Último dia de Caminho, acordámos cedo, pelas 06:00, o objectivo da jornada, para além de chegar a Compostela, seria o de conseguir alojamento em Redondela, onde no dia seguinte apanharíamos o comboio até ao Porto e daqui a Coimbra.
Àquela hora madrugadora, foi preciso andar perto de 10 km para encontrar a primeira localidade, Dozón, para a primeira refeição do dia. É fundamental para quem viaja deste modo as refeições bem repartidas, bem como a hidratação. Assim, depois de alguns quilómetros a pedalar em jejum, o pequeno almoço soube a pouco, embora tivesse chegado em boa hora.
Em Lalin, enquanto o Aguiar e o Joaquim continuaram pelo caminho, tive necessidade de procurar una tienda, a fim de substituir o pneu da roda traseira e mais umas pequenas afinações na bicicleta. Enquanto aguardava, decidi fazer uma incursão a pé pela cidade. Como ainda faltava muito para pedalar até Santiago, achei por bem reforçar o pequeno almoço.
Alvorecer em Oseira |
A pequena cidade de Lalín , à semelhança da Mealhada, em Portugal, confere ao porco as honras de estátua, em praça pública. A frequente utilização de carne suína na culinária, com especial destaque para o cocido, é um hábito nestas paragens.
Parte do itinerário até Compostela, processa-se paralelo à estrada N525. No entanto o Caminho faz-se em grande parte por frondosos bosques, agradáveis de percorrer. Nesta altura do ano o afluxo de peregrinos é maior, e, à medida que nos aproximamos do final maior número de pessoas se encontram.
Neste último dia cada um fez o seu Caminho, como me encontrava praticamente no limite das minhas capacidades era importante gerir muito bem o esforço, para chegar a bom porto. Depois de Lalín, sem que percebesse, acabei por passar pelos meus amigos, enquanto procediam a uma pausa.
Pouco depois de Silleda, porque já era hora, parei num pequeno restaurante familiar. Fui atendido por uma simpática senhora, que acumulava as funções de cozinheira e empregada de mesa, apenas com a ajuda de um jovem rapaz e lá ia tomando conta de tudo. O meu desejo era comer uma sopa de legumes e uns tapas. Como não tinha sopa de legumes, foi-me sugerida uma favada, algo semelhante à nossa sopa da pedra, embora um pouco mais leve. Aceitei o conselho, mas pedi primeiro que me fosse servida uma pequena porção de tortilha. Para acompanhar o café, foi-me oferecida uma saborosa fatia de pão de ló, que aceitei e muito agradeci.
A pausa para refeição foi aproveitada para relaxar e alguns dedos de conversa com os irmãos galegos. Apenas faltariam cerca de 30 km para Compostela, contudo as dores musculares já me iam apoquentando.
Era altura para pôr novamente a bicicleta no Caminho Santiago. Em Puente Ulla, no exterior da igreja de Santa Maria Magdalena, um numeroso grupo de peregrinos aproveitava a sombra para descansar.
Após Puente Ulla, foi preciso vencer mais algumas subidas. Perante a proximidade da chegada, parecia que as forças tinham voltado, e as dores muscular pareciam ter desaparecido.
No albergue de Vedra procurei o reabastecimento de água, que não chegava a pouco mais que umas gotas. Procurei passar despercebido no albergue, mas logo fui abordado por uma jovem castelhana perguntando se procurava ficar no albergue, informando que o mesmo já estava lotado, mostrou curiosidade para saber de onde vinha, perguntas recorrentes entre quem viaja, após mais alguns dedos de prosa desejámos mutuamente um bom caminho.
Por fim a vista sobre as torres da catedral, uma rua em calçada, a descer, levou-me à entrada de Compostela. A enorme sede que levava, foi saciada com a fruta comprada mal entrei na urbe. Exagerei ao encher ainda mais os alforges com ameixas, pêssegos, uvas e bananas.
Depois de me misturar com a multidão, entrei na Plaza de Obradoiro descendo perigosamente, de bicicleta, as escadas adossadas à catedral.
Antes das tradicionais fotos na praça, corri à Oficina do Peregrino, a fim de solicitar a aposição do selo na credencial e obter a Compostellana.
A dois dias de completar 50 anos de idade, cumpri a última etapa, desde Santa Maria de Oseira, 101,71km e 594 km desde a cidade de Coimbra. O esforço valeu a pena, a experiência vivida foi inteiramente gratificante.
Uma menção especial aos amigos José Aguiar e Joaquim Tavares, o meu agradecimento pela paciência, sobretudo nas ocasiões em que tiveram de esperar por mim. Foi a primeira vez que fiz o Caminho em deploráveis condições físicas, sobretudo tendo em conta que o Caminho Português, por terras do interior, apresenta um grau de dificuldade superior relativamente a vias de peregrinação mais litorais, os designados Caminho Central e pela Costa.
Após a obtenção da Compostellana, seguimos para a estação ferroviária, onde apanhámos o comboio para Redondela, aqui chegados, de imediato procurámos lugar no albergue de peregrinos, que se encontrava lotado. A solução foi dormir num pavilhão gimnodesportivo local, onde já se encontravam um considerável número de portugueses, a caminho de Compstela.
A partir das 22:00 horas não era permitida a entrada no pavilhão, assim tivemos que nos despachar para a refeição da noite, na esplanada de uma pastelaria que encontrámos e onde pudemos escolher rodízio de tarte galega, de excelente degustação, regressando logo de seguida ao pavilhão para tentar dormir.Na manhã seguinte rumámos de comboio até ao Porto e daqui a Coimbra.
Igrexa de Santiago de Taboada |
Neste último dia cada um fez o seu Caminho, como me encontrava praticamente no limite das minhas capacidades era importante gerir muito bem o esforço, para chegar a bom porto. Depois de Lalín, sem que percebesse, acabei por passar pelos meus amigos, enquanto procediam a uma pausa.
Igreja de São Martinho Dornelas, Silleda |
Grupo de peregrinos em Taboada - Foto Joaquim Tavares |
Ponte sobre o rio Ulla |
Igrexa de Santa Maria Magdalena, Puente Ulla |
Muito próximo de Compostela, o verde que domina a paisagem galega |
Peregrino a Santiago |
Ao fundo, quase imperceptíveis, as torres da Catedral de Compostela. |
Joaquim e Aguiar à saída da Oficina do Peregrino |
À chegada, na Praça do Obradoiro - Foto Joaquim Tavares |
José Aguiar, António Carvalho e Joaquim Tavares |
A magnificente Catedral de Santiago de Compostela |
A partir das 22:00 horas não era permitida a entrada no pavilhão, assim tivemos que nos despachar para a refeição da noite, na esplanada de uma pastelaria que encontrámos e onde pudemos escolher rodízio de tarte galega, de excelente degustação, regressando logo de seguida ao pavilhão para tentar dormir.Na manhã seguinte rumámos de comboio até ao Porto e daqui a Coimbra.
1 comentário:
Após uma longa viagem não deve haver nada melhor do que comer um delicioso almoço Espero que você tenha feito a minha sempre que eu passar esse tipo de coisa que eu gostaria de ir para comer algo delicioso para kosushi
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