2.º dia, do Fajão a Alvoco da Serra
Sala transformada em albergue |
Com a sala Fajão-Cultura, da
Junta de Freguesia, transformada num autêntico albergue, à imagem dos Caminhos
de Santiago, a noite antevia-se animada, aqui e ali abrilhantada por música de
percussão original e de bom nível, com artistas exímios na execução.
Fajão - casario em xisto |
Na verdade não foi fácil tranquilizar
os rebeldes do pelotão, no entanto a fadiga acabou por falar mais alto, e, mesmo
com a persistência de alguns ruídos, a quietude da noite instalou-se quase por
completo.
Pouco tempo depois de surgirem os
primeiros raios de sol, prepararam-se as bicicletas com os alforges e seguimos
em romaria até ao único café aberto na localidade.
Fajão - Aldeia de Xisto |
O que se pedia para a segunda
jornada, era, no mínimo, que igualasse a excelência da primeira. O sol radioso que
se fazia sentir, perspectivava um dia magnífico. As coisas não começaram por
correr muito bem, com o pequeno-almoço a decorrer com alguma lentidão, foi mesmo preciso dar ajuda à simpática Senhora, septuagenária,
proprietária do único café aberto naquele Domingo de manhã.
Antes de partirmos importava
ainda conseguir algumas fotos da bonita povoação do Fajão, especialmente do seu
casario, maioritariamente em xisto.
A vieira no penedo do Fajão |
Finalmente o início da 2.ª
jornada, com a subida em asfalto a pedir algum empenho. À medida que nos
afastávamos, aldeia que ficava para trás, acomodada sobre a encosta, fazia
lembrar um presépio. Interessante, pela sua dimensão e localização, é uma
enorme vieira que preenche parte de um enorme penedo, a fazer lembrar os
Caminhos de Santiago. Na verdade o conhecido geógrafo árabe, da Idade Média, Al-Idrisi, assinalava uma das
rotas de Santiago a passar próximo desta sub-região.
A predominância da urze na vegetação |
Depois de pedalarmos cerca de 4 km por uma via em
asfalto, enveredámos por um fantástico estradão de terra, com as encostas
pintadas de roxo aqui e ali mescladas com flores amarelas, que nos iria levar
ao ponto mais alto do Açor, o Pico do Cebola. Em qualquer dos pontos da serra a
vista é sublime. Daqui pode avistar-se a Estrela, a Lousã e o Caramulo.
A subida, suave, permitia pedalar
a bom ritmo. Quando finalmente encontrámos o cruzamento para o “Cebola”, o caso
mudou de figura. Pela frente uma terrível subida, com muitas pedrinhas soltas e
uma percentagem de inclinação bastante assinalável.
Subida ao Pico do Cebola |
Contudo todos cumpriram a sua
parte, e, com maior ou menor esforço, o destaque vai inteirinho para o pelotão,
que subiu compacto, excepção feita a dois elementos, que no entanto não se
atreveram a deixar a equipa.
O prémio da subida foi, sem
dúvida, a satisfação da chegada ao ponto mais alto. A captação de imagens que permitem
lembrar ou perpetuar mais tarde os momentos inesquecíveis, são instantes em que
nos sentimos recompensados de todo o esforço dispendido.
Junto ao marco geodésico 1418m |
Seguiu-se uma descida alucinante
que teria o seu termo na pequena e pitoresca aldeia de Sobral de São Miguel. Como
não fui dos primeiros a partir tive oportunidade de ver os meus companheiros a
rodar em fila, a uma velocidade incrível, apenas abrandando no momento de subir
o pescoço de uma ou outra elevação. Contudo, logo que coloquei a bicicleta no
caminho e me senti empurrado a pedalar, não me apeteceu abrandar nas pequenas
elevações e resolvi imprimir um ritmo forte, para manter a velocidade.
Açor |
Não há dúvida que sentir o vento
a favor é extremamente agradável, e assim fomos, rolando a bom ritmo pela cumeeira,
até começar a descer para Sobral de São Miguel, internando-nos por um pequeno
bosque de farta vegetação, por um percurso onduloso, ao qual resolvi responder
com pouco travão, só ouvindo o barulho de pedras a serem projectadas.
Sobral de São Miguel |
Casario em xisto |
Absorvido neste percurso,
tortuoso e rápido, sem me dar conta,
cheguei de forma inesperada à bonita e acolhedora povoação de Sobral de São
Miguel, onde parecia que já nos aguardavam o Virgílio e a Carla.
De facto, mal cheguei, perguntei
a um grupo de pessoas que aproveitavam o Domingo soalheiro para trocar uns
dedos de conversa, onde poderia encontrar sítio para comer. Respondeu-me o Virgílio
que teria de ser na povoação mais próxima, 8 km a subir.
À espera do almoço |
Perante o espectro de um bom
empeno, que já se adivinhava, eis que o Virgílio
e a sua companheira Carla, resolvem salvar o pelotão, oferecendo-nos na sua
moradia, junto ao rio, aquela que viria
a ser uma excelente refeição. Os breves momentos que aqui passámos ficam
eternizados pela marca de generosidade e lição de humildade dada por esta gente
de bem, pessoas que labutam com estoicismo no seu dia a dia, e que desta forma,
simples e desinteressada, nos ofereceram o que é seu, sem pedir nada em troca.
"A Pequenina" |
E foi assim, sentados à mesa,
junto ao rio, que disfrutámos da generosidade da família destes novos amigos. E,
caso raro até a “Pequenina” e seu marido, um casal de suínos castiços, desceram
umas escadinhas e vieram lá da outra margem confraternizar connosco. Fantástico!
Em confraternização |
A história do percurso de Sobral
para Alvoco da Serra, quase ficou ofuscada, perante a singularidade dos
momentos atrás descritos. A paisagem continuou na linha da anterior, com a
novidade de seguirmos por estrada em asfalto.
Chegada a Alvoco da Serra |
Alvoco da Serra |
O dia não podia terminar sem uma
incursão pela povoação, que aconteceu depois do jantar, nas instalações do
Centro Cultural e Recreativo de Alvoco.
Sem comentários:
Enviar um comentário