Na presente edição optámos por ir à descoberta de percursos cicláveis
pelos campos do Mondego, intercalando natureza e história, numa viagem entre
Coimbra e a Figueira da Foz, optando no regresso por recorrer aos comboios da
CP.
Da grande zona ribeirinha que é a
grande planície aluvial, de grande riqueza agrícola, vulgarmente designada por
Campo ou Campos de Coimbra e que compreende parte das sub-regiões de Soure e
Montemor-o-Velho, até ao Mondego encontrar a foz, onde, para norte e para sul,
nasce o pinhal que se desenvolve pelas frondosas matas de Quiaios, de Lavos e
do Urso, e as praias da Figueira e da Tocha, a nossa viagem de hoje irá terminar
na vila de Pereira.
Com o Mondego por referência, o
percurso iniciou-se no Choupal, mata plantada no século XIX para impedir o
contínuo amontoar de areias nos terrenos de cultivo, e estendeu-se na visita ao
Palácio de São Marcos, nas imediações de São Silvestre, bem como pela passagem
pelas vilas de Ançã, Tentúgal e Pereira.
Choupal de São João do Campo |
A Barragem da Aguieira e o
Açude-Ponte de Coimbra, construídos nas décadas de setenta e oitenta do século
passado, retiraram um pouco o sentido ao epíteto de Basófias, por nele correr
pouca água no Verão e transbordar das margens no Inverno. Na baixa coimbrã,
quando o Mondego galgava as margens, o acesso a algumas ruas apenas era
possível de barco.
Voltando ao Choupal, mata de
poetas e doutores, também de amores e desamores, perdido um pouco a sua áurea
romântica do passado, é hoje local predilecto dos conimbricenses para a prática
de desporto, seja a correr, caminhar ou a andar de bicicleta.
Deixando para trás a mata com os
seus trilhos e recantos infindáveis, seguimos beira rio, após poucos quilómetros
percorridos derivamos para o interior dos campos agrícolas até ao Rio Velho ladeado por novo choupal, entre São João do
Campo e São Silvestre, por onde se circula agradavelmente.
Para chegar ao antigo Convento de São Marcos, passamos obrigatoriamente na vila de São Silvestre, de origens
ancestrais, que iniciou contudo o seu desenvolvimento apenas nos finais do
século XV, por influência da proximidade do Convento.
Ao cimo da povoação encontramos um
solar brasonado, de construção setecentista. Remodelações efectuadas no
edifício, no decorrer do século XX, tornaram-no numa sombra do passado,
claramente distorcido, relativamente ao seu carácter original. Mantém-se apenas
a porta da entrada, rasgada por vão de verga curva, com cornija.
Distando umas centenas de metros
da povoação, o Mosteiro de São Marcos é obra de vulto na região, não
encontrando paralelo.
Tendo começado a ser construída
no século XV, da igreja inicial quase nada ficou. As obras iniciaram-se cerca
de 1452, acabando por volta do decénio de 80, sabe-se que foi seu arquitecto
Gil de Sousa, que já construíra o convento de Penha Longa.
Palácio de São Marcos, sobranceiro aos campos |
O Mosteiro de São Marcos, é, sem dúvida, a obra de arquitectura com linhas mais elegantes e de erudição que encontramos nos campos do Mondego.
De São Marcos, é possível
apreciar a deslumbrante paisagem dos campos agrícolas, bordejados por pequenas
colinas, que raramente ultrapassam os 100 metros acima do nível do mar e se
estendem no horizonte.
Os Campos de Coimbra, vista de São Marcos |
Mas Tentúgal tem mais que pastéis e queijadas. O seu conjunto de casario, com sardinheiras encostadas às paredes e um notável conjunto de edifícios dos séculos XVI a XVIII, dão à povoação um carácter de nobreza que se percebe, muito porque as construções modernas pouco desvirtuaram a herança do passado.
As referências mais antigas à
vila de Tentúgal datam da primeira reconquista cristã, nos anos de 954 e 980. O
facto de aqui ter nascido o conde D. Sesnando, primeiro governador de Coimbra
depois da reconquista de 1064, confere-lhe notoriedade. D. Sesnando era, ao
mesmo tempo, senhor de metade da vila, por herança de seus pais, e desempenhou
papel bastante importante na reconquista.
Tentúgal, casa setecentista |
Mas não podíamos deixar Tentúgal resistindo
aos deliciosos pastéis, até porque é importante a reposição de açúcar, assim a
combinação de um pastel com o café foi inevitável.
Encontramos na vila de Pereira um
conjunto de edificações civis e religiosas de assinalável interesse das quais
se destaca a igreja da Misericórdia e a casa do celeiro dos Duques de Aveiro,
mas mais do que casas brasonadas, a gentes da vila orgulham-se de ostentar como
verdadeiro brasão o título de “lavradores”
que davam a si próprios em virtude do seu labor pelo trabalho agrícola e
de pastorícia.
Pereira, igreja da Misericórdia |
Terminamos com uma incursão pelo
Paul de Arzila, irrigado pela Ribeira de Cernache. O Paul está classificado
como Reserva Natural. São muitas as espécies raras, em vias de extinção, que
encontram abrigo neste habitat húmido. Lá se podemos encontrar aves como a garça
vermelha, a garça real, a cegonha branca, entre outras.
O regresso fez-se de comboio, de
Arzila até à estação de Coimbra B, com as bicicletas estacionadas no
compartimento que lhes está adstrito, uma viagem calma, rápida e confortável
nos comboios da CP, facto que deve ser elogiado, lamentando-se apenas que tal
não se verifique nas linhas do Douro e Minho.
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