sábado, 5 de setembro de 2015

1.º Dia do Caminho Português de Santiago, por Celanova - Do Porto a Braga

Porto - Campanhã

Domingo, 26 de Julho de 2015.

Com o despertador apontado para as 5:00 H, não podia, de forma alguma, perder o comboio regional na Estação Velha, também baptizada de "Apeadeiro Velho"de Coimbra, uma vez que há muito tempo está a precisar de remodelação. 

Dei assim inicio, pela quarta vez consecutiva, ao Caminho Português de Santiago de Compostela, desta vez a partir do Porto, procurando seguir o Caminho da Geira Romana ou Via Nova, que ligava Braga e Astorga, passando por Rendufe, Caldelas, Sta Cruz - Amares, Covide, Campo do Gerês e Portela do Homem. 

Na Galiza, depois de Lobios continuámos por uma variante complementar da via nova antoniana, marcada a partir de Porto Quintela e seguindo por Bande, Celanova e Ourense, entrando a partir daqui na Via da Prata, ou no Caminho Sanabrês. Embora no ano transacto tivesse feito o Caminho da Costa, apenas na companhia da bicicleta, este ano voltou a reeditar-se o trio, que para além do autor destas linhas é constituído pelos amigos Joaquim Tavares e José Botelho.





Embora a CP assinalasse o transporte de bicicletas como possível entre Coimbra e o Porto, apenas conseguimos viajar atendendo à boa vontade do Revisor, ao qual estamos gratos, uma vez que permitiu que transportássemos as bicicletas numa composição sem estar preparada para o efeito.


E assim continuam os Caminhos de Ferro de Portugal, com uma magnífica estratégia para atrair cada vez mais passageiros, por um lado convidando-os a transportar as bicicletas nas composições, depois, bem... depois apresentam carruagens que não estão preparadas para o efeito, vá-se lá saber porquê, convidando os passageiros a ficar em terra. Enfim, num serviço que se exige cada vez mais excelência, primam pela vulgaridade...

Finalmente, depois de devidamente acomodados na composição, com invenção de espaço para as bicicletas, lá prosseguimos tranquilamente a viagem para o Porto.



Porto - casario
Na mesma carruagem, seguia uma senhora, ex: emigrante em França e uma jovem peregrina francesa, da região de Bordéus, Habibe, de seu nome, que ao chegar a Burgos decidiu abandonar o Caminho Francês e viajou para Portugal, a fim de percorrer parte do Caminho Português, para fugir ao grande afluxo de peregrinos que invadem o Caminho Francês nos meses de Julho e Agosto.



Sinalização do Caminho

No decorrer da conversa, e à medida que escutou atentamente o relato que efectuei do Caminho, em Portugal, a jovem acabou por mudar de ideias e rumar a Fátima de comboio, para aí iniciar a sua peregrinação até Santiago, pelo Caminho Central. 




Porto, estação da Campanhã, o dia dava sinais de querer sorrir, com a manhã bastante agradável, o que fazia antever uma excelente jornada. 



E assim iniciámos o Caminho, descendo da Sé à Ribeira, seguindo pela margem direita do Douro, com uma paragem na rua do Passeio Alegre, no Paparoca da Foz, para beber um café e um bolo, convivendo com o despertar da "Invicta". Prosseguimos pela Foz, até ao Castelo do Queijo, e tudo corria bem, mas...



Castelo do Queijo
Ao chegar ao Senhor do Padrão, em Matosinhos, o primeiro percalço do dia, a roda de trás começava a apresentar sinais de alguns problemas, contudo deu para prosseguir.



Senhor do Padrão
No Senhor do Padrão, cruzámo-nos com um numeroso grupo de ciclistas, continuámos a nossa viagem pela zona portuária e depois de passar a ponte seguimos novamente em direcção à orla costeira, com paragem obrigatória na "Casa Da Chá", um dos primeiros projectos do grande arquitecto Siza Vieira, mesmo ao lado da Capela da Boa Nova. 


Casa Da Chá - Matosinhos
Ainda em Matosinhos, junto à praia do Aterro, o problema na roda agudizava-se, urgia efectuar uma observação mais atenta, uma vez que o aro não dava sinais de estar empenado, foi assim que me deparei com uma enorme "borrega" no pneu, que tudo indicava ter as telas partidas. 


Capelinha da Boa Nova - Matosinhos
Fui andando, outra solução não havia, entretanto estávamos às portas de Vila do Conde, na Azurara, e  pensei que aqui poderia resolver o problema. Engano o meu, a um Domingo é sempre difícil encontrar lojas de bicicletas abertas, a não ser nas grandes superfícies, e mesmo em Vila do Conde só encontrei lojas fechadas.


Passadiços - Caminho da Costa
Face à ausência de lojas abertas onde pudesse resolver o problema, valeu-me a atenção e curiosidade um ciclista local, que lastimo não me recordar do nome, que se dispôs a acompanhar-nos até encontrar uma via de resolução do empeno. E assim depois de tanto perguntar, a esperança era uma loja nas Caxinas estar aberta, o que felizmente sucedeu, e após a substituição do pneu, lá pudemos prosseguir. Obrigado amigo.

Das Caxinas à Póvoa do Varzim foi um salto, no entanto não podíamos rolar a mais que 10 kmh, face ao mar de gente que deambulava na zona das praias.



Furo antes de chegar ao  Fão
A primeira parte da jornada terminaria na foz do Cávado, na vila de Fão, contudo antes de aqui chegar, aconteceu o segundo percalço, desta vez foi o José Botelho que teve de remendar um furo na roda de trás da sua bicicleta.

O bar do quartel dos Bombeiros Voluntários de Fão, foi o local escolhido para almoçar, com o tempo a dar sinais de querer mudar, ameaçando mesmo chover. 


Ponte do Fão
Estuário do Cávado
Após o repasto, seguiu-se uma pequena sessão de captação de imagens do estuário do Cávado, a partir da ponte do Fão. Daqui prosseguimos pela EN 13 e depois pela EN 103-1, em direcção à cidade de Barcelos, onde se torna impossível não ceder à tentação de fotografar a excelente panorâmica sobre o Cávado e alguns do seu património mais emblemático. 


Por certo muitos já conhecem a lenda, mas, para os que nunca tiveram oportunidade de ficar a conhecer, aqui fica a lenda do galo de Barcelos:





A lenda do  Galo 
"Havia em Barcelinhos uma forca e perto dela, à beira da estrada velha, uma estalagem muito concorrida, famosa pela formosura da sua dona.
Certo dia, um romeiro que cumpria um voto São Tiago de Compostela pernoitou na estalagem.
A estalajadeira ficou logo enfeitiçada de amores por ele, mas o peregrino não foi acometido da mesma paixão, por estar em jornada piedosa. A mulher, despeitada pela indiferença do homem, urdiu a sua vingança, escondendo-lhe na bagagem um valioso talher de prata.
Na manhã seguinte, o peregrino foi preso por ladrão, quando lhe encontraram as peças de prata no bornal. Levado à presença do juiz que se preparava para almoçar um galo assado, o homdm jurou-se inocente, mas perante as provas e segundo o costume, o juiz condenou-o à forca.
O peregrino, subitamente inspirado pela intervenção Divina, disse então ao juiz:
- Sou inocente e este galo assado irá cantar e provar a minha inocência. No momento em que penduravam o homem na forca, o galo levantou-se e cantou mesmo.
O juiz, perante o milagre, correu à forca e encontrou o peregrino pendurado pelo pescoço, mas salvo por São Tiago que o segurava pelos pés."

Pereira, Domingos J., Nova Memória Histórica da Villa de Barcellos, 1877




Barcelos
A cidade encontrava-se pejada de gente, neste último Domingo de Julho, pedalámos até ao largo, onde se situa a Igrejinha do Bom Jesus da Cruz e retrocedemos pela mesma rua, com paragem no mesmo local onde em 2013, aquando do Caminho Central Português tínhamos efectuado uma paragem para um café, acompanhado por uma deliciosa bola de Berlim. Desta vez só mesmo uma coca-cola. 

Albergue de Braga
Ansiosos por chegar ao destino previsto para o final da primeira jornada, rapidamente voltámos à estrada chegando a Braga ainda cedo, ligeiramente fatigados, em parte pelo calor que se fazia sentir.



Braga, no restaurante Moçambique
Depois de procurar o albergue que fica junto à Sé, onde funciona uma associação com jovens voluntários que prestam apoio a pessoas carenciadas, e que também presta apoio aos peregrinos a Santiago, aos quais
Braga - Arcadas
agradecemos o acol
himento, logo nos instalámos e preparámos para a agradável final de tarde/noite que desfrutámos, passeando pela ancestral Cidade dos Arcebispos.

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