segunda-feira, 29 de abril de 2013

Caminho Português de Santiago - VII

Segunda Feira, 6 de Agosto.  Oseira - Santiago de Compostela.

Último dia de Caminho, acordámos cedo, pelas 06:00, o objectivo da jornada, para além de chegar a Compostela, seria o de conseguir alojamento em Redondela, onde no dia seguinte apanharíamos o comboio até ao Porto e daqui a Coimbra.


Alvorecer em Oseira
Àquela hora madrugadora, foi preciso andar perto de 10 km para encontrar a primeira localidade, Dozón, para a primeira refeição do dia. É fundamental para quem viaja deste modo as refeições bem repartidas, bem como a hidratação. Assim, depois de alguns quilómetros a pedalar em jejum, o pequeno almoço soube a pouco, embora tivesse chegado em boa hora.
Em Lalin, enquanto o Aguiar e o Joaquim continuaram pelo caminho, tive necessidade de procurar una tienda, a fim de substituir o pneu da roda traseira e mais umas pequenas afinações na bicicleta. Enquanto aguardava, decidi fazer uma incursão a pé pela cidade. Como ainda faltava muito para pedalar até Santiago, achei por bem reforçar o pequeno almoço. 
A pequena cidade de Lalín , à semelhança da Mealhada, em Portugal,  confere ao porco as honras de estátua, em praça pública. A frequente utilização de carne suína na culinária, com especial destaque para o cocido, é um hábito nestas paragens.
Igrexa de Santiago de Taboada
Parte do itinerário  até Compostela, processa-se paralelo à estrada N525. No entanto o Caminho faz-se em grande parte por frondosos bosques, agradáveis de percorrer. Nesta altura do ano o afluxo de peregrinos é maior, e, à medida que nos aproximamos  do final maior número de pessoas se encontram.
Neste último dia cada um fez o seu Caminho, como me encontrava praticamente no limite das minhas capacidades era importante gerir muito bem o esforço, para chegar a bom porto. Depois de Lalín, sem que percebesse, acabei por passar pelos meus amigos, enquanto procediam a uma pausa. 
Igreja de São Martinho Dornelas, Silleda
Pouco depois de Silleda, porque já era hora, parei num pequeno restaurante familiar. Fui atendido por uma simpática senhora, que acumulava as funções de cozinheira e empregada de mesa, apenas com a ajuda de um jovem rapaz e lá ia tomando conta de tudo. O meu desejo era comer uma sopa de  legumes e uns tapas. Como não tinha sopa de legumes, foi-me sugerida uma favada, algo semelhante à nossa sopa da pedra, embora um pouco mais leve. Aceitei o conselho, mas pedi primeiro que me fosse servida uma pequena porção de tortilha. Para acompanhar o café, foi-me oferecida uma saborosa fatia de pão de ló, que aceitei e muito agradeci.
Grupo de peregrinos em Taboada - Foto Joaquim Tavares
A pausa para refeição foi aproveitada para relaxar e alguns dedos de conversa com os irmãos galegos. Apenas faltariam cerca de 30 km para Compostela, contudo as dores musculares já me iam apoquentando.  
Ponte sobre o rio Ulla
Era altura para pôr novamente a bicicleta no Caminho Santiago. Em Puente Ulla, no exterior da igreja de Santa Maria Magdalena, um numeroso grupo de peregrinos aproveitava a sombra para descansar. 
Igrexa de Santa Maria Magdalena, Puente Ulla
Após Puente Ulla, foi preciso vencer mais algumas subidas. Perante a proximidade da chegada, parecia que as forças tinham voltado, e as dores muscular pareciam ter desaparecido.
Muito próximo de Compostela, o verde que domina a paisagem galega
No albergue de Vedra procurei o reabastecimento de água, que não chegava a pouco mais que umas gotas. Procurei passar despercebido no albergue, mas logo fui abordado por uma jovem castelhana perguntando se procurava ficar no albergue, informando que o mesmo já estava lotado, mostrou curiosidade para saber de onde vinha, perguntas recorrentes entre quem viaja, após mais alguns dedos de prosa desejámos mutuamente um bom caminho.
Peregrino a Santiago
Por fim a vista sobre as torres da catedral, uma rua em calçada, a descer, levou-me à entrada de Compostela. A enorme sede que levava, foi saciada com a fruta comprada mal entrei na urbe. Exagerei ao encher ainda mais os alforges com ameixas, pêssegos, uvas e bananas.
Ao fundo, quase imperceptíveis, as torres da Catedral de Compostela.
Depois de me misturar com a multidão, entrei na Plaza de Obradoiro descendo perigosamente, de bicicleta, as escadas adossadas à catedral.
Joaquim e Aguiar à saída da Oficina do Peregrino
Antes das tradicionais fotos na praça, corri à Oficina do Peregrino, a fim de solicitar a aposição do selo na credencial e obter a Compostellana.
À chegada, na Praça do Obradoiro - Foto Joaquim Tavares
A dois dias de completar 50 anos de idade, cumpri a última etapa, desde Santa Maria de Oseira, 101,71km e 594 km desde a cidade de Coimbra. O esforço valeu a pena, a experiência vivida foi inteiramente gratificante. 
José Aguiar, António Carvalho e Joaquim Tavares
Uma menção especial aos amigos José Aguiar e Joaquim Tavares, o meu agradecimento pela paciência, sobretudo nas ocasiões em que tiveram de esperar por mim. Foi a primeira vez que fiz o Caminho em deploráveis condições físicas, sobretudo tendo em conta que o Caminho Português, por terras do interior, apresenta um grau de dificuldade superior relativamente a vias de peregrinação mais litorais, os designados Caminho Central e pela Costa.


A magnificente Catedral de Santiago de Compostela
Após a obtenção da Compostellana, seguimos para a estação ferroviária, onde apanhámos o comboio para Redondela, aqui chegados, de imediato procurámos lugar no albergue de peregrinos, que se encontrava lotado. A solução foi dormir num pavilhão gimnodesportivo local, onde já se encontravam um considerável número de portugueses, a caminho de Compstela. 
A partir das 22:00 horas não era permitida a entrada no pavilhão, assim tivemos que nos despachar para a refeição da noite, na esplanada de uma pastelaria que encontrámos e onde pudemos escolher rodízio de tarte galega, de excelente degustação, regressando logo de seguida ao pavilhão para tentar dormir.Na manhã seguinte rumámos de comboio até ao Porto e daqui a Coimbra. 

1 comentário:

Sara disse...

Após uma longa viagem não deve haver nada melhor do que comer um delicioso almoço Espero que você tenha feito a minha sempre que eu passar esse tipo de coisa que eu gostaria de ir para comer algo delicioso para kosushi