m de altitude
Volvidos alguns quilómetros voltámos a reencontrá-los, aproveitando o momento para uma foto em conjunto. 

Prosseguimos, subindo, com a chuva sempre a acompanhar-nos e chegando finalmente à província de Pontevedra. Seguiu-se uma extensa e bonita travessia de baixa vegetação, por solitárias paragens, até efectuar a descida para Castro Dozón, onde a falta de aderência da roda traseira me projectou para uma aparatosa queda, felizmente sem consequências graves. Apenas algumas contusões e leves feridas e lama, muita lama para limpar, assim que encontrasse água em abundância.




Início do planalto, antes da descida até ao rio Deza
Efeitos de uma queda aparatosa

De Castro Dozón, onde chegámos depois de cruzar a auto estrada, seguimos para Laxe por uma pequena estrada paralela à estrada N-525. Poucos quilómetros percorridos depois da pequena aldeia de Laxe, cruzámos o rio Deza, transpondo a “Puente de Taboada”, de origem românica, reconstruida nos séculos XV e XVI, um belo local, de farta vegetação, paisagem bucólica, de raro encanto.


A relaxar, economizando forças no planalto

A paragem neste belo local impunha-se, as cores onde o verde e o cinzento predominam em dia chuvoso, que mesmo sem a presença dos raios de sol entre o frondoso arvoredo de castanheiros e carvalhos, imploram pela captação de imagens de diferentes perspectivas, ao que o viajante não se faz rogado. Enquanto absorvíamos o encanto do Caminho, outros caminheiros foram passando, em ritmo cadente e decidido, parecendo levar o seu rumo espiritual bem trilhado, que se infere pela certeza dos seus passos e determinação dos seus rostos.



Peregrinos na aproximação a Taboada

Passando a ponte, continuámos, subindo pelo caminho empedrado, encontrando um pouco mais à frente o cruzeiro e a singela igreja românica de Santiago de Taboada. A existência de uma fonte permitiu-me tratar dos ligeiros ferimentos, retirando a terra e sangue pisado presentes nas mãos e pernas. Foi também um momento que permitiu ao José dar uso ao seu estojo de primeiros socorros, de grande utilidade e sempre indispensável numa empresa deste tipo.




Rio Deza

Continuámos a seguir uma zona de bosque em direcção a Silleda, onde efectuámos uma pausa para o almoço, uma refeição servida na “Pulperia A Carballeira do Chousiño”, por sinal muito bem confeccionada. Como se tratava da última jornada decidimo-nos por um pequeno excesso. No entanto até chegar a Santiago de Compostela ainda era necessário pedalar uns bons quilómetros.





Ponte medieval de Taboada

Novamente no Caminho, após percorridos uns bons quilómetros, depois de São Miguel de Castron, iniciámos uma descida sinuosa e acidentada em direcção ao rio Ulla, o qual cruzámos para entrar em Ponte Ulla, pequena aldeia situada nas margens do rio Ulla.

Rio Deza - Ponte de Taboada

Os meus dois companheiros de Caminho optaram por fazer os poucos quilómetros que ainda faltavam para Compostela, pela N-525. Continuei no entanto pelo Caminho, embora soubesse que iria levar mais tempo a chegar. Depois de Ponte Ulla seguiu-se uma extensa subida, por uma largo caminho florestal, até chegar a uma estrada local por onde segui até à pequena povoação de Outeiro.




Silleda, igreja de “Santa Baia”

Num sobe e desce contínuo, acabei por passar pelo viaduto que cruza a linha de caminho de ferro, onde ocorreu em 2013 o fatídico acidente, de má memória, tendo prestado a minha modesta e sentida homenagem, deixando aí penduradas as luvas, companheiras de quatro Caminhos a Santiago. Pouco depois cheguei à “Calzada do Sar”, onde podemos desfrutar de uma magnífica panorâmica das torres da catedral.


Finalmente entrei na Praça do Obradoiro, descendo de bicicleta as míticas escadas da catedral, em jeito de manifestação de regozijo, por completar, outra vez, o Caminho...




Igrexa de Santa Maria Magdalena, Puente Ulla

De Cea a Santiago percorremos 92,71 km, num total de 394,58 km, distribuídos por cinco jornadas, desde que iniciámos o Caminho na cidade do Porto.

Foi um Caminho diferente comparativamente com os demais já percorridos até à presente data. A escolha pelo Caminho pela Geira, penetrando no coração da Serra do Gerês, foi, sem dúvida, uma excelente opção.



Santiago 4,593km
A prová-lo está a monumentalidade de Braga, plena de património religioso e arquitectónico, de interesse inexcedível, o prazer de passear no seu centro histórico numa fantástica noite de Verão, as dificuldades da subida ao Gerês, o gozo de disfrutar a frescura da Mata de Albergaria, com os maravilhosos cursos de água, para todos os gostos, bem como as cálidas águas do rio Caldo, na incrível zona termal de Torneiros, bem próximos de Lobios, depois de passar a Portela do Homem.


Praça do Obradoiro e zonas circundantes

O Caminho Natural de São Rosendo, entre Porto Quintela a Celanova, e desta bonita e monumental vila a Ourense, foi também uma experiência nova onde disfrutámos de paisagens incríveis, onde o esforço desenvolvido a pedalar foi sempre magnificamente recompensado pela gostosa gastronomia galega.




Tradicional descida da escadaria junto à Catedral

De Ourense a Santiago entrámos no espírito do Caminho, em toda a sua plenitude, no contacto com os demais peregrinos, nos períodos de introspecção enquanto se pedala através dos bosques mais recônditos, assim como na satisfação de vencer as dificuldades que se nos deparam.





Bom Caminho 

Ultreia e Suseia


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