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Campo do Gerês |
Terça Feira, 28 de Julho de 2015.
Foi com uma manhã de sol radioso que acordámos na magnífica Pousada de Juventude de Vilarinho das Furnas, situada na aldeia de Campo do Gerês, coração da serra, sobranceira à albufeira de Vilarinho das Furnas e próxima da Mata de Albergaria, não poderíamos ter escolhido melhor local para pernoitar. Assim, para aprimorar uma jornada que se antevia plena de interesse, nada melhor que um dia soalheiro.
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Campo do Gerês |
O pequeno almoço, simples, foi tomado na pousada, de onde partimos para esta terceira jornada, com o pensamento focado nas magníficas belezas naturais que esperávamos encontrar.
A temperatura estava ideal para o início da jornada, apesar do sol indiciar um forte aumento ao longo do dia. Assim, demos inicio às primeiras pedaladas pela aldeia de Campo do Gerês, vaidosa das suas habitações tradicionais, bem recuperadas e com outras em processo de recuperação...
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Vilarinho das Furnas |
Prosseguimos em direcção à albufeira de Vilarinho das Furnas e à Mata de Albergaria para encontrar de novo a Geira, tendo-nos apeado um pouco antes, para tomar café no pequeno bar, próximo do parque de campismo.
Face à inexistência das habituais setas amarelas e da vieira, para nos sinalizar o Caminho, o acaso proporcionou que travássemos conhecimento com o Noé Gomes, da Associação dos Amigos do Caminho de Viana do Castelo, e logo aproveitámos a ocasião para conversar e avivar o espírito do mesmo.
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Mata de Albergaria - Marco Miliário |
Depois deste episódio recomeçamos a pedalar, seguindo pela Mata de Albergaria, ao longo da albufeira de Vilarinho das Furnas ao Rio Homem, pelo estradão da Geira.
A Mata de Albergaria é constituída por vasto arvoredo, sendo uma das manchas florestais mais bonitas e importantes do Gerês. Trata-se de um frondoso bosque onde imperam, sobretudo, espécies arbóreas como o carvalho, castanheiros, entre outras. Os cursos de água são abundantes, rompendo entre pedras e penedos, de onde jorram cascatas, formando pequenas e bonitas lagoas.
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Mata de Albergaria |
O privilégio de respirar o ar fresco do bosque, aliado ao prazer de desfrutar da magnífica paisagem, impeliu-nos a rolar de forma lenta, procurando tirar o máximo partido deste trajecto, coincidente com a Via Nova Antoniana. A única nota dissonante neste troço deveu-se à habitual falta de respeito de um ou outro condutor, que não se coibiu de circular a velocidade superior à permitida, levantando uma enormidade de pó, enfim...
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Rio Homem - Queda de água e lagoa |
Embora pedalássemos a um ritmo muito lento, aproveitando o idílico cenário natural, mesmo a baixa velocidade chegámos rapidamente à confluência do Rio Maceira com o Rio Homem, onde nos detivemos para admirar e captar imagens dos bonitos recantos encontrados.
O local é de eleição, tanto para passear pelos trilhos, como repousar junto dos muitos lagos existentes, dotados de águas límpidas e frescas.
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Ponte de madeira sobre o Rio Maceira |
O plano para a jornada não permitia que nos alongássemos muito a desfrutar dos primeiros momentos, na medida em que outros locais haveria para conhecer. Assim, embora os muitos cursos de água que por aqui proliferam convidassem a um mergulho, era preciso prosseguir, se bem que em ritmo mais lento, procurando desfrutar o caminho.
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Base da antiga ponte em pedra |
A dureza da jornada do dia anterior tinha deixado as suas marcas, assim por muito que pretendêssemos optar por seguir por um trilho mais interessante, seguindo pela margem esquerda do Rio Homem, cruzando a novel ponte de madeira que sucedeu à antiga, em pedra, construída no tempo dos "Filipes". da qual apenas resta seu assentamento, conforme se pode ver na imagem.
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Mata de Albergaria |
Embora o trilho pedonal até à fronteira da Portela do Homem fosse possível de fazer de bicicleta, com maior ou menor dificuldade, o facto é que não estávamos em condições de poder arriscar, em função da ameaça da véspera, traduzida nos inúmeros furos ocorridos. Assim, foi mais prudente seguir pelo estradão de terra até apanhar a estrada nacional que liga a vila do Gerês à Portela do Homem, continuando, porém, o nosso caminho pela Mata de Albergaria.
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"Corga da Fecha" e Via Nova. |
Fomos prosseguindo em ritmo lento, para sentir o fresco da mata e melhor absorver a singularidade do trajecto, não evitámos a rápida chegada à fronteira da Portela do Homem. Transposta a fronteira, duas questões se colocaram, prosseguir pela Geira, ou seguir pela estrada, na vertente oposta, para mais rapidamente chegar à estância termal de Torneiros.
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Torneiros - rio Caldo |
Optámos pela última, a fim de melhor desfrutar das águas quentes do rio Caldo, embora fosse mais aliciante continuar pela Geira até Lobios. A ausência de sobressalentes e o receio que algo parecido com a véspera pudesse acontecer, determinou que optássemos seguir caminho pela estrada em asfalto.
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Águas quentes - rio Caldo |
Mas o facto é que nem tudo são revés, e rolar por uma estrada com bom piso e a descer, com a brisa a bater no rosto, é sempre agradável para quem anda de bicicleta. A descida foi interrompida para observar a "Corga da Fecha", a partir do miradouro da vertente oposta, mas com o Inverno tão seco tornou-se quase impossível descortinar a água.
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Tanque de águas quentes |
Torneiros, é o nome da primeira povoação galega que se encontra no sopé da encosta. Na véspera um dos oradores no terraço do café, em Covide, falava da sua grande importância na região, na época do contrabando, mercê da localização próxima da fronteira, local de paragem obrigatória para contrabandistas.
Poucos metros à frente, em Bubaces / Torneiros e as quentes águas do rio Caldo, local bastante frequentado quer por portugueses quer por galegos, uns procurando as águas quentes do rio, como cura para as suas maleitas, outros apenas para usufruir desta pequena maravilha da natureza.
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"Rio Limia" |
Assim, aproveitámos na plenitude uma boa hora de relaxe nas águas quentes, uma zona de banhos bem cuidada e harmoniosamente enquadrada no vale. Depois de retemperados seguimos para Lobios, onde almoçámos no "Cubano", o meu restaurante predilecto nestas paragens.
Pelo caminho ainda houve lugar para entabular alguns dedos de conversa com um simpático casal de cicloturistas belgas que pedalavam à descoberta do Gerês. A paragem no Cubano acabou por ser relativamente breve, apenas o tempo necessário para uma refeição ligeira.
O Caminho Natural Interior de São Rosendo - Troço Porto Quintela - Celanova.
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Capela visigótica de São Torcato, Séc. VII |
De Lobios podíamos ter optado por apanhar a Via da Prata, seguindo por Allariz e Ourense, no entanto optámos seguir pelo Caminho de São Rosendo. O Caminho de São Rosendo, desde Quintela de Leirado até Ourense, constitui parte da recuperação de 225 km de percursos pedonais que ligam Porto Quintela, mais propriamente Santa Comba, próximo de Bande, a Foz, em Lugo, uma derivação da Via Nova, de Braga até Astorga. O nome São Rosendo foi atribuído, por se tratar de um Santo conhecido como defensor e pacificador da Galiza.
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Bande - "Acampamento Aquis Querquennis" |
Durante o Caminho pudemos conhecer magníficos exemplos do património religioso, nomeadamente o templo visigótico de Santa Comba, a igreja de Bande e assim como o Mosteiro de São Rosendo, em Celanova.
Em Porto Quintela, fizemos nova pausa para refrescar as gargantas no café/Bar situado na margem da albufeira das Conchas, onde se encontra também a estação arqueológica do antigo acampamento romano "Aquis Querquenis", construído pela mesma época da Via Nova, em meados do século I até inícios do século II. Pensa-se que com o fim de exercer vigilância sobre a referida Via XVIII,
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"Acampamento Aquis Querquennis" |
Em boa parte motivado pelo forte calor que se fazia sentir, mas também pelas constantes pausas ao longo da etapa, com as inerentes repercussões na manutenção de um ritmo mais forte, o cansaço começou a adensar-se.
Após a paragem em "Os Baños" na albufeira das Conchas, onde se situa a estação arqueológica atrás mencionada, o tempo que dispúnhamos para chegar a Celanova era bastante apertado, pelo que optámos ir alternando entre o Caminho de São Rosendo e a via principal para Ourense.
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"Acampamento Aquis Querquennis" |
Por outro lado as constantes e intermitentes subidas iam causando os seus estragos, contudo lá chegámos ao Alto do Vieiro, 850m. A partir daqui, embora para Celanova ainda faltasse uma dezena de quilómetros, o trajecto foi rápido e a grande velocidade, pois a descida foi bastante favorável.
Enquanto o José Botelho completava o bonito troço do Caminho de São Rosendo, entre o Alto do Vieiro e Celanova, encetei, na companhia do Joaquim Tavares, uma veloz descida, entrando nas proximidades de Celanova a uma velocidade que ultrapassou os limites do recomendável.
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Fonte ao fundo |
Nesta bonita e pacata vila felizmente que contámos com a ajuda, bastante prestimosa, do agente da polícia municipal. Desdobrou-se em telefonemas até conseguir uma residência para pernoitarmos, uma vez que a oferta de alojamento é bastante escassa.
Celanova é uma pequena vila, que se desenvolveu em torno do Mosteiro de São Rosendo, um dos exemplos mais destacados do denominado barroco galego. O Mosteiro, com os claustros e a igreja barroca, foi começado a construir em meados do século XVI, embora o grosso da edificação decorresse no século XVII.
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Frontaria clássica do Mosteiro de San Rosendo. Foto Joaquim Tavares |
É um excelente cartão de visita da cidade e da região. Terminámos o dia passeando tranquilamente pelas ruas de Celanova, desfrutando da excelente gastronomia galega. Para a ceia saiu um chispe maravilhosamente confeccionado...
Num dia de verdadeiro cicloturismo, desde que a jornada começou, em Campo do Gerês, percorremos 70,55 km, face ao elevado número pausas, de vária ordem, quase se pode considerar uma proeza.
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