segunda-feira, 6 de julho de 2015

Skytrail, Lousã-Açor-Estrela,

2.º dia, do Fajão a Alvoco da Serra

Sala transformada em albergue

A fadiga acumulada ao fim do primeiro dia começava a fazer alguns estragos no seio do pelotão, com alguns dos cicloturistas a ressentirem-se de um esforço a que não estão normalmente habituados, o destaque vai, por inteiro, para o Rui Salgado, sem dúvida o elemento que apresentava as maiores queixas.

Com a sala Fajão-Cultura, da Junta de Freguesia, transformada num autêntico albergue, à imagem dos Caminhos de Santiago, a noite antevia-se animada, aqui e ali abrilhantada por música de percussão original e de bom nível, com artistas exímios na execução.
Fajão - casario em xisto

Na verdade não foi fácil tranquilizar os rebeldes do pelotão, no entanto a fadiga acabou por falar mais alto, e, mesmo com a persistência de alguns ruídos, a quietude da noite instalou-se quase por completo.

Pouco tempo depois de surgirem os primeiros raios de sol, prepararam-se as bicicletas com os alforges e seguimos em romaria até ao único café aberto na localidade.




Fajão - Aldeia de Xisto
O que se pedia para a segunda jornada, era, no mínimo, que igualasse a excelência da primeira. O sol radioso que se fazia sentir, perspectivava um dia magnífico. As coisas não começaram por correr muito bem, com o pequeno-almoço a decorrer com alguma lentidão, foi  mesmo preciso dar ajuda à simpática Senhora, septuagenária, proprietária do único café aberto naquele Domingo de manhã.

Antes de partirmos importava ainda conseguir algumas fotos da bonita povoação do Fajão, especialmente do seu casario, maioritariamente em xisto.


A vieira no penedo do Fajão
Finalmente o início da 2.ª jornada, com a subida em asfalto a pedir algum empenho. À medida que nos afastávamos, aldeia que ficava para trás, acomodada sobre a encosta, fazia lembrar um presépio. Interessante, pela sua dimensão e localização, é uma enorme vieira que preenche parte de um enorme penedo, a fazer lembrar os Caminhos de Santiago. Na verdade o conhecido geógrafo árabe,  da Idade Média, Al-Idrisi, assinalava uma das rotas de Santiago a passar próximo desta sub-região.


A predominância da urze na vegetação
Depois de  pedalarmos cerca de 4 km por uma via em asfalto, enveredámos por um fantástico estradão de terra, com as encostas pintadas de roxo aqui e ali mescladas com flores amarelas, que nos iria levar ao ponto mais alto do Açor, o Pico do Cebola. Em qualquer dos pontos da serra a vista é sublime. Daqui pode avistar-se a Estrela, a Lousã e o Caramulo.

A subida, suave, permitia pedalar a bom ritmo. Quando finalmente encontrámos o cruzamento para o “Cebola”, o caso mudou de figura. Pela frente uma terrível subida, com muitas pedrinhas soltas e uma percentagem de inclinação bastante assinalável.

Subida ao Pico do Cebola
Contudo todos cumpriram a sua parte, e, com maior ou menor esforço, o destaque vai inteirinho para o pelotão, que subiu compacto, excepção feita a dois elementos, que no entanto não se atreveram a deixar a equipa.

O prémio da subida foi, sem dúvida, a satisfação da chegada ao ponto mais alto. A captação de imagens que permitem lembrar ou perpetuar mais tarde os momentos inesquecíveis, são instantes em que nos sentimos recompensados de todo o esforço dispendido.

Junto ao marco geodésico 1418m
Seguiu-se uma descida alucinante que teria o seu termo na pequena e pitoresca aldeia de Sobral de São Miguel. Como não fui dos primeiros a partir tive oportunidade de ver os meus companheiros a rodar em fila, a uma velocidade incrível, apenas abrandando no momento de subir o pescoço de uma ou outra elevação. Contudo, logo que coloquei a bicicleta no caminho e me senti empurrado a pedalar, não me apeteceu abrandar nas pequenas elevações e resolvi imprimir um ritmo forte, para manter a velocidade.

Açor

Não há dúvida que sentir o vento a favor é extremamente agradável, e assim fomos, rolando a bom ritmo pela cumeeira, até começar a descer para Sobral de São Miguel, internando-nos por um pequeno bosque de farta vegetação, por um percurso onduloso, ao qual resolvi responder com pouco travão, só ouvindo o barulho de pedras a serem projectadas.



Sobral de São Miguel
Casario em xisto
Absorvido neste percurso, tortuoso e rápido,  sem me dar conta, cheguei de forma inesperada à bonita e acolhedora povoação de Sobral de São Miguel, onde parecia que já nos aguardavam o Virgílio e a Carla.



De facto, mal cheguei, perguntei a um grupo de pessoas que aproveitavam o Domingo soalheiro para trocar uns dedos de conversa, onde poderia encontrar sítio para comer. Respondeu-me o Virgílio que teria de ser na povoação mais próxima, 8 km a subir.

À espera do almoço
Perante o espectro de um bom empeno, que  já se adivinhava, eis que o Virgílio e a sua companheira Carla, resolvem salvar o pelotão, oferecendo-nos na sua moradia, junto ao rio,  aquela que viria a ser uma excelente refeição. Os breves momentos que aqui passámos ficam eternizados pela marca de generosidade e lição de humildade dada por esta gente de bem, pessoas que labutam com estoicismo no seu dia a dia, e que desta forma, simples e desinteressada, nos ofereceram o que é seu, sem pedir nada em troca.  

"A Pequenina"

E foi assim, sentados à mesa, junto ao rio, que disfrutámos da generosidade da família destes novos amigos. E, caso raro até a “Pequenina” e seu marido, um casal de suínos castiços, desceram umas escadinhas e vieram lá da outra margem confraternizar connosco. Fantástico!




Em confraternização
A história do percurso de Sobral para Alvoco da Serra, quase ficou ofuscada, perante a singularidade dos momentos atrás descritos. A paisagem continuou na linha da anterior, com a novidade de seguirmos por estrada em asfalto.







Chegada a Alvoco da Serra
Alvoco da Serra
A anteceder a chegada a Alvoco, tempo para usufruir de uma descida rápida, com as vertentes das encostas pintadas de roxo. A esperar-nos, nesta bonita vila serrana, encontrava-se a Senhora Presidente da Junta, com a sua amabilidade, permitiu que nos acomodássemos em instalações da Junta de Freguesia.




O dia não podia terminar sem uma incursão pela povoação, que aconteceu depois do jantar, nas instalações do Centro Cultural e Recreativo de Alvoco. 

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