Torres do Mondego - Penacova - Serra da Aveleira - Mata de Vale Canas
O Mondego visto da margem esquerda, próximo das antigas minas de chumbo de Barbadalhos ou do Zorro. |
Em 1987, Nélson Correia Borges, na sua 1ª edição, do volume 6, da colecção dos Novos Guias de Portugal, sob o título “Coimbra e Região”, abre assim a "Introdução Geográfica":
“Região de mil matrizes, a descer do cimo do
Buçaco e da Lousã, até às planuras arenosas da beira-mar, tem de tudo um pouco
para oferecer, desde o mais erudito ao popular. As cidades, vilas e aldeias,
com seus monumentos, ruas e gentes, surpreendem sempre personalizadas e
simultaneamente participantes, da paisagem de sonho, que o poeta pôde sentir de
perfeição celestial:”
Na esteira do que escreveu, cita Miguel Torga,
no Diário VII:
“O mal desta paisagem de Coimbra
é que não tem arestas que o corpo e o espírito precisem de limar. Ambos
deslizam por ela como enguias no lodo. E a longa história do convívio humano
com a suavidade das suas formas é um equívoco dramático. Cuida cada mortal, que
caminha ainda no chão, e passeia já na bem-aventurança.”
A obra de Borges, mais que um guia, é um verdadeiro romance
sobre Coimbra, cidade e região. Motivado pela sua leitura, resolvi avivar a memória sobre estes lugares, percorrendo-os de bicicleta, experimentando alguns destes percursos ainda desconhecidos e embrenhando-me por lugares com história, de diversificada
e bonitas paisagens, em redor de uma cidade e região de encantos e encontros.
O Mondego na Portela, no horizonte as Torres do Mondego |
Passando sob a ponte da antiga linha de caminho-de-ferro da
Lousã, percorridos cerca de 2 km, alcancei as Torres do Mondego, outrora
pertencente a São Pedro de Coimbra e Santo António dos Olivais e hoje sede de
freguesia com o mesmo nome.
Situada no dorso da encosta o casario em presépio estende-se até ao rio, num beijo quase perfeito. Por aqui se encontram excelentes locais de lazer, junto às
margens, principalmente no Verão.
De criação recente, a Praia Fluvial dos Palheiros,
situada na freguesia das Torres do Mondego, conta com excelentes
infra-estruturas de apoio, com bar e outros equipamentos essenciais. Mas o
destaque vai para a excelente qualidade da água a que se associa um
envolvimento paisagístico notável.
Torres do Mondego e o rio, no Penedo do Corvo mítico local que atravessou gerações |
Praia Fluvial da Freguesia de Torres do Mondego |
Para completar o conjunto de lugares da freguesia de Torres,
que convivem com o rio, o Porto Meio, o Casal da Misarela e a Ribeira
proporcionam também boas alternativas para caminhadas ou programas com
bicicletas. O verde domina a paisagem e a simbiose com a água completa um quadro encantador.
Entre a Portela do Mondego e Penacova, torna-se difícil
escolher qual o trecho mais belo do rio, se a Pedra Aguda com os seus recantos se o
Caneiro, onde casario pendurado na encosta vigia o rio que aqui corre mais rápido e estreito.
O Mosteiro de Lorvão |
A igreja do Mosteiro alberga o maior órgão de tubos construído
em Portugal, que longo e competente restauro devolveu ao instrumento o seu som
e o número de tubos iniciais – quatro mil. Mas para falar de Lorvão e do seu
Mosteiro, precisaríamos com certeza muito mais do que as linhas que dispomos
para escrever.
Lorvão, o casario e o Mosteiro |
Saindo de Lorvão podemos seguir subindo para Sernelha, para depois voltar a descer a Penacova, mas o mais lógico e suave é enveredar novamente em direcção à Rebordosa e continuar a serpentear o rio até à ponte. Junto a esta, na Azenha do Rio, pode encontrar-se uma iguaria de que a vila se orgulha de ostentar o estatuto de capital. Falamos da lampreia. Para os que apreciam, a lampreia é aqui confeccionada de forma sublime.
Finalmente Penacova, a Princesa, que do alto vigia o Mondego, tem origens remotas e difíceis de encontrar no tempo. Referências medievais aludem a um castelo que já não existe. A vila pendura-se no alto, sobranceira ao rio, do Penedo de Castro se avista para jusante o vale fértil, que estreita a partir da Ronqueira e Rebordosa. Para montante os fraguedos alcantilados erguem-se entre uma e outra margem, na vertical, em lascas regulares, tal como lombadas de livros, daí o nome “Livraria do Mondego”.
Finalmente Penacova, a Princesa, que do alto vigia o Mondego, tem origens remotas e difíceis de encontrar no tempo. Referências medievais aludem a um castelo que já não existe. A vila pendura-se no alto, sobranceira ao rio, do Penedo de Castro se avista para jusante o vale fértil, que estreita a partir da Ronqueira e Rebordosa. Para montante os fraguedos alcantilados erguem-se entre uma e outra margem, na vertical, em lascas regulares, tal como lombadas de livros, daí o nome “Livraria do Mondego”.
Penacova vista do "Penedo Alto" |
Vista do café Turismo, Penacova, com o Pastel de Lorvão à direita e Nevada, à esquerda, em plano primordial |
Existe em Penacova um conjunto considerável de moinhos de vento, quase todos desactivados da sua função primaz, a moagem. Na Portela da Oliveira, a caminho da serra do Buçaco, existe perto de uma vintena de moinhos, uns recuperados, outros já avaliados pelo IPPAR, em vias de restauro. Destaque para o moinho Vitorino Nemésio e ainda para o Museu do Moinho.
Moinhos de Gavinhos, Penacova |
Na vertente oposta, a caminho da Serra da Aveleira,
encontramos em Gavinhos outro conjunto considerável de moinhos. É pena não ser
possível observar a sua principal beleza, que consiste sobretudo nas velas
presas aos varais. O santuário mariano aqui construído aparece um pouco desfasado
da paisagem.
Continuando para Coimbra, após a passar Figueira de Lorvão,
Granja e Paradela, antes de entrar na Aveleira, encontramos o mais pequeno e
ultimo conjunto de moinhos.
Vista da Serra da Aveleira |
Mata Nacional de Vale de Canas - Torres do Mondego |
Para terminar, na descida do Picoto dos Barbados ao Tovins, tempo ainda para nos determos sobre Coimbra e
observar o pôr do sol a pintar a paisagem urbana, em conjunto com o
aparecimento tímido de algumas luzes, a adivinhar a noite.
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