Estrada de Penacova no limite do Concelho |
A impossibilidade de pedalar nestes dias cinzentos é substituída pela memória que nos recorda os incríveis passeios de bicicleta que o bom tempo proporciona.
No topo dessas recordações, ainda tão frescas, destacam-se as peregrinações a Santiago de Compostela de bicicleta. Resta-nos desejar o aproximar de dias mais longos para voltar ao pedal, por enquanto apenas dá para projectar o próximo Caminho de Santiago, lá para o Verão.
Na esteira das recordações e a propósito do título que escolhi para o presente artigo, passo a contar uma história de infância. Assim, por inícios da década de setenta, o tráfego na
Estrada de Penacova, N 110, era constituído maioritariamente por bicicletas,
motorizadas e uma meia dúzia de veículos automóveis a somar aos autocarros
de transporte rodoviário de passageiros, na altura vulgarmente designadas camionetas da carreira.
Torres do Mondego na década de 70 |
Muitas vezes a aventura corria mal e
a ideia de dar à perna, balançando o rabo sobre uma "burra" tomada de assalto, era premiada com
valente "paulada" de guarda-chuva direitinha às costas.
“O Pequenito”, era assim que o pequeno grupo de "assaltantes de bicicletas" atrás mencionado apelidava um rapaz, de baixa estatura, que todos os dias percorria de bicicleta o caminho entre Coimbra e Penacova, o rapaz, à época, teria apenas catorze anos ou dezasseis anos, não mais, contudo a reduzida estatura apenas permitia que pedalasse uma pequena
bicicleta de roda 24.
Para a malta, ávida de dar umas
voltitas, nem que fosse só em cima de um pedal ou com as pernas pelo meio do
quadro, ver passar alguém mais novo, de estatura semelhante, montado na sua pequena
bicicleta, era de uma inveja tortuosa. Vai daí, enchíamos a paciência do pobre, repetindo
em coro, pequenito, pequenito, pequenito…, numa implicação cada
vez mais radical e demonstrativa de crueldade infantil.
Era a terrível inveja de não ter uma bicicleta, mas tudo acabou em festa no dia em que o "Pequenito" emprestou generosamente a bicicleta. Num repente todos virámos grandes amigos ... mas nunca deixou de ser "O Pequenito".
À época os jovens felizardos que desfrutavam
de bicicleta ou pertenciam a família abastada, ou ao grupo dos que desde os 13 ou
14 anos já aprendiam algum ofício, abandonando precocemente os estudos para ajudar
na economia familiar.
Como sabemos o mundo mudou, a
galopante evolução das últimas quatro décadas foi transformando
progressivamente o tráfego nas estradas implicando a construção de novas vias e
outras edificações com a inerente transformação geográfica. No entanto, são manifestamente raras as novas vias que salvaguardam a circulação de ciclistas com margem de
segurança, sobretudo nas cidades, onde sempre deveria ter existido a
preocupação de conferir maior amplitude a passeios e outras zonas pedonais, o planeamento apenas foi feito em função da circulação automóvel.
Vista de Penacova, o rio e a estrada encoberta pela vegetação |
Inserida numa paisagem
deslumbrante, que se estende sobre o rio Mondego e encostas sobranceiras, esta
via é hoje muito aproveitada por ciclistas que ao fim de semana ou em passeios
de fim de tarde optam por recrear-se a pedalar.
Numa manhã do mês de Junho de
2007, resolvi substituir o automóvel pela bicicleta na minha deslocação para o
trabalho. Assim, pedalei durante 8 km, distância que separa a localidade de Torres
do Mondego, em Coimbra, da zona da Guarda Inglesa, na mesma cidade, sem grande dificuldade e com muito gozo.
De bicicleta para o trabalho |
Em 2008 e 2009 repeti a
experiência, nos meses da Primavera e Verão, utilizando a bicicleta nas
deslocações para o trabalho. Por razões diversas abandonei esta prática a
partir de 2010 e recomecei timidamente em 2012, para em 2013 entrar novamente numa prática salutar que dá grande gosto.
No seguimento desta experiência
comecei a interessar-me, com maior afinco, pela temática que se prende com a utilização
de meios suaves de transporte e a pretender contagiar outras pessoas, sempre na procura de mais adeptos.
Numa grande cidade de bicicleta, é possível. |
É meu desejo, como seguramente de
muitas pessoas em Portugal, ver nascer bons projectos, no âmbito da
mobilidade sustentável, destinados às nossas vilas e cidades. É neste sentido que, embora não sendo um especialista, em próxima
edição procurarei ir de encontro a casos de sucesso, evidenciando os seus benefícios, para que possam ser seguidos por demais urbes. O fim a prosseguir aponta no sentido de se obter melhores condições de circulação para ciclistas e peões, no fundo contribuir para a melhoria da qualidade de vida
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