Vista do Castelo de Montemor-O-Velho, sobre os campos de arroz |
"Do Castelo à Boa Viagem", é a última da trilogia de crónicas em redor do Mondego. Começa em “Monte-mayor”, mais
propriamente do alto do Castelo que domina os campos outrora bem mais alagadiços,
no tempo em que o rio tinha o cognome de “Basófias” e no Inverno transformava
os campos agrícolas num mar de água que rodeavam pequenas ilhas, como a Ereira, de todas a mais fustigada.
As várzeas alagadiças são hoje mais controladas, face às obras que transformaram o rio, retirando sentido um pouco o sentido ao nome.
As várzeas alagadiças são hoje mais controladas, face às obras que transformaram o rio, retirando sentido um pouco o sentido ao nome.
Montemor-o-Velho,
com fortes raízes medievais, com
expoente no Castelo, sem dúvida o seu ex libris, é uma vila com um património
histórico, arquitectónico e cultural bastante rico. A gastronomia é igualmente
uma mais valia, com raízes históricas, sobretudo no que à doçaria conventual
diz respeito. São célebres as espigas-doces que rivalizam com pastéis de
Tentúgal e Queijadas de Pereira.
Mas
a rota escolhida impunha que seguíssemos para a Figueira da Foz pela margem
esquerda do Mondego.
Foi
com alguma mágoa que preterimos os caminhos mais sinuosos que atravessam, Santo
Amaro da Boiça, onde se situa a importante Quinta de Fôja, Maiorca, onde dois
edifícios mais imponentes se destacam do aglomerado habitacional, a Casa da
Baía e o paço dos viscondes de Maiorca – prosseguindo pelas serras de São Bento
e das Alhadas, com a Boa Viagem no horizonte.
Depois
de serpentear pelo aglomerado urbano da vila, que conta também com edificações
interessantes do períodos seiscentista/setecentista, impunha-se uma pausa no Largo
dos Paços do Município, para saborear uma deliciosa espiga de Montemor. Seguimos
depois para a pista de remo, onde está
instalado um excelente centro de alto rendimento, continuando pelos estradões
dos campos agrícolas, em direcção à ponte de Alfarelos.
As
cegonhas, verdadeiras companheiras de viagem, tal é a constância da sua
presença ao longo dos campos, empoleiradas nos postes ou nas árvores, são um
motivo de distracção, traduzido pelo ensurdecedor ruído que habitualmente provocam
com os bicos. De quando em vez uma ou outra garça ensaia elegantes voos.
O
trajecto ao longo do rio é agradável, sobretudo para quem não se dá bem com
percursos mais acidentados. O percurso Coimbra-Montemor-Figueira da Foz, numa
extensão de aproximadamente 50 km, pode efectuar-se pela margem direita do rio,
numa estrada de betuminoso paralela ao canal de rega, ou sob uma das motas.
Contudo este itinerário acaba por ser enfadonho, sobretudo no troço entre Montemor e Figueira.
Mota do rio, na margem esquerda |
A
opção de prosseguir pela margem esquerda desde as imediações de Alfarelos parece-nos
muito mais interessante. Após a passagem sob a ponte de Alfarelos, logo viramos
à direita e rolamos por um estradão que passa mesmo ao lado do apeadeiro de
Verride, localizada no alto de uma colina, de onde se disfruta excelente
perspectiva dos campos.
Mesmo
junto à linha de caminho-de-ferro Coimbra-Figueira, em frente à Ereira, que se
situa na margem oposta, encontramos o antigo Convento de Almiara, com as suas
paredes em ruínas, outrora residência de verão dos frades crúzios de Santa Cruz
de Coimbra.
Pela
sua localização e numa óptica de recuperação do património histórico edificado,
esta edificação seiscentista monumento merecia acolher uma pousada de
juventude.
O seu eixo central relativamente a Coimbra e Figueira, a proximidade a Montemor-o-Velho e localidades vizinhas, bem como a localização próxima de transporte ferroviário, entre demais argumentos, mais que justificam a ousadia para a sua edificação naquele espaço em ruinas, com francas hipóteses de sucesso.
O seu eixo central relativamente a Coimbra e Figueira, a proximidade a Montemor-o-Velho e localidades vizinhas, bem como a localização próxima de transporte ferroviário, entre demais argumentos, mais que justificam a ousadia para a sua edificação naquele espaço em ruinas, com francas hipóteses de sucesso.
Nos
meses primaveris, o verde domina por completo a paisagem dos campos, o cultivo
do arroz marca uma paisagem onde água alaga os férteis campos do Mondego,
pequeninas flores silvestres onde o branco pontifica, brotam espontaneamente da
camada vegetal predominantemente verde. Por todo o Mondego Litoral pode
rolar-se sem grandes obstáculos, com uma grande diversidade de percursos à
escolha, lamenta-se não estejam devidamente assinalados e divulgados.
Continuando
a avançar, após descrever a grande curva da Carrapatosa, o Mondego bifurca-se
em dois braços, o maior banha Vila Verde, Salmanha, Fontela e a Figueira. O
outro, mais a sul, forma o rio de Lavos e recebe o rio Pranto ou Carnide.
No
meio, entre os braços do rio, situa-se a Morraceira, ilhota de aluvião, que nos
primórdios da monarquia era utilizada para a agricultura e num passado mais
recente foi ocupada por salinas.
Se
motivos de interesse turístico existem espalhados pelo corredor Coimbra - Figueira,
A envolvente paisagística da margem esquerda acaba por justificar plenamente a
aposta.
Após
a passagem pela Quinta do Canal, propriedade de grande dimensão e importância,
do ponto de vista agrícola, situada no Alqueidão, encontrámos as ruinas de uma
ponte romana ou medieval sob o rio do Pranto.
A curiosidade
de conhecer a quinta por dentro ia saindo cara. A ousadia de invadir passagem ou
propriedades particulares não é lícita, mesmo que por boas intenções, e não é
aconselhável, sobretudo face à existência de cães de guarda pouco amistosos. O
que não passou de um valente susto, podia ter redundado em graves consequências
para a nossa integridade física.
No
encontro do rio do Pranto com o Mondego, está localizado o Moinho das Doze
Pedras. Trata-se de um moinho de marés, desactivado, que se desenvolve
longitudinalmente no sentido norte-sul, e apresenta planta rectangular, definida
por grossas paredes de pedra. A cobertura apresenta um telhado de duas águas.
Aproveitando
o desnível entre a praia-mar e a baixa-mar, uma caldeira era cheia através da
comporta exterior e o sistema entrava em funcionamento, accionada talvez por
meio de um sarilho.
Sob
o cais existente junto ao Moinho de Marés, descansámos um pouco e aproveitámos
para um pequeno reabastecimento.
Afastando-nos
um pouco do braço sul do Mondego, cruzamos o rio do Pranto e direccionamo-nos
para Lavos, por entre os campos, onde a faina agrícola decorre entre Maio e
Setembro, na direcção da povoação sob o nome de Armazéns de Lavos, onde quem
gosta pode sempre apreciar um prato com enguias.
A
partir dos Armazéns iniciámos a última parte do passeio, percorrendo a Rota das
Salinas, caracterizada pela paisagem espelhada, onde os marnoteiros escasseiam,
em função do recrudescimento da actividade salinar.
Por
entre as salinas, verificamos a existência de percursos pedestres, devidamente
assinalados. Depois de pedalar pelos trilhos assinalados, dirigimo-nos para a
ponte da autoria de Edgar Cardoso, passando sobre o estuário para a margem
direita.
Vale
a pena parar no alto da ponte para fruir da paisagem e ter uma perspectiva da
sua extensão geométrica, de marinhas em talhos rectangulares, onde ainda
cintilam cristais de sal, rareando cada vez mais. O panorama sobre a Figueira e
a Serra da Boa Viagem não é menos empolgante.
Na
Figueira da Foz, podemos pedalar por uma extensa ciclovia que começa junto à
estação ferroviária e se estende até ao Cabo Mondego. Subir do Cabo Mondego até
à Serra da Boa Viagem é imperativo, pela beleza do trajecto. Depois de sentir a
brisa marítima, a subida à serra faz-se sem grande dificuldade. Fruir da
perspectiva paisagística bem do alto da mesma, depressa apaga qualquer sinal de
cansaço.
Finalmente
o regresso a casa, como o final do dia estava próximo foi apenas necessário pedalar
de regresso até à Estação da Figueira da Foz, onde uma viagem de comboio nos
esperava para o regresso a Coimbra.
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