terça-feira, 22 de março de 2016

VARIANTE ESPIRITUAL DO CAMINHO PORTUGUÊS A SANTIAGO – CAMINHO DE PONTEVEDRA AO SALNÉS EM 2015

“VILANOVA DE AROUSA – PRAIA DO TERRÓN”

O amigo João P. R. Simões falou-me na possibilidade de, no último fim-de-semana de Setembro, poder ir até à “Ria de Arousa”, na Galiza, para uma dupla jornada de caiaque. Logo me “pendurei” para o acompanhar, mas com a intenção de levar a bicicleta para pedalar pelas Rias Baixas.

E assim abalámos na “Princesinha” do Mondego até “Vilanova de Arousa”, em 25 de Setembro, onde chegaríamos próximo das duas da manhã de Sábado, ao parque de campismo "Paisaxe".








Indicações Caminho Santiago- Praia do Terrón

Aguardavam-nos a “Malta dos Caiaques”, naturalmente a dormir, dado o adiantado da hora, excepto os dois amigos de Braga, com umas “garrafinhas de vidro” para nos ofertar. Bem hajam. A montagem das tendas foi rápida, porque o desejo de descansar era grande.

Pela manhã, era impossível não acordar, dada a algazarra que "os maluquinhos das corridas" fizeram, logo que terminaram o seu treino em redor da ilha de "Arousa". Assim que chegaram Catarina, Manel, Gustavo e companhia, deixou de haver sossego no parque.




“Cambados  e Mar de Arousa”

Após o improvisado pequeno-almoço, assisti à azáfama do transporte de caiaques, pagaias, e outros acessórios, observando, com particular atenção, um espectáculo novo e diferente, a merecer captar a curiosidade de passeantes, tal a beleza proporcionada pelo colorido das pequenas embarcações e vestimentas dos “caiaqueiros”, a irromper mar adentro.

A juntar ao colorido, a alegria patenteada pelos actores, traduzida nas suas brincadeiras e partidas com que se brindavam mutuamente, enriqueceu de sobremaneira um excelente despertar. 

Absorto com a largada dos caiaques, quase tropecei numa seta indicativa do Caminho de Santiago. Ora, é precisamente em Vilanova de “Arousa” que termina a parte pedestre e ciclável da Variante Espiritual do Caminho Português de Santiago.

O itinerário marítimo-fluvial ou "Rota da Ria de Arousa”, começa na entrada da ria, deixando a estibordo as ilhas de “Ons” e “Onza”, ou “Onceta”.


Através de fogueiras avisava-se da chegada dos piratas à ria, a Torre da "Lanzada" enviava o sinal de fumo à “Torre de San Sadurniño” que o remetia à "Torre de Cálogo" em "Vilanova de Arousa" e esta, por sua vez, fazia-o chegar às Torres do Oeste, em "Catoira", colocando em estado de alerta e defesa toda a comarca e também Santiago de Compostela.

























A rota permite avistar a ilha de “Sálvora”, passa  diante de “Sanxenxo” e  contorna  “A Lanzada” na parte de Pontevedra,  e passa diante de Ribeira e “A Pobra do Caramiñal” na vertente corunhesa  da ria de “Arousa”.

Torre de San Sadurniño”, século X,
A singradura prossegue passando  defronte a “O Grove” e à ilha de “A Toxa”, permitindo avistar  as terras vitivinícolas de “Meaño” e “Cambados”.O percurso fluvial estende-se entre os municípios de “Valga” e “Dodro”, até chegar a “Pontecesures”, onde o rio deixa de ser navegável. A partir desta localidade entra-se novamente no Caminho Português.

Pois, enquanto a “Malta dos Caiaques” começava o seu passeio pela  ria de  “Arousa”,  eu abalei junto à costa, seguindo por Cambados  Sanxenxo, Raxo, Combarro, onde almocei,  dirigindo-me depois para Pontevedra, a fim de iniciar a “Rota do Salnés”.


Vista Panorâmica da Ria de Pontevedra

Bordejando quase sempre junto à ria, fui passando por algumas unidades de embalagem e transformação de pescado, em plena laboração, sempre na companhia do nevoeiro, adverso à captação de imagens de qualidade. 

Depois de uma primeira paragem para o indispensável café da manhã, entrei em Cambados, onde decorria uma feira muito frequentada por locais e uns quantos turistas.


"Combarro"

Em Cambados encontramos as ruínas da “Torre de San Sadurniño”,  mandada erigir no século X, no âmbito da edificação de um conjunto de fortificações para defesa da ria, num sistema defensivo, onde se incluíam também as fortalezas  de “A Lanzada" e as Torres do Oeste em “A Catoira”, para suster as incursões de pirataria, sobretudo dos vikings.

No topo das torres eram acesas fogueiras a fim de alertar as populações para os perigos da incursão dos piratas. Da edificação apenas restam dois corpos exteriores, evidenciando, no entanto, enorme beleza sumptuosidade.



Pontevedra - Inicio do Caminho de Pontevedra ao Salnés

A passagem por “Sanxenxo” foi breve,  apenas o tempo necessário para rodar devagar pela marginal oceânica. De Raxó até Combarro, onde tinha intenção de efectuar uma pequena pausa para refeição. 

"Combarro" tem como patrono São Roque, o seu centro histórico foi declarado bem de interesse cultural, constituindo uma excelente mostra representativa de três elementos arquitectónicos tradicionais da Galiza: os “hórreos” ou espigueiros,  as casas marinheiras e os cruzeiros.


Sinalética no Caminho

Assim que acabei de degustar um menu que incluía uma saborosa “empanada” de milho e berbigão, os tradicionais mexilhões, e uma tarte de galega, continuei a pedalar para Pontevedra, onde me dirigi para a zona histórica, mais precisamente à praça da Peregrina, onde de imediato avistei as indicações do Caminho Português, que segui até às imediações da cidade, até ao local da bifurcação do Caminho Português e da “Variante Espiritual do Salnés”.



"Monastério de San Xoan de Poio"

Os primeiros quilómetros na “Rota de Pontevedra ao Salnés” estendem-se por estreitas e sinuosas estradas asfaltadas, alternando com pequenos troços de caminho em terra.

Foi precisamente no final de um destes caminhos estreito e pejado de densa vegetação que encontrei uma edificação religiosa, a Igreja de “San Pedro de Campaño”, decorridos mais ou menos três quilómetros, avistei o Mosteiro de São João de Poio, onde cheguei pouco depois e tive oportunidade de observar um enorme “hórreo”, o maior da Galiza.


"Hórreo em San Xoan de Poio", o maior em toda a Galiza

O tempo era escasso e tive que prosseguir, descendo até “Combarro”, onde apreciei, mais uma vez a pitoresca localidade galega, deitada sobre a ria, com as pequenas casas e “hórreos”, plena de visitantes. 

Deixei “Combarro” a caminho de “Armenteira”, seguindo as setas indicativas do Caminho, pedalando por uma duríssima subida durante cerca de seis quilómetros.


Sensivelmente a meio fui ultrapassado por um ciclista que trazia um ritmo impressionante, deixando-me um pouco desmoralizado, face ao seu desempenho, que contrastava com o meu, bem mais exausto.

"Combarro"

Recordo que ao passar me desejou ânimo, e foi nesse instante que reparei que pedalava uma bicicleta eléctrica.

Foi então que prevaleceu o meu orgulho de ciclista e me deu "uma mosca maluca" para irromper no seu encalço, determinado em ultrapassá-lo, quanto mais não fosse na descida. para “Armenteira”.

Contudo, para minha surpresa, ainda o "cacei" precisamente no momento em que encontrámos uns cavalos selvagens, a que já não fui a tempo de fotografar, próximo do cume da pequena montanha de quase 500 m de altitude, mas de altímetria considerável

"Monasterio de Santa Maria de Armenteira"

Foi magnífica a descida até ao Mosteiro de Santa Maria de Armenteira, de estilo renascentista e barroco, dos séculos  XVI e XVII. O mosteiro conserva ainda a magnifica igreja românica erigida pelo seu primeiro abade cisterciense, no ano de 1167.

A igreja é de planta de cruz latina, com três naves e três absides. O portal é, talvez, o que mais se destaca do templo, com as suas seis arquivoltas apoiadas sobre outros tantos pares de colunas, encimados por uma formosa rosácea.





"Ruta da Pedra e da àgua"

Um casamento decorria no Mosteiro de Armenteira, o que impediu que desfrutasse, na plenitude, a visita ao edifício e como a noite se aproximava a passos largos, não foi possível uma boa captação de imagens, quer do Mosteiro quer do deslumbrante percurso que se seguiu, o Caminho da Pedra e da Água, ao longo do rio Armenteira, onde é possível apreciar moinhos e levadas, envoltos em vegetação. Uma quadro deveras singular.



"Ruta da Pedra e da Àgua"

A partir de “Ribadumia”, até “Vilanova de Arousa”, o percurso foi efectuado a grande ritmo, pela "Rota do rio Umia". Também não foi possível tirar o devido partido deste magnífico troço, vez que já tinha caído a noite e era preciso ir ao encontro da “Malta dos Caiaques”, a fim de encerrar a jornada em convívio o qual decorreu em "Vilanova de Arousa", corolário de uma excelente jornada, tanto em caiaque  como em bicicleta.




"Ruta da Pedra e da Àgua" - moinhos e levadas.

Para percorrer a totalidade da Variante Espiritual, de Pontevedra a “Vilanova de Arousa”, foi preciso vencer 46 km e uma “montanha de 2ª categoria” de um total de 100 km percorridos na jornada, um dia fantástico, desfrutando de bons trilhos, com magníficas paisagens e de uma excelente gastronomia. 

O dia seguinte foi de descompressão, com uma volta em redor da lindíssima ilha de "Arousa", um passeio de aproximadamente 25 km, em jeito de descanso da jornada anterior.


3 comentários:

Unknown disse...

Viva, boa tarde!
Tenho seguido um pouco o seu blog, uma vez que tenho particular interesse pelos Caminhos de Santiago e tudo o que diga respeito a umas boas pedaladas. Gostaria de saber se me poderia ajudar a indicar com mais precisão as indicações, se é que elas existem, desde a Sé do Porto, tomando o Caminho da Costa.

Muito obrigado e parabéns pelos testemunhos!
Carlos Gaspar

AJSoares disse...

Boa noite
Caro Carlos Gaspar, o Caminho da Costa está muito bem sinalizado. Contudo no Porto tem duas opções, a primeira é seguir as setas a partir da Sé, tomando a direcção de São Pedro de Rates e daqui para Esposende. A segunda opção é descer até à Ribeira, seguir pela Marginal até à Foz, onde irá encontrar as setas, seguindo para Matosinhos Angeiras, etc. Em Caminha tem duas opções novamente, a primeira é seguir até Valença, onde irá encontrar o Caminho Central. A segunda é atravessar para A Guarda, seguindo até Baiona, A Ramallosa, O Freixo, Vigo e em Redondela entronca no Caminho Central. À saída de Pontevedra tem a hipótese de optar pela Variante Espiritual de O Salnés, que muito apreciei.
Boa noite e Bom Caminho.

Unknown disse...

Bom dia António José,
Obrigadíssimo pelas dicas. Pode ser que um dia destes possamos dar umas pedaladas...

Cumprimentos,
Carlos Gaspar