Pelas Rias Baixas: Puente Sampayo, "Vrea Vella de A Canicouba", Pontevedra.
"Puente Sampaio - Rio Verdugo" |
"Puente Sampaio" |
No “Lar de Pepa”, albergue em que pernoitei depois da extenuante e magnífica jornada de Caminha até Arcade, relatada na Edição 42 da "Passear", mal saí do quarto, abeirei-me do terraço onde contemplei o casario que se estende até à ria de Vigo.
Depois de examinar as nuvens e tentar adivinhar se a chuva me acompanharia na jornada, recolhi ao quarto com o intuito de arrumar os alforges, inspeccionar a bicicleta e, por fim, partir para a derradeira jornada do Caminho Português de Santiago, pela Costa.
"Puente Sampaio, Ponte Nova -Rio Verdugo" |
Em "Puente Sampaio" a passagem sobre o rio Verdugo é efectuada através da Ponte
Nova, ponte medieval de inegável beleza, construção de elevado valor arquitectónico. O seu enquadramento e o enorme espelho que as águas do rio proporcionam convidam à captação de raros instantâneos fotográficos.
Bem no meio da ponte, uma pausa para uns momentos de conversa com duas simpáticas peregrinas naturais da Galiza, que acederam em captar o momento da
minha passagem em Puente Sampaio. Depois de breves momentos de conversa sobre o "Caminho", urgia prosseguir em direcção a Pontevedra.
Peregrinas a Santiago |
Com algum esforço lá fui subindo pelo antigo caminho empedrado, até à encruzilhada para “Nuestra Señora de Amil”, por um troço frequentado desde épocas mais remotas e onde são bem visíveis as marcas das rodas dos carros, sulcadas ao longo do tempos nas velhas lousas.
“Vrea Vella da Canicouba” |
A aproximação a Santiago de Compostela é sempre motivo de alegria e satisfação, mas, por outro lado, se pensarmos que é sinónimos de final de “Caminho”, com o inerente regresso ao bulício do quotidiano, então o sentimento é antagónico, advindo daí alguma insatisfação. É o Caminho...
Igreja Peregrina - Pontevedra |
Ponte do Burgo - Pontevedra |
Domingo em Pontevedra, na cidade ainda adormecida, predominava a presença de peregrinos entre os poucos transeuntes e fascinas de estabelecimentos.
Pontevedra dá também o nome à província, capital das “Rias Baixas”. É indubitavelmente uma das cidade históricas da Galiza, detentora de um vasto e valoroso património arquitectónico merecedor da nossa atenção.
Em Santa Maria de Alba |
Resolvi seguir pela rota tradicional, uma vez que a opção pelo Salnés implicaria mais um dia de caminho e ligeira derrapagem nos custos da viagem. Adiei, assim, para uma próxima oportunidade.
Após a passagem sob a linha do caminho de ferro, depois de uma ligeira subida alcancei a Igreja de “Santa Maria de Alba” com uma imagem do Apóstolo no cemitério. Muito próximo fica o antigo lugar de “Goxilde”, onde o Arcebispo “Xelmírez” descansou com as suas hostes, a caminho de Compostela, depois de efectuar o famoso “Pío Latrocínio” de relíquias em Braga.
Espírito do Caminho
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Continuando a pedalar na manhã fresca e molhada, o verde sombrio da vegetação convidava ao recolhimento espiritual, mesmo a pedalar, ora pelos bosques de carvalhos, castanheiros e outras espécies, aqui e ali com pequenos cursos de água a completar um quadro paisagístico notável, ora por campos agrícolas tratados com afeição e harmoniosamente dispostos.
Ponto de encontro de peregrinos |
O Caminho passa, entre outras, bem no centro das povoações das de Caldas dos Reis, Iria Flavia”, “Padrón”, “Esclavitude”, com a sua fonte milagrosa e o esplendoroso exemplar do barroco que é o “Santuário da Eslavitude”, séc. VII-XVIII.
O encontro com peregrinos foi uma constante |
Peregrinos a Santiago |
O convívio, a entre ajuda e a solidariedade, estão presentes em todos os que procuram vivências nas peregrinações a Santiago e assim é comum ouvir-se falar do Espírito do Caminho a todos quantos o percorrem ou percorreram.
Um dos momentos mais gratificantes nesta minha última jornada aconteceu numa paragem para reabastecimento alimentar, efectuada no albergue “Catro Canos”, propriedade de Manuel, que junto com a família mantêm este mítico espaço aberto e proporcionam um acolhimento de excelência aos peregrinos, quer no trato ou no repasto.
Em cima: Albergue "Catro Canos", Em baixo: Caldas dos Reis |
No “Catro Canos” estão assinalados 24 km na direcção de Ponte Pontevedra e 44 km a Santiago. Somando os cerca de 10 km de Arcade até Pontevedra, significa que já tinha pedalado cerca de 34 km.
Antes de alcançar “Pontecesures” encontrei dois portugueses de Viseu, a fazer pela primeira vez o Caminho de bicicleta, bons conversadores, acabámos por fazer parte do caminho juntos, mas perto do final pedi que fossem andando, uma vez que estava sempre a parar para captar imagens.
Em cima: Concelho de Valga. Em baixo: "Pontecesures", Fonte Santa - "Esclavitude" e Espigueiro |
Levar o circo de uma grande prova velocipédica para um espaço de características tão próprias, que nunca deve estar vedado a peregrinos! ... Enfim!…
Com a "Compostela" do Caminho da Costa 2014 |
Foi então que decidi partir de imediato em direcção à gare, onde, para além de adquirir bilhete, tratei de providenciar uma pequena refeição, para depois partir de comboio com intenção de pernoitar em Redondela.
Um regresso atribulado, ou uma história dos Caminhos...
De Vigo a A Guarda, por Baiona
Vigo, zona portuária |
Às 20:00, iniciei o regresso no comboio da Renfe, nos primeiros minutos de viagem ainda mantive os olhos vigilantes, mas pouco tempo depois não resisti ao cansaço e adormeci ali mesmo na composição. A distracção saiu bem cara, pois pretendia dormir no Albergue de Redondela, para, no dia seguinte, viajar de comboio até Portugal. Ora de repente estou na estação de Vigo, apenas com vinte euros no bolso, a ter que encontrar dormida.
Necessariamente seria preciso algum dinheiro mais para dormir numa pensão, por mais barata que fosse.
Navio de pesca Coimbra na doca de Vigo |
Amavelmente disse-me que dormiria em casa dele, só que a mesma dista de Vigo para aí uns 70 km. Mas, não podendo ajudar de outra forma, lembrou-se de me enviar o número de telefone de Luís Freixo, que dirige um Albergue na zona da Ramallosa e tem sido um dos grandes dinamizadores do Caminho da Costa.
No entanto o Luís Freixo não me atendia o telefone. Continuando então a procurar alguns alojamentos, sem sucesso. Fazia já cálculos para regressar de bicicleta, nessa mesma noite, para Portugal, empresa algo arriscada e nada recomendável, quando surgiu a minha salvação.
O Luís devolvia-me a chamada, ante o meu relato, depressa me aconselhou a não seguir de noite de bicicleta. Demasiado arriscado.
Depois de efectuar alguns contactos ligou-me novamente com novidades. Tinha-me conseguido alojamento mais acessível monetariamente na pensão "Três Países", nas imediações do "El Corte Inglês".
Para além de me ter salvo, mais me disse que, caso necessitasse, na manhã seguinte poderia dirigir-me ao "Mezon Plaza", café que habitualmente frequenta, tendo sido o que aconteceu.
"Ramallosa" |
Com apenas um euro e alguns cêntimos no bolso até chegar a Portugal, decidi empregá-los em fruta e assim abalei para Portugal, em direcção à zona portuária, seguindo depois pelo "Samil", "Ramallosa", Baiona, em suma fiz o percurso inverso do Caminho da Costa, até Caminha.
Baiona |
Pela ciclovia de Baiona a A Guarda |
E foi assim, a lutar contra o vento que, esgotado, cheguei ao albergue Aguncheiro. Entrei e falei que o amigo Luís Freixo me recomendado ali parar.
Imagem do vento Sul |
"Aguncheiro - em Mougas" |
Finalmente a 1,5 km de A Guarda, apareceu o João Paulo Reis Simões, que me foi resgatar a Caminha, respirei finalmente de alívio e satisfação.
Não me posso lamentar de falta de apoio dos amigos, neste caso o JPRS, já em 2007, quando finalizei o Caminho Francês, também me transportou de Santiago de Compostela até Coimbra. Agora foi a vez de me A Guarda salvar-me do vento Sul, que afrontava a pobre da Trek.
Espero bem que me acompanhe um dia com a sua bicicleta, quem sabe em 2015? Em 2014 já ensaiou os primeiros 100 km entre Aveiro e Porto.
Santa Maria de Oia |
Por fim os meus agradecimentos a quem me apoiou na empresa solitária, à Sandra Marina, ao João Paulo Simões, José Botelho, Joaquim Tavares, António Pedro, à Carolina e à Mariana, pelas mensagens de incentivo.
Um agradecimento especial a dois amigos da Galiza, o José de La Riera e o Luís Freixo, que me ajudaram numa altura difícil. Obrigado a todos e Bom Caminho.
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